"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

IRAQUE EM DESINTEGRAÇÃO

Numa ofensiva militar de velocidade comparável à da desastrosa invasão americana de 2003, o grupo terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) precisou de apenas alguns dias para tomar Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, e outras regiões no norte e no oeste do país.

A violenta ação do EIIL acelera a fragmentação territorial do Iraque e aproxima o país de mais um banho de sangue fratricida.

Evidenciam-se, assim, os limites da ocupação unilateral promovida pelos EUA e que, em nove anos, foi incapaz de aplacar as tensões sectárias do Iraque --pelo contrário, aprofundou-as, abrindo novo front para o terrorismo islâmico.

Maioria da população (pouco mais de 50%) e no comando do governo nacional, os xiitas controlam o sul, rico em petróleo, e Bagdá. Com pouca voz na capital, facções sunitas (25% do país) lutam, com estratégias distintas, para aumentar o controle a norte e oeste.

Há ainda os cerca de 20% de curdos, que gozam de relativa autonomia no nordeste iraquiano. Nesta semana, um grupo se aproveitou do caos para tomar a cidade multiétnica de Kirkuk, no norte.

Não se trata de fenômeno restrito ao Iraque. O EIIL é uma das principais forças da guerra civil contra o ditador da Síria, Bashar al-Assad. A organização tenta criar seu próprio Estado numa região entre esses dois países e já controla um território do tamanho da Jordânia, com população de 6 milhões.

Seria simplismo, porém, atribuir o avanço do EIIL à guerra síria. No Iraque, o radicalismo sunita cresce sobretudo por causa da asfixia política que o premiê xiita, Nuri al-Maliki, impõe às minorias.

Nesse cenário complexo, o presidente dos EUA, Barack Obama, tem escolhas difíceis pela frente. Herdeiro da invasão promovida 11 anos atrás por George W. Bush, resiste a um novo engajamento militar --as tropas americanas deixaram o país em 2011.

Ao mesmo tempo, é pressionado a agir. Relatos dão conta de que milícias se apoderam de armamento americano confiado às frágeis forças iraquianas. Há, além disso, a hipótese de surgir novo Estado fundamentalista no Oriente Médio.

As opções da Casa Branca, contudo, são limitadas. A própria Guerra do Iraque evidencia que, afora o elevado custo econômico e humano (mais de 4.000 americanos morreram no confronto), ações militares unilaterais tendem a ser contraproducentes.

 
16 de junho de 2014
Editorial Folha de SP

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