Projeto em tramitação na Câmara prevê refinanciamento das dívidas fiscais, mas impõe condições rígidas, que podem chegar até o rebaixamento da agremiação
Se mantiverem sua descuidada opção gerencial, em 2015 boa parte dos grandes clubes brasileiros chegará virtualmente à falência. Muitos não conseguirão mais fechar as já precárias contas, comprometidas por elevados passivos que os inviabiliza financeira e administrativamente. Os clubes são a base sobre a qual o futebol brasileiro se desenvolveu dentro dos campos, a ponto de ter se tornado um gigante nos gramados, pentacampeão do mundo e com o Brasil partindo para sediar pela segunda vez a Copa da Fifa. No entanto, vivem uma realidade em que, em penúria, dão a impressão de que o esporte mais popular do país cresceu com pés de barro.
Esse quadro é fruto de uma equivocada política na qual se misturam administrações marcadas por interesses pessoais e/ou políticos de cartolas, irresponsabilidade contábil e tibieza de uma legislação que não responsabiliza diretores por má gestão. Há casos de agremiações gerenciadas como feudos, com dirigentes despreocupados com a saúde do caixa; outras, enveredam pelo caminho do endividamento insensato, trocando sistematicamente uma dívida por outras, ou sonegando obrigações fiscais, em deliberada política de empurrar para um futuro que parecia nunca chegar o necessário acerto de seus balanços.
Mas o futuro chegou, e com ele a imposição de sanear os clubes. A situação é insustentável, mas muitos dirigentes parecem não ter acordado para a dimensão do problema, ou simplesmente preferem apostar na permanência do caos como trunfo para possíveis pressões por anistias fiscais ou perdão de dívidas. É uma esquizofrenia que se mede em números: apesar de, em geral, as agremiações registrarem nos últimos anos quedas exponenciais de receita, em 2013 houve um forte incremento dos custos do futebol, advertiu recentemente o consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi. Temeridade alimentada, por certo, por uma legislação propícia à leniência.
É neste contexto que a Câmara dos Deputados discute um projeto de lei de renegociação das dívidas, instrumento crucial para o saneamento dos clubes. Aprovado preliminarmente numa comissão formada apenas para estudar a questão, o projeto prevê um prazo de 25 anos para a quitação das dívidas fiscais. Ao menos até o atual estágio de discussão e consolidação do texto, não parece se tratar de simples perdão.
O projeto é duro, como deve ser, impõe como contrapartida ao alívio das condições de pagamento dos débitos, pesadas sanções — como perda de pontos, afastamento de diretores e, no limite, até o rebaixamento dos times de agremiações que aderirem ao pacto e não o cumprirem. A ver.
O texto oferece uma saída aos clubes e acena com o imperativo da responsabilidade gerencial. Neste sentido, pode vir ao encontro do que sugere a presidente Dilma Rousseff: que a reforma e modernização do futebol brasileiro sejam legados da Copa. Para isso, mudanças que levem à moralização do setor não podem ficar apenas nas intenções. É crucial que sejam de fato adotadas.
Se mantiverem sua descuidada opção gerencial, em 2015 boa parte dos grandes clubes brasileiros chegará virtualmente à falência. Muitos não conseguirão mais fechar as já precárias contas, comprometidas por elevados passivos que os inviabiliza financeira e administrativamente. Os clubes são a base sobre a qual o futebol brasileiro se desenvolveu dentro dos campos, a ponto de ter se tornado um gigante nos gramados, pentacampeão do mundo e com o Brasil partindo para sediar pela segunda vez a Copa da Fifa. No entanto, vivem uma realidade em que, em penúria, dão a impressão de que o esporte mais popular do país cresceu com pés de barro.
Esse quadro é fruto de uma equivocada política na qual se misturam administrações marcadas por interesses pessoais e/ou políticos de cartolas, irresponsabilidade contábil e tibieza de uma legislação que não responsabiliza diretores por má gestão. Há casos de agremiações gerenciadas como feudos, com dirigentes despreocupados com a saúde do caixa; outras, enveredam pelo caminho do endividamento insensato, trocando sistematicamente uma dívida por outras, ou sonegando obrigações fiscais, em deliberada política de empurrar para um futuro que parecia nunca chegar o necessário acerto de seus balanços.
Mas o futuro chegou, e com ele a imposição de sanear os clubes. A situação é insustentável, mas muitos dirigentes parecem não ter acordado para a dimensão do problema, ou simplesmente preferem apostar na permanência do caos como trunfo para possíveis pressões por anistias fiscais ou perdão de dívidas. É uma esquizofrenia que se mede em números: apesar de, em geral, as agremiações registrarem nos últimos anos quedas exponenciais de receita, em 2013 houve um forte incremento dos custos do futebol, advertiu recentemente o consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi. Temeridade alimentada, por certo, por uma legislação propícia à leniência.
É neste contexto que a Câmara dos Deputados discute um projeto de lei de renegociação das dívidas, instrumento crucial para o saneamento dos clubes. Aprovado preliminarmente numa comissão formada apenas para estudar a questão, o projeto prevê um prazo de 25 anos para a quitação das dívidas fiscais. Ao menos até o atual estágio de discussão e consolidação do texto, não parece se tratar de simples perdão.
O projeto é duro, como deve ser, impõe como contrapartida ao alívio das condições de pagamento dos débitos, pesadas sanções — como perda de pontos, afastamento de diretores e, no limite, até o rebaixamento dos times de agremiações que aderirem ao pacto e não o cumprirem. A ver.
O texto oferece uma saída aos clubes e acena com o imperativo da responsabilidade gerencial. Neste sentido, pode vir ao encontro do que sugere a presidente Dilma Rousseff: que a reforma e modernização do futebol brasileiro sejam legados da Copa. Para isso, mudanças que levem à moralização do setor não podem ficar apenas nas intenções. É crucial que sejam de fato adotadas.
19 de maio de 2014
Editorial O Globo
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