Golbery do Couto e Silva teve papel destacado no governo dos generais que gostavam dele — Castello e Geisel — e abandonou o de João Figueiredo, em 1981, por discordar da decisão do presidente de acobertar os terroristas de farda que se explodiram acidentalmente em um Puma no estacionamento do Riocentro, aonde foram com o objetivo de amedrontar a audiência de um show de música popular brasileira.
Golbery ajudou a montar a estratégia de devolução do poder aos civis de forma “lenta e gradual”, e os chefes militares dos desastrados do Puma tentavam boicotar o processo de volta à normalidade. Figueiredo, autor da promessa “prendo, arrebento” quem for contra a abertura, cedeu aos radicais.
Criador do Serviço Nacional de Informações (SNI), temido como polícia política (que não era) e por bisbilhotar a vida de adversários e aliados (o que fazia), Golbery foi o mais admirado e odiado personagem do regime militar. Os estudantes o chamavam de Golbery do “Colt” e Silva.
Ele fez muito antes. Nada no dia 31 de março. Passara para a reserva havia dois anos e meio, limitando-se a fazer companhia a Ernesto Geisel, que participava de um grupo volante sempre ao alcance de um telefone. No governo Jânio Quadros presidiu o Conselho de Segurança Nacional, ao qual se subordinava o Serviço Federal de Informações e Contrainformações (SFICI).
Ali, no edifício onde havia uma loja da Casa da Borracha, tomou gosto por enxergar tudo pela ótica de “reservado”, “secreto” e “ultrassecreto”. Golbery carimbou “secreto” no bilhetinho em que Jânio, dois dias antes da renúncia, em 25 de agosto de 1961, pedia relatos sobre sua obsessão: anexar as Guianas.
A partir de janeiro de 1962 foi para o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês), sob a ótica de hoje uma ONG mantida por empresários temerosos do caos e das apropriações do governo Jango, que enxergavam como a preparação para a implantação do comunismo no Brasil.
Golbery era um tipo raro que pensava com clareza e escrevia com ambiguidade. Para ele, a democracia era participativa, com diversos diques institucionais a separar o poder da vontade popular — não para sabotá-la, mas para servi-la sem solavancos e ameaças à “segurança nacional”.
Desconfiava do capital estrangeiro e do livre mercado. Ao Estado caberia dirigir a economia e, para evitar o totalitarismo, seria preciso exercitar o “planejamento democrático”.
Glauber Rocha o considerava “gênio da raça”. Mourão Filho descreveu-o como um “cérebro doentio”.
Colaboradores: André Petry, Augusto Nunes, Carlos Graieb, Diogo Schelp, Duda Teixeira, Eurípedes Alcântara, Fábio Altman, Giuliano Guandalini, Jerônimo Teixeira, Juliana Linhares, Leslie Lestão, Otávio Cabral, Pedro Dias, Rinaldo Gama, Thaís Oyama e Vilma Gryzinski.
14 de abril de 2014
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