O impacto da economia mundial para explicar o bom momento vivido na era Lula é superestimado
Há intenso e importante debate sobre os fatores que causaram a piora do desempenho da economia brasileira no governo Dilma, que deve fechar seu quadriênio com crescimento anual médio de 2%, em comparação a 4% de Lula.
Vários analistas, de diversas colorações ideológicas, enfatizam o bom momento vivido pela economia internacional no período conhecido pela grande moderação, de 2002 até 2008, como o maior responsável pelo bom desempenho da economia brasileira no governo Lula.
Como já expressei em outras oportunidades neste espaço, penso que o impacto da economia mundial para explicar o bom momento vivido no período Lula é superestimado. Certamente contribuiu, mas está longe de ser toda a história.
Uma evidência de que a situação internacional com Lula foi boa, mas não excepcional, encontra-se no quadro nesta página.
Representamos nela a evolução dos termos de troca de 1995 até março de 2014. As linhas horizontais representam as médias vigentes ao longo dos oito anos do governo FHC e Lula e no quadriênio incompleto de Dilma.
Os termos de troca medem a evolução do preço da pauta exportadora em unidades de pauta importadora. Um ganho de 10% nos termos de troca significa que, com a mesma quantidade de bens exportados, a sociedade consegue adquirir 10% a mais de bens importados.
Dois fatos emergem da figura. Primeiro, o período de ganhos de troca excepcionais é o que se segue à crise de 2008. Até o momento, Dilma se beneficiou de termos de troca 23% maiores do que FHC, enquanto os de Lula foram somente 2% maiores aos do governo tucano.
O segundo fato é que, no segundo mandato de FHC e no primeiro de Lula, os termos de troca foram uns 10% menores do que no primeiro mandato de FHC e no segundo de Lula.
Parte da dificuldade que FHC teve em eleger José Serra e da facilidade que Lula teve de eleger Dilma deve-se, sim, à situação internacional, mas certamente ela não é toda a história.
Outra indicação de que a situação externa não pode explicar muito do desempenho da economia brasileira ao longo do governo Lula é dada pela composição setorial da produtividade.
Ao longo da era Lula, a produtividade do trabalho da indústria de transformação caiu, enquanto a produtividade dos serviços elevou-se. Serviços são setores não comercializáveis internacionalmente e, portanto, menos afetados pela conjuntura econômica externa.
Como argumentei em outras oportunidades, atribuo parte da aceleração do governo Lula à maturação das reformas institucionais do governo FHC e dos primeiros anos do governo Lula, período Malocci, além dos impactos positivos de uma transição política muito ordenada.
Minha interpretação é que a desaceleração ao longo do governo Dilma deve-se a três fatores: redução do crescimento do comércio internacional; esgotamento do mercado de trabalho; e impactos ruins, sobre o crescimento da produtividade, da piora do regime de política econômica a que assistimos desde 2009.
Há intenso e importante debate sobre os fatores que causaram a piora do desempenho da economia brasileira no governo Dilma, que deve fechar seu quadriênio com crescimento anual médio de 2%, em comparação a 4% de Lula.
Vários analistas, de diversas colorações ideológicas, enfatizam o bom momento vivido pela economia internacional no período conhecido pela grande moderação, de 2002 até 2008, como o maior responsável pelo bom desempenho da economia brasileira no governo Lula.
Como já expressei em outras oportunidades neste espaço, penso que o impacto da economia mundial para explicar o bom momento vivido no período Lula é superestimado. Certamente contribuiu, mas está longe de ser toda a história.
Uma evidência de que a situação internacional com Lula foi boa, mas não excepcional, encontra-se no quadro nesta página.
Representamos nela a evolução dos termos de troca de 1995 até março de 2014. As linhas horizontais representam as médias vigentes ao longo dos oito anos do governo FHC e Lula e no quadriênio incompleto de Dilma.
Os termos de troca medem a evolução do preço da pauta exportadora em unidades de pauta importadora. Um ganho de 10% nos termos de troca significa que, com a mesma quantidade de bens exportados, a sociedade consegue adquirir 10% a mais de bens importados.
Dois fatos emergem da figura. Primeiro, o período de ganhos de troca excepcionais é o que se segue à crise de 2008. Até o momento, Dilma se beneficiou de termos de troca 23% maiores do que FHC, enquanto os de Lula foram somente 2% maiores aos do governo tucano.
O segundo fato é que, no segundo mandato de FHC e no primeiro de Lula, os termos de troca foram uns 10% menores do que no primeiro mandato de FHC e no segundo de Lula.
Parte da dificuldade que FHC teve em eleger José Serra e da facilidade que Lula teve de eleger Dilma deve-se, sim, à situação internacional, mas certamente ela não é toda a história.
Outra indicação de que a situação externa não pode explicar muito do desempenho da economia brasileira ao longo do governo Lula é dada pela composição setorial da produtividade.
Ao longo da era Lula, a produtividade do trabalho da indústria de transformação caiu, enquanto a produtividade dos serviços elevou-se. Serviços são setores não comercializáveis internacionalmente e, portanto, menos afetados pela conjuntura econômica externa.
Como argumentei em outras oportunidades, atribuo parte da aceleração do governo Lula à maturação das reformas institucionais do governo FHC e dos primeiros anos do governo Lula, período Malocci, além dos impactos positivos de uma transição política muito ordenada.
Minha interpretação é que a desaceleração ao longo do governo Dilma deve-se a três fatores: redução do crescimento do comércio internacional; esgotamento do mercado de trabalho; e impactos ruins, sobre o crescimento da produtividade, da piora do regime de política econômica a que assistimos desde 2009.
19 de maio de 2014
Samuel Pessoa, Folha de SP
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