Joseph Blatter, presidente da Fifa, pensa que é um chefe de Estado e leva uma vida de magnata. Viaja no avião da entidade, é recebido por presidentes de agenda porosa, atravessa algumas cidades precedido por batedores e durante os jogos de futebol fica em camarotes de VIPs onde garçons servem champanhe e caviar. (Na abertura da Copa das Confederações, felizmente, a doutora Dilma reclamou do mimo.)
A Fifa não é um Estado, e, se fosse, com sua crônica de propinas, estaria entre as cleptocracias da segunda divisão. Para os brasileiros, há a lembrança do ocaso de João Havelange, que dirigiu a instituição de 1974 a 1998, quando se tornou seu presidente honorário. Renunciou em abril, na esteira de um escândalo.
A Fifa é uma organização de cartolas, e a Copa do Mundo tornou-se um empreendimento que move bilhões de dólares. Durante as manifestações de junho, a imprensa internacional lembrou o fato de que a competição será realizada num país onde multidões protestavam contra o preço das tarifas de transportes públicos enquanto a entidade anunciava que entre os patrocinadores do evento estará o champagne Taittinger (US$ 100 a garrafa).
Joseph Blatter, presidente da FIFA.
A Fifa mudou o horário de sete jogos da Copa, atendendo a pedidos dos patrocinadores e das emissoras, interessadas em transmitir os jogos ao vivo. Jogo jogado, pois essa possibilidade estava prevista. As pessoas que compraram ingressos para os velhos horários e por algum motivo quiserem desistir perderão pelo menos 10% do valor pago.
Ou seja, o sujeito marcou uma consulta no dentista, pagou adiantado, o doutor mudou o horário, e ele perderá 10% do preço da visita se quiser cancelá-la. Pouco custaria à Fifa livrar a clientela dessa tunga, até porque serão poucas as desistências.
Quando a burocracia dos cartolas baixa no Brasil com tamanha desconsideração, cria antipatias desnecessárias. Blatter vende ingressos para uma população que o vê passando na rua com batedores (no Rio já chegaram a fechar as transversais da Avenida Atlântica para que ele tivesse pista livre).
Os ingressos para os jogos terão preços salgados, as companhias aéreas e os hotéis estão de olho no bolso da galera.
Além disso, o evento colocará nas ruas milhares de policiais com o treinamento e os modos que mostraram em junho.
11 de dezembro de 2013
Elio Gaspari, O Globo
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