"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 27 de abril de 2014

DIFÍCIL DE ENTENDER

Políticos desonestos apanhados, como se dizia antigamente, com a boca na tradicional botija, prejudicam os partidos

Um líder carismático e inteligente pode ser fator decisivo para vitórias eleitorais de um partido. Não há novidade nisso.

Mas nem sempre, por motivo que desconheço, os profissionais do ramo dão a atenção pertinente a um fenômeno de sentido oposto: os prejuízos para a legenda causados por políticos desonestos apanhados, como se dizia antigamente, com a boca na tradicional botija.

É bom exemplo o caso do deputado federal André Vargas, do PT paranaense. Ele, como todo mundo sabe, foi apanhado com a boca mergulhada na já mencionada botija. São indiscutíveis as provas de suas relações altamente indevidas com o doleiro Alberto Youssef.

Quanto às malandragens deste personagem, não há qualquer dúvida: há pouco tempo, foi preso — e continua preso — numa operação policial que os federais batizaram, sabe-se lá por quê, de “Lava-Jato”.

O PT, na voz de seu comando nacional, ameaçou expulsar Vargas de seus quadros, caso não renunciasse ao mandato de deputado. É atitude peculiar: sugere, pelo menos por enquanto, que ele poderia continuar membro do partido se largasse o osso do mandato legislativo. O deputado corre o risco — se é que se deve falar apenas em risco — de perder o mandato por decisão, que parece inevitável, do Conselho de Ética da Câmara.

Ficaria bem melhor para o PT se apressasse a sua expulsão, livrando-se dele antes da aparentemente inevitável decisão do Legislativo, sem esperar por um incerto suicídio político de Vargas — que certamente até agora não deu qualquer sinal de ter no seu repertório qualquer indicação de ser capaz de qualquer tipo de renúncia.

Note-se que a pressão do partido sobre o deputado relapso entra em choque com outra atitude do PT, que conseguiu adiar uma decisão do Conselho de Ética da Câmara no sentido de abrir processo de cassação do mandato de Vargas. Foi uma manobra na contramão da exigência de que ele renuncie.

Vá-se entender.

27 de abril de 2014
Luiz Garcia, O Globo

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