Comissão da Verdade de SP quer retificação sobre morte de JK. Grupo acredita que ex-presidente foi assassinado pelo regime militar
SÃO PAULO — A Comissão da Verdade da Câmara de São Paulo vai pedir ao governo brasileiro a retificação da morte do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. A história oficial afirma que JK morreu em um acidente de carro na rodovia Presidente Dutra, em 22 de agosto de 1976. Para a comissão, no entanto, o ex-presidente foi assassinado pelo regime militar e foi montada uma farsa para esconder o homicídio. O presidente da comissão, vereador Gilberto Natalini, divulgou nesta terça-feira um relatório com indícios que reforçam a suspeita de que teria havido uma conspiração para assassinar JK.
— Não foi acidente. A comissão declara o assassinato de Juscelino, vítima de uma conspiração — disse Natalini, afirmando que vai enviar o relatório para a presidente Dilma Rousseff, o presidente do Congresso, Renan Calheiros, e para o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dalari.
Segundo Natalini, a conspiração teria sido urdida pelo então presidente João Figueiredo, com o Serviço Nacional de Informação (SNI) e a alta cúpula militar. O motorista de JK, Geraldo Ribeiro, teria levado um tiro na cabeça e perdido o controle do carro. Tanto JK como Ribeiro morreram no carro, um Opala.
Entre as evidências apresentadas por Natalini, estão laudos que apontam um fragmento de metal no crânio de Geraldo Ribeiro, depoimento de motoristas que assistiram ao acidente, e imagens que mostram avarias no Opala depois de o carro ter sido levado pela perícia. As avarias teriam sido feitas, segundo Natalini, para encobrir a verdadeira causa da tragédia.
Embora tenha concluído o relatório, a comissão vai continuar em busca de provas e pedirá a exumação do corpo de Geraldo Ribeiro. A Comissão Nacional da Verdade informou que está em curso uma investigação própria sobre a morte de JK. A CNV disse, ainda, que só vai se pronunciar sobre o relatório da Comissão da Verdade da Câmara de São Paulo quando receber e analisar os documentos que serão enviados pelo vereador Natalini.
Em depoimento em outubro à Comissão da Verdade de São Paulo, o motorista de ônibus Josias Nunes de Oliveira, acusado de ter fechado o Opala dourado do ex-presidente, contou que cinco dias depois da morte de JK, dois homens lhe ofereceram uma mala cheia de dinheiro para que assumisse a responsabilidade pelo acidente. Ele disse ter recusado o dinheiro e ter temido por sua vida.
Motorista da Viação Cometa, acostumado a fazer a rota São Paulo-Rio pela Dutra, Josias contou também que ultrapassou o carro do ex-presidente e que, minutos depois, o Opala de JK o ultrapassou, em alta velocidade, não fez a necessária curva à esquerda, atravessou o canteiro central e colidiu com um caminhão Scania, na pista contrária.
10 de dezembro de 2013
Tatiana Farah - O Globo
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