"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O MAL NECESSÁRIO


 
 
Na década de 1980, quando eu era um adolescente, era impossível não ser de esquerda. O Brasil inteiro queria votar. Não havia quase ninguém, de bom senso, que não atribuísse tudo de ruim que estivesse acontecendo conosco ao Regime Militar. A história que nos era contada, e é até hoje, era de que tudo em 1964 transcorria normalmente... O país vivia em plena democracia quando – sem mais nem menos – malvados militares resolveram derrubar o governo e tomar o poder.
 
A capacidade de uma mentira permanecer como verdade através da história não depende de quem a conta. Não depende do seu grau de elaboração nem da inteligência de quem vai escutá-la, mas sim do tempo de preparação...da capacidade de, cotidianamente, expor a população aos seus efeitos.
 
Toda década de 1970 e a maior parte dos anos 80 foram de repetição. A esquerda brasileira aplicou milimetricamente o princípio de que a mentira – uma vez repetida milhões de vezes – acaba por tornar-se uma verdade. Cada vez que alguém pensar em tirar o PT do poder através de um golpe militar no Brasil, deve lembrar-se disso: o verdadeiro poder está na capacidade de tomar os “corações e mentes” das pessoas...
 
É o poder que diz como o passado deve ser contado e como deve ser entendido... De nada adianta a preparação exaustiva de uma nova classe política que não seja capaz de desmentir a maneira de contar nossa história.
 
A autoridade que o Partido-Religião exerce sobre a população é uma autoridade quase “secular”... Toda base moral (na verdade amoral) de sustentação dessa organização criminosa está fundamentada num discurso histórico que até hoje não encontrou oposição à altura. É impossível derrotar os petistas que, vendo-se acuados, apelam para o falso dilema: “então você quer os militares de volta??”...
 
Corrupto ou não, o PT atravessa o tempo como uma evolução, como uma espécie de mal necessário e como a resposta natural de um período que não teria como ser superado sem a emergência dele mesmo no Brasil: é o raciocínio dialético que permeia a argumentação petista como uma verdade maior... Como um princípio de entendimento da própria história e como algo dogmático... Uma verdade científica incapaz de ser questionada.
 
O desafio que esses bandidos colocam para o Brasil de 2014 é gigantesco à medida que testam , no povo brasileiro, algo que praticamente não existe: a sua capacidade de lembrar do passado... Seu juízo crítico com relação à História Nacional dos últimos 50 anos e sua habilidade de reconhecer aquilo que realmente aconteceu.
 
Afirmo aqui que nada pode ser esperado da gigantesca maioria da nossa população sem um entendimento correto de 1964. Estamos presos no tempo! Nossa história parou naquela época e passou, então, a ser contada pelos vencedores. Ocorre que uma das táticas desses vencedores consiste em, nada mais nada menos, afirmar que “perderam”...
 
Pergunto eu: onde perderam? Em que aspecto foram derrotados??? Não há absolutamente dúvida alguma de que os militares tomaram o governo. Mas e o poder??? Que relação existe entre poder e governo? É possível obter uma coisa sem a outra?
 
Em 2014 completam-se 50 anos da intervenção militar... 50 anos em que a história segue sendo contada por aqueles que realmente venceram – esses que agora preparam a nação para o regime cubano. Nada mais falso do que aceitar por parte dessa gente o desafio de “olhar para o futuro”, de pensar no “Brasil do século XXI” sem olhar para trás...
 
Sem pensar mais naquilo que houve pois aquilo que houve já está devidamente explicado, interpretado, justificado... De uma maneira irresistível para um povo que não quer saber do que aconteceu; mas daquilo que está por vir..
 
“Esqueletos no armário” é uma expressão consagrada nos Estados Unidos para designar aqueles que querem esconder aspectos constrangedores do seu passado, mas até onde sei é algo que se aplica às pessoas; não aos governos.
 
Imagino o tamanho do armário necessário para guardar 50 anos de mentiras na maneira de contar a história e o efeito que teria a abertura de suas portas.
 
O povo brasileiro tem aversão à depressão. É incapaz de se entristecer sinceramente e de olhar com honestidade para o próprio sofrimento... Ele continua atravessando uma história em que só existe lugar para presente e o futuro, e onde todo passado já foi esquecido.
 
Todo mal que estamos vivendo é, segundo o Partido-Religião, o “mal necessário”...
 
16 de dezembro de 2013
Milton Simon Pires é Médico.

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