"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 1 de dezembro de 2013

NO IRAQUE, O FUTURO PRÓXIMO É TERRÍVEL, DIZ LÍDER RELIGIOSO XIITA

O futuro do Iraque como país uno e independente está ameaçado pela hostilidade sectária que separa xiitas e sunitas, disse Muqtada al-Sadr, o líder religioso xiita cujas milícias – Exército Mahdi – combateram contra as tropas dos  EUA e a Grã-Bretanha, e que ainda é figura poderosa na política iraquiana. Al-Sadr alerta para o perigo de que “o povo iraquiano seja desintegrado, o governo seja desintegrado, o que tornará mais fácil que potências estrangeiras controlem o país.”

Em entrevista ao jornal The Independent, na cidade santa de Najaf, cerca de 160 quilômetros a sudoeste de Bagdá – a primeira entrevista direta que dá a jornal ocidental em mais de dez anos – al-Sadr mostrou-se pessimista: “O futuro próximo do Iraque é terrível”.

O que mais o preocupa é o sectarismo que já afeta os iraquianos. “Se o sectarismo se disseminar entre o povo, será difícil combatê-lo”, disse, acrescentando acreditar que a posição que assumiu, contra o sectarismo, já o fez perder apoios entre seus seguidores.

A posição moderada de al-Sadr é importantíssima nesse momento, quando aumentam os confrontos sectários no Iraque – cerca de 200 xiitas foram mortos, só na última semana.
Há 40 anos, Muqtada al-Sadr e líderes religiosos de sua família vêm demarcando as tendências políticas dentro da comunidade xiita no Iraque. A longa resistência contra o governo de Saddam Hussein e, depois dela, a resistência também contra a ocupação pelos EUA, tiveram impacto crucial.

FORÇA ELEITORAL

Nos últimos cinco anos, Muqtada al-Sadr reconstruiu seu movimento, como um dos principais atores na política do Iraque, com plataforma que é uma mistura de religião xiita, populismo e nacionalismo iraquiano.
Depois de exibir força significativa nas eleições gerais de 2010, o partido passou a integrar o atual governo, com seis ministros no Gabinete.
Mas Muqtada al-Sadr é extremamente crítico contra o desempenho do primeiro-ministro Nouri al-Maliki nos seus dois mandatos; acusa o governo de ser sectário, corrupto e incompetente.

Muqtada al-Sadr  disSe que ele e outros líderes iraquianos já tentaram substituir Maliki no governo, mas ele permaneceu no cargo, por causa do apoio que recebe dos EUA e do Irã. “O mais surpreendente é que EUA e Irã decidam sobre o primeiro-ministro do Iraque” – diz ele. – “Maliki é forte porque é sustentado pelos EUA, Grã-Bretanha e Irã.”

Para al-Sadr, o problema no Iraque é que os iraquianos, como um todo, estão traumatizados por quase meio século ao longo do qual viveram “um ciclo constante de violência: Saddam, a ocupação norte-americana, a 1ª Guerra do Golfo, a 2ª Guerra do Golfo, depois a guerra da ocupação, depois a resistência – isso levou a uma mudança na psicologia dos iraquianos.”

Explicou que os iraquianos cometeram o erro de tentar resolver um problema, criando outro pior, como ter contado com os EUA para derrubar Saddam Hussein, o que gerou o problema da ocupação norte-americana.

Um dos principais temas da abordagem de al-Sadr é promover o Iraque como estado-nação independente, capaz de tomar decisões que visem aos seus próprios interesses.  Dada a hostilidade crescente contra a ocupação por EUA e Grã-Bretanha, que os ocupantes sejam responsabilizados por muitos dos atuais tormentos do Iraque.

Até que isso seja feito, nem ele nem ninguém de seu movimento se reunirão com funcionários norte-americanos ou britânicos. Mas al-Sadr também é hostil à intervenção pelo Irã, nos negócios iraquianos.
Diz ele: “Recusamos todos os tipos de intervenção de forças externas, sejam contra ou a favor de interesses do Iraque. O destino dos iraquianos deve ser decidido exclusivamente pelos iraquianos.”

CORRUPÇÃO

Por que tantos membros do governo do Iraque são tão ineficazes e corruptos? Para al-Sadr, “porque competem entre eles para pôr as mãos na maior fatia do bolo, em vez de competirem para mais bem servir ao povo.”

Perguntado sobre por que o Governo Regional do Curdistão foi mais bem-sucedido em termos de segurança e de desenvolvimento econômico que o resto do Iraque, al-Sadr entende que houve menos roubo e corrupção entre os curdos; e talvez “porque eles amam a própria etnicidade e a região onde vivem.” Se o governo tentasse marginalizá-los, talvez exigissem a própria independência: “Massoud Barzani [presidente do Governo Regional do Curdistão] disse-me que se Maliki nos pressionar demais, exigiremos a independência.”

Ao final, Muqtada al-Sadr perguntou-me se não tinha medo de entrevistá-lo; e se a entrevista levasse o governo britânico a considerar-me terrorista? Perguntou se o governo britânico ainda supunha que tivesse ‘libertado’ o povo iraquiano. E comentou que talvez devesse processar o governo, pelas mortes causadas pela ocupação britânica.

01 de dezembro de 2013
Patrick Cockburn
The Independent, UK

(artigo enviado por Sergio Caldieri)

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