A economista Dilma Rousseff fez nome e ganhou fama de líder do planejamento de projetos no setor energético. Alçada à Presidência da República, ela assiste, no último ano do mandato, à consolidação de turbulências simultâneas nas áreas de eletricidade, petróleo e etanol, provocadas por decisões erradas. O conjunto estratégico de usinas de etanol do país - concentrado no Triângulo Mineiro, em Goiás e no oeste de São Paulo - começa a dar marcha a ré. Vai embora, mais uma vez, o processo de resistência energética do país, iniciado em 1975, com o Proálcool. Quase 40 anos depois, a mistura de álcool anidro à gasolina deixou de ser competitiva justamente no momento em que as importações de combustíveis devoram bilhões de reais da Petrobras e provocam rombos no comércio internacional do país. É um cenário bem diferente daquele dito pelo presidente Lula ao colega George W. Bush. O Brasil importa etanol dos Estados Unidos, em vez de exportar, e não consegue produzir a demanda doméstica de refinados de petróleo.
Somam-se às pressões sobre a petroleira brasileira as dificuldades do setor elétrico; compras externas de diesel e gás para mover as usinas termelétricas, acionadas a todo vapor para compensar o baixo nível dos reservatórios em pleno fim do período chuvoso. O consultor Ricardo Maia, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), ressalta que dos 1.796 empreendimentos termelétricos em operação, que somam 36,3 mil megawatts (MW), 31 pertencem à estatal, com 6 mil MW. "O peso da empresa nessa área é evidente", disse.
De acordo com dados da própria Agência Nacional do Petróleo (ANP), o deficit da balança comercial de combustíveis, resultado de importações maiores que exportações, vai se ampliar em 2014. O rombo do diesel será de US$ 9 bilhões este ano, enquanto o da gasolina será de US$ 2,5 bilhões. Isso, considerando uma alta de 4% da demanda de derivados de petróleo. Em nota, a Petrobras informou que, "no momento, não fará comentários sobre o assunto".
Segundo Adilson Oliveira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), "a geração térmica atual registra custo operacional elevadíssimo e ainda provoca no mercado livre tetos de cotações sem paralelos". Nesse sentido, apenas as hidrelétricas de concessionárias que não aderiram ao plano de redução da conta de luz, definido unilateralmente pela presidente Dilma Rousseff - como a Cemig, a Copel e a Cesp -, têm conseguido computar ganhos no atual caos energético.
Estima-se que, apenas nos dois primeiros meses do ano, tenham faturado, com outros agentes, como o Banco BTG Pactual, cerca de R$ 9 bilhões. Já as distribuidoras que comercializam energia mais cara no atacado vão receber do Tesouro Nacional, pelo menos, R$ 23 bilhões, mas sem evitar o reajuste extremo das tarifas para 2015 e depois. Em tempo: a Cemig, a Copel e a Cesp, das administrações tucanas, não aceitaram a quebra de contratos imposta pela gestora e estão muito bem! Mas foram acusadas de agir politicamente. Adilson listou os erros, área por área.
Setor elétrico - Ações equivocadas: renovação antecipada e condicionada das concessões; aportes do Tesouro para garantir o desconto na conta de luz; estímulo ao consumo elétrico em períodos de geração escassa; falta de diálogo com agentes e pouca transparência nas ações. Consequências: perda de receita e de valor patrimonial das concessionárias; elevação dos preços nos leilões de energia (mercado à vista), em razão da situação hídrica; aumento de risco de racionamento no segundo semestre de 2014; necessidade de socorro ao caixa de distribuidoras e estouro das tarifas futuras.
Petróleo e gás - Ações equivocadas: congelamento dos reajustes de combustíveis da Petrobras; importação crescente de gasolina cara, revendida barata; esforço extra imposto à estatal para a exploração do pré-sal; capitalização recorde desviada para o controle inflacionário. Consequências: crescentes perdas na soma de receitas da Petrobras; salto na dívida e rebaixamento da nota de crédito da companhia; prejuízos a investidores e queda no valor de mercado; atraso de projetos de exploração e venda de ativos no exterior (empobrecimento).
Etanol - Ações equivocadas: indexação aos preços da gasolina, congelados; promessas não cumpridas de financiamento de novas usinas; falta de política de preços e estoques no longo prazo; tributos sobre a gasolina zerados para compensar reajuste nas bombas. Consequências: ampliação da perda de competitividade em relação à gasolina; virada de negócios no rumo do açúcar e da geração termelétrica; fechamento de usinas e agravamento da situação financeira de produtores enganados que fizeram investimentos.
Sinceramente, o governo é incompetente. Dar aumento de salários e conceder bolsas disso e daquilo não é administrar o Estado. É fazer política de "coronel" (coronelismo de Estado).
13 de abril de 2014
Sacha Calmon, Correio Braziliense
Somam-se às pressões sobre a petroleira brasileira as dificuldades do setor elétrico; compras externas de diesel e gás para mover as usinas termelétricas, acionadas a todo vapor para compensar o baixo nível dos reservatórios em pleno fim do período chuvoso. O consultor Ricardo Maia, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), ressalta que dos 1.796 empreendimentos termelétricos em operação, que somam 36,3 mil megawatts (MW), 31 pertencem à estatal, com 6 mil MW. "O peso da empresa nessa área é evidente", disse.
De acordo com dados da própria Agência Nacional do Petróleo (ANP), o deficit da balança comercial de combustíveis, resultado de importações maiores que exportações, vai se ampliar em 2014. O rombo do diesel será de US$ 9 bilhões este ano, enquanto o da gasolina será de US$ 2,5 bilhões. Isso, considerando uma alta de 4% da demanda de derivados de petróleo. Em nota, a Petrobras informou que, "no momento, não fará comentários sobre o assunto".
Segundo Adilson Oliveira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), "a geração térmica atual registra custo operacional elevadíssimo e ainda provoca no mercado livre tetos de cotações sem paralelos". Nesse sentido, apenas as hidrelétricas de concessionárias que não aderiram ao plano de redução da conta de luz, definido unilateralmente pela presidente Dilma Rousseff - como a Cemig, a Copel e a Cesp -, têm conseguido computar ganhos no atual caos energético.
Estima-se que, apenas nos dois primeiros meses do ano, tenham faturado, com outros agentes, como o Banco BTG Pactual, cerca de R$ 9 bilhões. Já as distribuidoras que comercializam energia mais cara no atacado vão receber do Tesouro Nacional, pelo menos, R$ 23 bilhões, mas sem evitar o reajuste extremo das tarifas para 2015 e depois. Em tempo: a Cemig, a Copel e a Cesp, das administrações tucanas, não aceitaram a quebra de contratos imposta pela gestora e estão muito bem! Mas foram acusadas de agir politicamente. Adilson listou os erros, área por área.
Setor elétrico - Ações equivocadas: renovação antecipada e condicionada das concessões; aportes do Tesouro para garantir o desconto na conta de luz; estímulo ao consumo elétrico em períodos de geração escassa; falta de diálogo com agentes e pouca transparência nas ações. Consequências: perda de receita e de valor patrimonial das concessionárias; elevação dos preços nos leilões de energia (mercado à vista), em razão da situação hídrica; aumento de risco de racionamento no segundo semestre de 2014; necessidade de socorro ao caixa de distribuidoras e estouro das tarifas futuras.
Petróleo e gás - Ações equivocadas: congelamento dos reajustes de combustíveis da Petrobras; importação crescente de gasolina cara, revendida barata; esforço extra imposto à estatal para a exploração do pré-sal; capitalização recorde desviada para o controle inflacionário. Consequências: crescentes perdas na soma de receitas da Petrobras; salto na dívida e rebaixamento da nota de crédito da companhia; prejuízos a investidores e queda no valor de mercado; atraso de projetos de exploração e venda de ativos no exterior (empobrecimento).
Etanol - Ações equivocadas: indexação aos preços da gasolina, congelados; promessas não cumpridas de financiamento de novas usinas; falta de política de preços e estoques no longo prazo; tributos sobre a gasolina zerados para compensar reajuste nas bombas. Consequências: ampliação da perda de competitividade em relação à gasolina; virada de negócios no rumo do açúcar e da geração termelétrica; fechamento de usinas e agravamento da situação financeira de produtores enganados que fizeram investimentos.
Sinceramente, o governo é incompetente. Dar aumento de salários e conceder bolsas disso e daquilo não é administrar o Estado. É fazer política de "coronel" (coronelismo de Estado).
13 de abril de 2014
Sacha Calmon, Correio Braziliense
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