"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

OBAMA: "MANDELA MUDOU LEI. E CORAÇÕES."

Milhares se reúnem em Johannesburgo para adeus a Mandela
 


Retrato gigante de Mandela é exibido no estádio Soccer City durante a cerimônia (AFP, Odd Andersen)

Após a aplaudidíssima passagem de Obama pelo palco, a presidente Dilma Rousseff foi chamada para fazer seu discurso. Falando em português, com tradução simultânea, Dilma ressaltou que falava em nome de todo o povo brasileiro. “Trago o sentimento de profundo pesar do governo e do povo brasileiro”, disse ela. A presidente deu prosseguimento relembrando os feitos de Mandela. “Personalidade maior do século XX, Nelson Mandela conduziu com paixão e inteligência um dos mais importantes processos de emancipação do ser humano da história contemporânea, o fim do apartheid na África do Sul”, afirmou.
 
“O combate de Mandela e do povo sul-africano transformou-se em um paradigma não só para este continente, mas para todos os povos que lutam pela justiça, liberdade e igualdade. (...) O apartheid que Mandela e o povo sul-africano derrotaram foi a forma mais elaborada e cruel da desigualdade social e política que se tem notícia nos temos modernos. Ele inspirou a luta no Brasil e na América do Sul”, disse Dilma. A presidente finalizou seu discurso lembrando-se do período em que o ex-presidente sul-africano esteve preso. “Pela histórica paciência com que suportou o cárcere e o sofrimento, pela lucida firmeza e determinação que revelou em seu combate vitorioso, pelo profundo compromisso com a justiça e com a paz, sobretudo por sua superioridade moral e ética, ele soube fazer da busca da verdade e do perdão os pilares da reconciliação nacional e da construção da nova África do Sul”. No final, a presidente brasileira voltou citar o pesar do provo brasileiro e transmitiu cumprimentos à família de Mandela. “O governo e o povo brasileiros se inclinam diante da memória de Nelson Mandela. Transmito a senhora Graça Machel, aos seus familiares, ao presidente Zuma e a todos os sul-africanos nosso profundo sentimento de dor e de pesar. (...)Viva Mandela para sempre”.
 
Outra música é apresentada na cerimônia. Nas imagens do telão, Obama é mostrado cumprimentando outros chefes de Estado, entre eles Dilma Rousseff e Raúl Castro – foi a primeira vez na história que o presidente americano apertou a mão do dirigente cubano. O presidente dos EUA também apertou a mão de Frederik Willem de Klerk, o último presidente branco da África do Sul, que saiu em 1994 para a entrada de Mandela. Em seguida, Obama subiu ao palco sob intensos aplausos. O presidente americano cumprimenta a viúva Graça Machelz a família de Mandela, o presidente da África do Sul, e outros governantes locais, e diz que é uma grande honra participar da homenagem.
 
“O mundo agradece a existência de Nelson Mandela junto conosco”, disse ele. "Sua luta foi a luta de vocês. Seu triunfo foi o triunfo de vocês. A sua democracia é o legado para vocês". Obama prosseguiu comparando Mandela a outros grandes nomes da história que também lutaram pela liberdade, como Ghandi, Martin Luther King e Abraham Lincoln.  “Sua prisão começou na época de Kennedy e Kruschev e durou até a Guerra Fria. Como Lincoln, ele segurou seu país unido quando ele ameaçou se partir”, afirmou Obama. “É tentador lembrar Mandela como um ícone” – afirma Obama – “Mas ele mesmo rejeitou um retrato tão sem vida". O presidente do EUA prosseguiu lembrando comentários de Mandela: "Eu não sou um santo, a menos que você considere um santo como um pecador que continua tentando".
 
Mandela aceitou as consequências de suas ações, lembrou Obama, repetindo as famosas palavras que o líder contra o racismo disse em seu julgamento, em 1964: “Lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Eu estimo o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas convivam em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal que espero viver e alcançar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”.  As frases de Mandela ditas por Obama causaram furor e sorrisos na multidão presente no estádio.

 Obama continuou sue discurso elogiando a Constituição sul-africana concebida para proteger minorias, bem como os direitos da maioria. Ele também lembrou o conceito sul-africano de ‘ubuntu’ - "que há uma unidade para a humanidade". “Ele encarnou ubuntu”, disse Obama. “Foi preciso um homem como Madiba para libertar não só os prisioneiros, mas os carcereiros também. Ele mudou as leis, mas ele também mudou corações". O líder americano afirmou que a morte de Mandela é um momento de luto e uma celebração de "uma vida heroica". Em seguida, ele fez uma pergunta retórica para si mesmo, ressaltando que o questionava como homem e como presidente: "Como eu usei suas lições em minha própria vida?" Obama respondeu que ele e Michelle são beneficiários da mesma luta racial, mas nos EUA. “Ainda vemos crianças sofrendo com fome e doenças, jovens sem perspectivas para o futuro. Homens e mulheres ainda são perseguidos por sua aparência, por suas crenças, ou por o que eles amam. E isso está acontecendo agora”, afirmou.
 
"Nelson Mandela nos lembra de que tudo sempre parece impossível até que seja feito", diz ele. Filho de queniano, Obama recordou que está há 30 anos aprendendo sobre Mandela e suas lutas. "Ele me despertou para as minhas responsabilidades – para os outros, e para mim mesmo – e me pôs em uma viagem improvável que me trouxe aqui hoje", disse. "Ele me faz querer ser um homem melhor. Ele fala com o que há de melhor dentro de nós". Por fim, Barack Obama honrou sua fama de grande orador e terminou seu discurso de maneira triunfal: “E quando a noite escurecer, quando a injustiça pesar em nossos corações, ou os nossos melhores planos parecerem fora do nosso alcance - pensem em Madiba, e nas palavras que lhe trouxeram conforto dentro das quatro paredes de uma cela: ‘Não importa quão estreito seja o portão, o quanto for pesado for o castigo, eu sou o mestre do meu destino, eu sou o capitão da minha alma’. (...) Vamos sentir falta dele profundamente. Que Deus abençoe a memória de Nelson Mandela. Que Deus abençoe o povo da África do Sul”, finalizou Barack Obama.
 
Logo após a fala de Ban Ki-moon, um coral composto por jovens cantou uma música no estádio FNB – já é a segunda música apresentada durante o cerimonial. A música e a dança são manifestações culturais muito importantes na vida cotidiana dos sul-africanos. O próprio Nelson Mandela gostava muito de música e, durante sua luta contra o apartheid, usou algumas delas para mobilizar a população. Depois da apresentação do coro, a presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma, subiu ao palco. Nkosazana, ex-esposa do atual presidente sul-africano, diz que Mandela representava o “melhor dos valores africanos”. “Ele estava sempre disposto a servir e respeitar todos os pontos de vista”, disse. “conversar com ele era sempre um aprendizado e ele poderia ser firme e permanecer firme, especialmente quando se tratava de ajudar os pobres”, completou. Durante o discurso de Nkosazana, o ex-presidente Bill Clinton foi mostrado conversando com o também ex-presidente George W. Bush, seu adversário político. 
 
Em seguida, o próximo a falar foi o secretário-geral nas Nações Unidas, o sul-coreano Ban Ki-moon. Ban diz que está profundamente honrado por participar da homenagem. Ele iniciou seu discurso chamando Mandela de “homem poderoso que levava uma vida poderosa”, para depois afirmar que “o dia de hoje é uma mistura similar de tristeza e gratidão”. Depois, Ban ressaltou a importância de Madiba: “A África do Sul perdeu um herói. O mundo perdeu um mentor. Nelson Mandela foi um dos maiores líderes de nosso tempo, um de nossos maiores professores. (...) A transformação democrática da África do Sul foi uma vitória feita por e para os sul-africanos, mas também para as Nações Unidas”. Ao final de seu pronunciamento, o secretário-geral da ONU disse palavras de agradecimento em dialeto sul-africano – o primeiro líder a usar uma das línguas locais – e foi efusivamente aplaudido.
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Vídeo: Autoridades mundiais vão ao velório de Mandela



Andrew Mlangeni, amigo de Mandela que ficou preso com ele em Robben Island, local onde o ex-presidente sul-africano ficou detido por dezoito anos, foi o próximo a ser chamado no palco. Com 87 anos e visivelmente emocionado, Mlangeni afirmou que “Nelson Mandela foi um exemplo para milhões. (...) Ele representava a esperança quando não havia nenhuma. Da desconfiança e tristeza, ele forjou otimismo e confiança”. O amigo de Mandela terminou seu discurso falando sobre o julgamento no qual ele e Mandela, entre outros, foram considerados culpados por conspirar contra o governo e condenados à prisão perpétua em Robben Island. “Na prisão, Mandela exalava liderança, mas com base no pensamento coletivo”, afirmou. “Os ideais que ele defendia eram uma luz em tempos de incerteza”, disse Mlangeni, antes de afirmar que tinha sido avisado que seu tempo acabara.
 
O arcebispo da Cidade do Cabo, Thabo Makgoba, foi o último dos religiosos a falar. Ele pediu a Deus que nos ajude a construir sobre os sólidos alicerces que Mandela estabeleceu. "Dê-nos coragem para nos apegarmos aos seus valores", disse. "Vá em frente, alma revolucionária e amorosa, em sua jornada fora deste mundo. Vá para casa, Madiba, você fez abnegadamente tudo que é bom, nobre e honroso para o povo de Deus", completou. Anteriormente, o líder religioso muçulmano fez uma aparente referência ao fato de que Mandela foi contra a guerra no Iraque. "Como ele levantou-se contra a injustiça e as guerras ilegais, vamos fazer o mesmo. Mesmo que [a guerra] seja travada pelo poderoso", disse o religioso muçulmano.
 
Após o hino da África do Sul, o funeral de Nelson Mandela foi oficialmente aberto. O deputado sul-africano Matamela Cyril Ramaphosa foi o mestre de cerimônias e fez um discurso introdutório agradecendo a vida e as conquistas de Mandela. “Homem que assumiu a dor de milhões de sul-africanos e trabalhou arduamente para nos libertar. (...) Ele agora pode descansar e desfrutar a linda missão que ele cumpriu”, disse o deputado. Após suas palavras, ele chamou aos palcos líderes religiosos hindu, judaico, muçulmano e cristão para uma oração ecumênica.
 
Cerimônia de adeus - Dezenas de milhares de pessoas e mais de 90 chefes de Estado estão reunidos nesta terça-feira no FNB Stadium (antigo Soccer City), em Johannesburgo, para a cerimônia de adeus a Nelson Mandela, morto na última quinta-feira, aos 95 anos. O evento começou às 11 horas locais (7 horas em Brasília), mas o público continua a chegar ao local. O dia de homenagens ao líder da luta anti-apartheid será marcado por discursos dos chefes de Estado presentes ao evento. Falarão o presidente americano Barack Obama e a presidente Dilma Rousseff, entre outros. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon também vai discursar, assim como familiares e amigos de Mandela. Por ser um orador hábil e ter uma biografia com pontos em comum com Mandela – ambos são os dois primeiros presidentes negros de seus respectivos países, por exemplo – Obama deve fazer o discurso mais aguardado. Em diversas oportunidades, Obama já ressaltou que o ex-presidente sul-africano foi uma referência e inspiração durante sua carreira política.
 
O general Thanduxolo Mandela começa a falar representando a família do ex-presidente. Ele diz que sua família vai tentar defender o legado de Mandela e convida os ouvintes a fazerem o mesmo. “Nossa geração precisa de novos líderes do calibre de Mandela e seus contemporâneos”, afirma. “Mandela está desaparecido desde diante de nossos olhos, mas nunca de nossos corações e mentes”, prossegue o general. Após Thanduxolo deixar o púlpito, o mestre de cerimônias Cyril Ramaphosa – potencial candidato à sucessão de Jacob Zuma –chama quatro dos dezoito netos que  Mandela teve – Mbuso, Andile, Zozuko Dlamini e Phumla Mandela. Durante os rápidos discursos dos netos, o presidente Barack Obama foi mostrado no telão do estádio, ao lado de sua mulher Michelle – ambos foram aplaudidos.

O evento desta terça marca o início das homenagens ao líder sul-africano, que só serão encerradas com o enterro de Mandela, marcado para o próximo domingo, na aldeia de Qunu. A forte chuva que cai na capital da África do Sul não espantou os admiradores de Mandela, que cantam e dançam no estádio. Apesar do forte esquema de segurança montado pelas autoridades, a chegada dos sul-africanos ao local está sendo ordeira. Muitos dos presentes carregam bandeiras da África do Sul e imagens de “Madiba”. As ruas e avenidas ao redor do estádio foram fechadas para o trânsito e o governo designou trens e ônibus especiais para transportar as pessoas até o local.
 
Obama e a primeira-dama Michelle - ao lado do ex-presidente americano George W. Bush e de sua mulher, Laura - chegaram nesta terça-feira de manhã à África do Sul a bordo do Air Force One. Eles pousaram em uma base militar perto de Johannesburgo, após uma viagem de 16 horas a partir de Washington. Os ex-presidentes Bill Clinton e Jimmy Carter foram para a África do Sul em outros voos. George Bush pai não vai participar porque está com 89 anos e não é mais capaz de viajar longas distâncias, disse seu porta-voz Jim McGrath. Também viajaram com Obama a conselheira de segurança nacional Susan Rice, procurador-geral Eric Holder, e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.
 
Apesar de o evento ter começado apenas às 11h locais (7h de Brasília), as portas do estádio se abriram às 6h30 locais (2h30 de Brasília), e um grupo de cidadãos já fazia fila uma hora e meia antes da abertura, desafiando à chuva e cantando 'Bula, bula, bula!' (abre, abre, abre! – em um dialeto africano). “Não há melhor maneira de homenagear o Tata [‘pai’, um dos nomes como os sul-africanos chamam Mandela]. Ele foi um grande homem”, disse a sul-africana Emely Mirake, de Pretória.
A parte superior de um dos lados do estádio, com capacidade para 90.000 espectadores, já está completamente lotada de pessoas que dançam ao som da música gospel de um coral presente no gramado. Os presentes levam bandeiras da África do Sul e imagens com o rosto de Madiba, como Mandela é carinhosamente chamado em seu país. Muitos estão com camisas com o rosto de Mandela e vestidos africanos com as cores e o anagrama do Congresso Nacional Africano (CNA), que foi liderado pelo ex-presidente, e até uniformes militares de Umkhonto we Sizwe, o braço armado da organização contra o arpatheid fundada por Mandela.
As avenidas próximas do estádio foram fechadas para o trânsito, e todos os que quiserem se aproximar do Soccer City deverão fazê-lo através do transporte público, designado especialmente para a ocasião. A organização dispôs também ônibus especiais para a legião de jornalistas estrangeiros credenciados para o evento. A imprensa local prevê que a homenagem no Soccer City seja o maior evento deste tipo da história. Além de encontrar-se no antigo gueto negro de Soweto, onde Mandela viveu durante anos, o estádio foi cenário, em 1990, de um dos primeiros discursos pronunciados por Mandela após sua saída da prisão. O estádio, com mais de 90 mil lugares, foi palco da final da Copa do Mundo de futebol da África do Sul, disputada no dia 11 de julho de 2010 e na qual a Espanha derrotou a Holanda por 1 a 0 e se sagrou campeã do mundo.
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Sul-africanos comparecem no FNB Stadium, conhecido como Soccer City em Johannesburgo para assistir à cerimônia religiosa de despedida de Nelson Mandela, nesta terça-feira (10)
Sul-africanos comparecem no FNB Stadium, conhecido como Soccer City em Johannesburgo para assistir à cerimônia religiosa de despedida de Nelson Mandela, nesta terça-feira (10) - AFP

Mas a cerimônia também poderá ser vista do lado fora do Soccer City, através de telões que a exibirão em espaços públicos de todo o país e em outros três estádios de Johanesburgo. Os eventos em homenagem a Mandela continuarão entre quarta e sexta-feira em Pretória, com um desfile público do caixão do ex-presidente durante esses dias e exibição do esquife no estádio.
  

O sepultamento vai acontecer no próximo domingo na cidade de Qunu, no sudeste da África do Sul, onde Mandela passou sua infância e pediu para ser enterrado. O governo da África do Sul recomendou aos chefes de Estado e/ou de governo, que estão no país para homenagear Mandela, que não compareçam ao enterro na pequena aldeia, devido à falta de infraestrutura.

10 de dezembro de 2013
Veja
(Com agência EFE)

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