Governantes costumam considerar entre seus deveres de ofício a tarefa de manter o otimismo sob qualquer circunstância. Mais ainda quando se trata da economia do país. É compreensível que o discurso oficial procure valorizar aspectos positivos da conjuntura e minimizar os dados que revelam fracassos. Os motivos para a sociedade se preocupar surgem quando passa da conta a distância entre o discurso oficial e a realidade, sem que se percebam medidas concretas para acelerar a aproximação entre esses dois polos.
Em vez disso, é comum a autoridade acuada pelo mau desempenho tentar afrouxar metas que ela mesmo estabeleceu, além de cair na tentação de culpar agentes de fora do governo e de apelar para o álibi dos fatores externos. Foi assim que, na semana passada, o governo reagiu ao constrangimento de ver fechar o terceiro ano seguido de baixo crescimento do PIB e de inflação acima da meta. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, identificou em "duas pernas mancas" a razão de o país não estar crescendo no ritmo prometido pelo próprio governo.
O crédito ao consumidor seria uma das pernas claudicantes; a crise internacional, a outra. No entanto, qualquer um sabe que, mesmo a oferta de crédito tendo se reduzido um pouco ultimamente, nem de longe se pode alegar falta de financiamento para animar o consumo. A esta altura, preocupa o fato de a principal autoridade da equipe econômica ver mais problema no consumo do que na oferta (produção).
Quanto à crise internacional, a neutralidade da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se incumbiu de desmontar o álibi. Seus técnicos constataram que o recuo de 0,5% da economia brasileira no terceiro trimestre colocou o país na lanterna do grupo das 20 maiores economias (G-20).
De fato, o Brasil e a França foram os únicos do grupo que registraram crescimento negativo de julho a setembro. Ficamos abaixo da média do G-20, de 0,9%, e perdemos de países que estão no epicentro da crise, como Estados Unidos e Itália, e da União Europeia. Até a França, com 0,1% negativo, foi melhor do que o Brasil.
Foi, aliás, a França que mandou seu presidente ao Brasil na sexta-feira, em visita oficial. Ao recebê-lo, a presidente Dilma manteve a mensagem positiva: o país é confiável, tem firme compromisso com o equilíbrio fiscal, a inflação está controlada e dentro da meta. Não é o que mostram os índices oficiais: a inflação vai fechar o ano perto de 5,8%, bem acima da meta de 4,5%, e o superavit primário tem ocupado a criatividade dos contadores do Tesouro.
Confiável, por manter em desenvolvimento a sua jovem democracia - que garante a alternância no poder e o julgamento de criminosos importantes -, o Brasil não pode correr o risco de perder a avaliação positiva que conquistou no mercado internacional. Agências classificadoras de risco já ameaçam rever as notas do país. O ex-presidente do Goldman Sachs Jim O"Neal, famoso por criar o termo Bric, já pensa em retirar o país do acróstico, se o crescimento de 2014 repetir o de 2013. Em vez de discursos, a hora é, pois, de ação.
Em vez disso, é comum a autoridade acuada pelo mau desempenho tentar afrouxar metas que ela mesmo estabeleceu, além de cair na tentação de culpar agentes de fora do governo e de apelar para o álibi dos fatores externos. Foi assim que, na semana passada, o governo reagiu ao constrangimento de ver fechar o terceiro ano seguido de baixo crescimento do PIB e de inflação acima da meta. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, identificou em "duas pernas mancas" a razão de o país não estar crescendo no ritmo prometido pelo próprio governo.
O crédito ao consumidor seria uma das pernas claudicantes; a crise internacional, a outra. No entanto, qualquer um sabe que, mesmo a oferta de crédito tendo se reduzido um pouco ultimamente, nem de longe se pode alegar falta de financiamento para animar o consumo. A esta altura, preocupa o fato de a principal autoridade da equipe econômica ver mais problema no consumo do que na oferta (produção).
Quanto à crise internacional, a neutralidade da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se incumbiu de desmontar o álibi. Seus técnicos constataram que o recuo de 0,5% da economia brasileira no terceiro trimestre colocou o país na lanterna do grupo das 20 maiores economias (G-20).
De fato, o Brasil e a França foram os únicos do grupo que registraram crescimento negativo de julho a setembro. Ficamos abaixo da média do G-20, de 0,9%, e perdemos de países que estão no epicentro da crise, como Estados Unidos e Itália, e da União Europeia. Até a França, com 0,1% negativo, foi melhor do que o Brasil.
Foi, aliás, a França que mandou seu presidente ao Brasil na sexta-feira, em visita oficial. Ao recebê-lo, a presidente Dilma manteve a mensagem positiva: o país é confiável, tem firme compromisso com o equilíbrio fiscal, a inflação está controlada e dentro da meta. Não é o que mostram os índices oficiais: a inflação vai fechar o ano perto de 5,8%, bem acima da meta de 4,5%, e o superavit primário tem ocupado a criatividade dos contadores do Tesouro.
Confiável, por manter em desenvolvimento a sua jovem democracia - que garante a alternância no poder e o julgamento de criminosos importantes -, o Brasil não pode correr o risco de perder a avaliação positiva que conquistou no mercado internacional. Agências classificadoras de risco já ameaçam rever as notas do país. O ex-presidente do Goldman Sachs Jim O"Neal, famoso por criar o termo Bric, já pensa em retirar o país do acróstico, se o crescimento de 2014 repetir o de 2013. Em vez de discursos, a hora é, pois, de ação.
16 de dezembro de 2013
Editorial Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário