O rebaixamento em um grau da nota atribuída ao Brasil pela agência de classificação de risco para investidores internacionais Standard & Poor"s (S&P) foi surpresa apenas pela data. Todo mundo já sabia que a decisão da agência estava praticamente tomada quando, há duas semanas, uma equipe de analistas da S&P visitou a equipe econômica do governo brasileiro. O que ninguém esperava é que ela fosse anunciada tão cedo. Muitos analistas e técnicos do governo estavam certos de que a agência deixaria tudo para depois das eleições.
Mas, como é de sua natureza, o mercado não pode esperar. Nenhum investidor atento deixa o circo pegar fogo antes de se retirar da arquibancada. Ao menor sinal de fumaça, a ordem é se antecipar aos fatos para evitar perdas: nos últimos meses, os bancos elevaram os juros cobrados de tomadores brasileiros de crédito e aumentaram o pedágio relativo ao risco Brasil.
A S&P tinha feito a gentileza de avisar com muita antecedência que atitudes em relação à política fiscal e os sinais cada dia mais claros de que o crescimento da economia permanecia travado vinham provocando arranhões na confiança quanto à capacidade do governo brasileiro de conduzir a economia do país com eficácia. Em 6 de junho, a agência anunciou ter colocado a boa nota brasileira (BBB) em observação. Na segunda-feira, anunciou o rebaixamento para BBB-.
Não é o fim do mundo. O rebaixamento, que também atingiu as duas maiores estatais brasileiras, a Petrobras e a Eletrobras, foi brando, já que a nova nota ainda mantém o Brasil com grau de investimentos. É o mais baixo nível nessa condição, ou seja, mais uma nota ruim devolve o país à classificação de aplicação de risco, posição duramente superada há cerca de 10 anos.
Com reservas cambiais de bom tamanho, inflação acima da meta, mas sem descontrole, estabilidade institucional e política, regime democrático em evolução, o Brasil tem boas possibilidades de recuperar a confiança que chegou a conquistar até mesmo durante a crise mundial de 2008.
O que preocupa é que até agora nada garante que o governo vai mudar a política fiscal. Depois de vários anos anunciando taxas de crescimento que não se cumpriram e permitindo a expansão do gasto público maior do que o crescimento das receitas, a crença de que será alcançado um superavit primário, ainda que modesto, permanece abalada.
A hora não é de ficar no discurso defensivo, na contestação do rebaixamento. Ainda menos construtiva é a ingenuidade dos que perdem tempo colocando em dúvida a credibilidade das agências de rating. É certo que elas erraram feio com o Lehman Brothers em 2008 e vão errar mais algumas vezes. Mas não é a opinião do governo brasileiro e de seus apoiadores sobre essas agências que o mercado ouve e leva em conta. É a opinião delas sobre o Brasil e nossas empresas que os grandes investidores observam para tomar decisões. Há poderosos fundos de investimentos que são proibidos por cláusulas estatutárias de aplicar o capital dos associados em países mal classificados pelas agências de rating.
Para quem precisa fazer uma revolução em sua infraestrutura de transportes e de retirar do pré-sal uma riqueza que pode ser salvadora, a confiança do mercado de crédito e de investimentos tem de ser prioridade absoluta, acima mesmo do calendário eleitoral.
Mas, como é de sua natureza, o mercado não pode esperar. Nenhum investidor atento deixa o circo pegar fogo antes de se retirar da arquibancada. Ao menor sinal de fumaça, a ordem é se antecipar aos fatos para evitar perdas: nos últimos meses, os bancos elevaram os juros cobrados de tomadores brasileiros de crédito e aumentaram o pedágio relativo ao risco Brasil.
A S&P tinha feito a gentileza de avisar com muita antecedência que atitudes em relação à política fiscal e os sinais cada dia mais claros de que o crescimento da economia permanecia travado vinham provocando arranhões na confiança quanto à capacidade do governo brasileiro de conduzir a economia do país com eficácia. Em 6 de junho, a agência anunciou ter colocado a boa nota brasileira (BBB) em observação. Na segunda-feira, anunciou o rebaixamento para BBB-.
Não é o fim do mundo. O rebaixamento, que também atingiu as duas maiores estatais brasileiras, a Petrobras e a Eletrobras, foi brando, já que a nova nota ainda mantém o Brasil com grau de investimentos. É o mais baixo nível nessa condição, ou seja, mais uma nota ruim devolve o país à classificação de aplicação de risco, posição duramente superada há cerca de 10 anos.
Com reservas cambiais de bom tamanho, inflação acima da meta, mas sem descontrole, estabilidade institucional e política, regime democrático em evolução, o Brasil tem boas possibilidades de recuperar a confiança que chegou a conquistar até mesmo durante a crise mundial de 2008.
O que preocupa é que até agora nada garante que o governo vai mudar a política fiscal. Depois de vários anos anunciando taxas de crescimento que não se cumpriram e permitindo a expansão do gasto público maior do que o crescimento das receitas, a crença de que será alcançado um superavit primário, ainda que modesto, permanece abalada.
A hora não é de ficar no discurso defensivo, na contestação do rebaixamento. Ainda menos construtiva é a ingenuidade dos que perdem tempo colocando em dúvida a credibilidade das agências de rating. É certo que elas erraram feio com o Lehman Brothers em 2008 e vão errar mais algumas vezes. Mas não é a opinião do governo brasileiro e de seus apoiadores sobre essas agências que o mercado ouve e leva em conta. É a opinião delas sobre o Brasil e nossas empresas que os grandes investidores observam para tomar decisões. Há poderosos fundos de investimentos que são proibidos por cláusulas estatutárias de aplicar o capital dos associados em países mal classificados pelas agências de rating.
Para quem precisa fazer uma revolução em sua infraestrutura de transportes e de retirar do pré-sal uma riqueza que pode ser salvadora, a confiança do mercado de crédito e de investimentos tem de ser prioridade absoluta, acima mesmo do calendário eleitoral.
27 de março de 2014
Editorial Correio Braziliense
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