Na crise de 2008, a China não teve problemas de crédito como muitos países. Seu problema, gravíssimo, foi comercial. O motor da economia chinesa eram as exportações para os EUA e para a Europa ocidental, e sua redução levou Pequim a embarcar num projeto contracíclico de investimentos maciços em infraestrutura e de expansão do crédito, particularmente o imobiliário.
A China vive hoje a ressaca desse projeto. Ironicamente, o país que entrou na crise sem problema de crédito passou a tê-lo por causa da expansão exagerada dos financiamentos e criação de bolha imobiliária, como foi o problema americano, num contexto diferente.
Além disso, a ação contracíclica causou grande distorção na alocação de recursos, produzindo projetos ineficientes e excesso de capacidade nos setores imobiliário, industrial e de infraestrutura.
Há um consenso hoje em Pequim de que não se deve persistir naquela estratégia para enfrentar a atual desaceleração econômica. O país é rigoroso no ajuste do mercado de crédito e na transição do modelo exportador --primeiro para o modelo de investimento em infraestrutura e agora para o modelo de desenvolvimento do mercado de consumo doméstico. Um quadro agravado pelo problema agudo da poluição, que pode fechar indústrias no médio prazo.
Esse enfrentamento vigoroso dos problemas é comum na história da China. Ela passou de confucionista --onde a tradição pesava mais do que a ciência e o futuro, congelando o país na Idade Média-- a um país comunista, com o líder Mao Tse-tung impondo processo de destruição sistemática dos valores e da tradicional estrutura política e social, chegando ao extremo de, no conceito de revolução permanente, destruir a estrutura administrativa que ele próprio havia criado. A Revolução Cultural maoista buscou a ciência ideológica, submetendo cada ato e cada passo, não só político, mas também científico e econômico, à matriz ideológica.
Uma vantagem dessa experiência radical foi que chegou aos limites da ideologização da política, da economia e da ciência, levando à desorganização econômica.
Com a ascensão de Deng Xiaoping, em 1978, houve a grande inflexão da economia, simbolizada pela sua frase: "Não me interessa a cor do gato desde que ele cace o rato".
A China passou do extremo ideológico para o pragmatismo, buscando na economia, na ciência e na administração pública as soluções mais eficazes para cada situação específica.
É uma lição para todos, principalmente na América Latina, ainda contaminada, em graus diferentes, por pensamentos ideológicos onde eles não são aplicáveis. O exemplo chinês mostra que o foco na eficiência e no resultado é o melhor caminho para a sociedade.
A China vive hoje a ressaca desse projeto. Ironicamente, o país que entrou na crise sem problema de crédito passou a tê-lo por causa da expansão exagerada dos financiamentos e criação de bolha imobiliária, como foi o problema americano, num contexto diferente.
Além disso, a ação contracíclica causou grande distorção na alocação de recursos, produzindo projetos ineficientes e excesso de capacidade nos setores imobiliário, industrial e de infraestrutura.
Há um consenso hoje em Pequim de que não se deve persistir naquela estratégia para enfrentar a atual desaceleração econômica. O país é rigoroso no ajuste do mercado de crédito e na transição do modelo exportador --primeiro para o modelo de investimento em infraestrutura e agora para o modelo de desenvolvimento do mercado de consumo doméstico. Um quadro agravado pelo problema agudo da poluição, que pode fechar indústrias no médio prazo.
Esse enfrentamento vigoroso dos problemas é comum na história da China. Ela passou de confucionista --onde a tradição pesava mais do que a ciência e o futuro, congelando o país na Idade Média-- a um país comunista, com o líder Mao Tse-tung impondo processo de destruição sistemática dos valores e da tradicional estrutura política e social, chegando ao extremo de, no conceito de revolução permanente, destruir a estrutura administrativa que ele próprio havia criado. A Revolução Cultural maoista buscou a ciência ideológica, submetendo cada ato e cada passo, não só político, mas também científico e econômico, à matriz ideológica.
Uma vantagem dessa experiência radical foi que chegou aos limites da ideologização da política, da economia e da ciência, levando à desorganização econômica.
Com a ascensão de Deng Xiaoping, em 1978, houve a grande inflexão da economia, simbolizada pela sua frase: "Não me interessa a cor do gato desde que ele cace o rato".
A China passou do extremo ideológico para o pragmatismo, buscando na economia, na ciência e na administração pública as soluções mais eficazes para cada situação específica.
É uma lição para todos, principalmente na América Latina, ainda contaminada, em graus diferentes, por pensamentos ideológicos onde eles não são aplicáveis. O exemplo chinês mostra que o foco na eficiência e no resultado é o melhor caminho para a sociedade.
19 de maio de 2014
Henrique Meirelles, Folha de SP
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