A frase do Vinicius é boa: que o amor seja eterno enquanto dure, pois não é imortal - posto que é chama...
Vivemos hoje o ocaso de um amor que parecia eterno. Durou de 1959 a 2014, desde quando circulou o primeiro automóvel inteiramente fabricado no Brasil – o glorioso “fusquinha”! Sinal de progresso, de contemporaneidade, de independência e autonomia, já que o petróleo era nosso!
De carro seriamos grandes, independentes. O “fusca”, e o futuro que surgia com a inauguração de Brasília, abriam afinal as portas do progresso e da modernidade. Nós mesmos íamos fazer nossos automóveis: os pequenos primeiro, os maiores depois, os utilitários, caminhões, a Kombi, o Aero-Willis, todos enfim!
E com eles nasceu um novo país, industrializado, urbanizado, focado no progresso, no crescimento, na expansão. Os trabalhadores organizaram-se, novas lideranças surgiram, a indústria firmou-se – tudo na linha de montagem dos automóveis e caminhões. CUT e FIESP, sempre opostas mas unidas como a cara e a coroa de uma mesma moeda, representavam esse Brasil novo. Nada nos detinha, nem a inflação.
Foto: Wilson Dias / ABr
Esquecemos os trens de cargas, as formas de transporte urbano de massa – bondes, VLT, metrô etc. – e de sua importância para ordenar o crescimento das cidades. A super-hiper planejada Brasília surgiu do nada, e que hoje naufraga num oceano de carros e péssimo transporte público é o mais eloquente exemplo disso.
Estradas de ferro caíram aos pedaços, rodovias surgiam... Transportes públicos urbanos, nas cidades que se expandiam desordenadamente, ficaram insuficientes e deficientes. O povo anda, se espreme e se sacode em ônibus insuportáveis... Exportamos a segunda maior safra de soja do mundo, mas ela chega ao porto numa fila interminável de caminhões.
Mas o tempo – duas gerações! – passou, e esse amor que, ardeu um dia, hoje definha entre chamas. E como amamos muito, nos descuidamos muito do que ia em volta. Hoje vemos afinal o que se perdeu e deixamos de fazer enquanto entupíamos as cidades e o país de carros e caminhões.
E não há sinal de haver em algum lugar competência e vontade de tratar a sério do problema. Onde haverá gente preparada para enfrentar o que o futuro já está nos mostrando por toda parte?
O que se tem são obras desconectadas ou paradas, e iniciativas pontuais onerosas e equivocadas. É discurso vazio, em fazer isso e aquilo, aqui e acolá, desordenadamente, sem um sentido geral que se possa chamar de um plano ou projeto para um país ou para uma cidade.
Por trás de tudo isso – é claro – há um monte de interesses pontuais e desconexos que se organizam. Lembram-se do trem-bala? Pois quase saiu...
As cinzas desse amor que ardeu até extinguir-se fazem um panorama sombrio para nossos filhos e netos...
06 de fevereiro de 2014
Edgar Flexa Ribeiro é educador.
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