Para ele, só não ocorreu uma tragédia porque os sem-terra defenderam os policiais. Deles mesmos! Mais de 40 ficaram feridos para defender o STF e o Palácio do Planalto de invasões.
O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, responsabilizou nesta quinta-feira à noite a Polícia Militar (PM) do Distrito Federal pelo confronto de quarta-feira entre militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) e policiais, em passeata na frente do Palácio do Planalto que deixou mais de 40 feridos. Carvalho afirmou que o conflito teve origem numa informação errada que levou a PM a avançar entre os manifestantes, até um ônibus do MST estacionado no local, onde haveria porretes que poderiam ser usados contra os policiais.
— Estava tudo na mais perfeita ordem até que a Polícia Militar teve uma informação, que eu não sei da onde veio, de que um ônibus que estava ali estacionado estava com porretes que podiam ser usados contra a policia. E o comandante, eu não vou criticá-lo porque eu não conversei com ele, toma uma decisão de fazer um grupo entrar para dentro da multidão para ir lá trancar o ônibus. Na verdade foi um erro de informação — afirmou o ministro.
Carvalho falou sobre o tema após participar de evento do 6.º Congresso Nacional do MST, em Brasília. Ele afirmou que, na verdade, o que havia dentro do ônibus eram cruzes de madeira para um ato simbólico na frente do Planalto e pedaços de pau usados na montagem de algumas barracas de lona para representar um acampamento de sem-terra.
O ministro elogiou a atitude de líderes do MST, no momento em que os manifestantes cercaram o ônibus e o grupo de policiais. Os coordenadores dos sem-terra protegeram os PMs e, segundo o ministro, evitaram uma tragédia. Carvalho aproveitou para elogiar o movimento e, sem citar nomes, criticar os black blocs: — Quando uma manifestação tem liderança, uma pauta clara e direção madura, as coisas podem transcorrer sem grande problema. As fotos que aparecem hoje infelizmente foram daquele momento.
(O Globo)
Editorial da Folha de São Paulo (Hoje)
Criança de 30 anos
Cada vez menos relevante, o MST encontra nos tumultos um meio de chamar a atenção de uma sociedade voltada para outras causas
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) chega ao seu 30º aniversário como se ainda fosse uma criança. Não vai na afirmação um elogio pelo frescor de suas ideias, pois estas são arcaicas, ou pelo espírito alegre de suas manifestações, já que nelas se destaca o caráter arbitrário e o pendor para o confronto.
É uma criança porque não amadurece. Repete palavras de ordem criadas na década de 1980, quando os quase 40 milhões de brasileiros que viviam na zona rural representavam 32,3% da população. De lá para cá, no entanto, dobrou o número de habitantes nas cidades, passando de 82 milhões para 161 milhões, enquanto diminuiu o total de pessoas nos campos. Agora são 30 milhões, ou 15,6% da população nacional.
Houve, ademais, notável avanço do agronegócio. O setor é um dos que mais se moderniza no Brasil, ostentando seguidos saltos de produtividade. Se cabem críticas, elas não chegam perto de sugerir a necessidade de alterar um modelo que se provou bem-sucedido.
O MST, a despeito disso, insiste numa reforma agrária utópica. Líderes da organização até são capazes de enunciar um diagnóstico óbvio: a luta pela terra está fora da pauta da sociedade e do governo. Dificilmente seria de outra forma num país que, além das mudanças demográficas, registra ínfimos índices de desemprego e atende 50 milhões de pessoas com programas de transferência de renda.
Em vez de dar o passo seguinte no raciocínio --a batalha que o MST trava hoje em dia é imaginária--, a direção do movimento empenha-se em elaborar interpretações mirabolantes. Às já clássicas expressões, como "cooptação" e "despolitização", acrescenta-se o entendimento de que a luta existe, "mas está escondida, abafada".
É um despautério. O país conhece inédita rotina de protestos nos principais centros urbanos. Muitos gritos se escutaram, muitas placas, cartazes e faixas se escreveram. A bandeira da reforma agrária, entretanto, não foi erguida. Talvez por causa desse sinal de irrelevância o MST considerou importante chamar a atenção por outros meios. Anteontem, em Brasília, alguns de seus integrantes ameaçaram invadir o Supremo Tribunal Federal e provocaram tumulto na praça dos Três Poderes.
O grupo ganhou o noticiário, como decerto desejava, mas não por suas ideias ou sua pujança. A organização já não mobiliza como na década de 1990, e sua direção é cada vez mais refém do próprio movimento, vendo neste um fim em si mesmo, e não apenas um meio.
Está na hora de o MST crescer, mas de nada ajuda que, um dia depois da confusão, a presidente Dilma Rousseff tenha se reunido com líderes da entidade. Passa a falsa impressão de que eles estão no caminho certo.
14 de fevereiro de 2014
in coroneLeaks
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