O futuro do Iraque como país uno e independente está ameaçado pela hostilidade sectária que separa xiitas e sunitas, disse Muqtada al-Sadr, o líder religioso xiita cujas milícias – Exército Mahdi – combateram contra as tropas dos EUA e a Grã-Bretanha, e que ainda é figura poderosa na política iraquiana. Al-Sadr alerta para o perigo de que “o povo iraquiano seja desintegrado, o governo seja desintegrado, o que tornará mais fácil que potências estrangeiras controlem o país.”
Em entrevista ao jornal The Independent, na cidade santa de Najaf, cerca de 160 quilômetros a sudoeste de Bagdá – a primeira entrevista direta que dá a jornal ocidental em mais de dez anos – al-Sadr mostrou-se pessimista: “O futuro próximo do Iraque é terrível”.
O que mais o preocupa é o sectarismo que já afeta os iraquianos. “Se o sectarismo se disseminar entre o povo, será difícil combatê-lo”, disse, acrescentando acreditar que a posição que assumiu, contra o sectarismo, já o fez perder apoios entre seus seguidores.
A posição moderada de al-Sadr é importantíssima nesse momento, quando aumentam os confrontos sectários no Iraque – cerca de 200 xiitas foram mortos, só na última semana.
Há 40 anos, Muqtada al-Sadr e líderes religiosos de sua família vêm demarcando as tendências políticas dentro da comunidade xiita no Iraque. A longa resistência contra o governo de Saddam Hussein e, depois dela, a resistência também contra a ocupação pelos EUA, tiveram impacto crucial.
FORÇA ELEITORAL
Nos últimos cinco anos, Muqtada al-Sadr reconstruiu seu movimento, como um dos principais atores na política do Iraque, com plataforma que é uma mistura de religião xiita, populismo e nacionalismo iraquiano.
Depois de exibir força significativa nas eleições gerais de 2010, o partido passou a integrar o atual governo, com seis ministros no Gabinete.
Mas Muqtada al-Sadr é extremamente crítico contra o desempenho do primeiro-ministro Nouri al-Maliki nos seus dois mandatos; acusa o governo de ser sectário, corrupto e incompetente.
Muqtada al-Sadr disSe que ele e outros líderes iraquianos já tentaram substituir Maliki no governo, mas ele permaneceu no cargo, por causa do apoio que recebe dos EUA e do Irã. “O mais surpreendente é que EUA e Irã decidam sobre o primeiro-ministro do Iraque” – diz ele. – “Maliki é forte porque é sustentado pelos EUA, Grã-Bretanha e Irã.”
Para al-Sadr, o problema no Iraque é que os iraquianos, como um todo, estão traumatizados por quase meio século ao longo do qual viveram “um ciclo constante de violência: Saddam, a ocupação norte-americana, a 1ª Guerra do Golfo, a 2ª Guerra do Golfo, depois a guerra da ocupação, depois a resistência – isso levou a uma mudança na psicologia dos iraquianos.”
Explicou que os iraquianos cometeram o erro de tentar resolver um problema, criando outro pior, como ter contado com os EUA para derrubar Saddam Hussein, o que gerou o problema da ocupação norte-americana.
Um dos principais temas da abordagem de al-Sadr é promover o Iraque como estado-nação independente, capaz de tomar decisões que visem aos seus próprios interesses. Dada a hostilidade crescente contra a ocupação por EUA e Grã-Bretanha, que os ocupantes sejam responsabilizados por muitos dos atuais tormentos do Iraque.
Até que isso seja feito, nem ele nem ninguém de seu movimento se reunirão com funcionários norte-americanos ou britânicos. Mas al-Sadr também é hostil à intervenção pelo Irã, nos negócios iraquianos.
Diz ele: “Recusamos todos os tipos de intervenção de forças externas, sejam contra ou a favor de interesses do Iraque. O destino dos iraquianos deve ser decidido exclusivamente pelos iraquianos.”
CORRUPÇÃO
Por que tantos membros do governo do Iraque são tão ineficazes e corruptos? Para al-Sadr, “porque competem entre eles para pôr as mãos na maior fatia do bolo, em vez de competirem para mais bem servir ao povo.”
Perguntado sobre por que o Governo Regional do Curdistão foi mais bem-sucedido em termos de segurança e de desenvolvimento econômico que o resto do Iraque, al-Sadr entende que houve menos roubo e corrupção entre os curdos; e talvez “porque eles amam a própria etnicidade e a região onde vivem.” Se o governo tentasse marginalizá-los, talvez exigissem a própria independência: “Massoud Barzani [presidente do Governo Regional do Curdistão] disse-me que se Maliki nos pressionar demais, exigiremos a independência.”
Ao final, Muqtada al-Sadr perguntou-me se não tinha medo de entrevistá-lo; e se a entrevista levasse o governo britânico a considerar-me terrorista? Perguntou se o governo britânico ainda supunha que tivesse ‘libertado’ o povo iraquiano. E comentou que talvez devesse processar o governo, pelas mortes causadas pela ocupação britânica.
01 de dezembro de 2013
Patrick Cockburn
The Independent, UK
(artigo enviado por Sergio Caldieri)
Em entrevista ao jornal The Independent, na cidade santa de Najaf, cerca de 160 quilômetros a sudoeste de Bagdá – a primeira entrevista direta que dá a jornal ocidental em mais de dez anos – al-Sadr mostrou-se pessimista: “O futuro próximo do Iraque é terrível”.
O que mais o preocupa é o sectarismo que já afeta os iraquianos. “Se o sectarismo se disseminar entre o povo, será difícil combatê-lo”, disse, acrescentando acreditar que a posição que assumiu, contra o sectarismo, já o fez perder apoios entre seus seguidores.
A posição moderada de al-Sadr é importantíssima nesse momento, quando aumentam os confrontos sectários no Iraque – cerca de 200 xiitas foram mortos, só na última semana.
Há 40 anos, Muqtada al-Sadr e líderes religiosos de sua família vêm demarcando as tendências políticas dentro da comunidade xiita no Iraque. A longa resistência contra o governo de Saddam Hussein e, depois dela, a resistência também contra a ocupação pelos EUA, tiveram impacto crucial.
FORÇA ELEITORAL
Nos últimos cinco anos, Muqtada al-Sadr reconstruiu seu movimento, como um dos principais atores na política do Iraque, com plataforma que é uma mistura de religião xiita, populismo e nacionalismo iraquiano.
Depois de exibir força significativa nas eleições gerais de 2010, o partido passou a integrar o atual governo, com seis ministros no Gabinete.
Mas Muqtada al-Sadr é extremamente crítico contra o desempenho do primeiro-ministro Nouri al-Maliki nos seus dois mandatos; acusa o governo de ser sectário, corrupto e incompetente.
Muqtada al-Sadr disSe que ele e outros líderes iraquianos já tentaram substituir Maliki no governo, mas ele permaneceu no cargo, por causa do apoio que recebe dos EUA e do Irã. “O mais surpreendente é que EUA e Irã decidam sobre o primeiro-ministro do Iraque” – diz ele. – “Maliki é forte porque é sustentado pelos EUA, Grã-Bretanha e Irã.”
Para al-Sadr, o problema no Iraque é que os iraquianos, como um todo, estão traumatizados por quase meio século ao longo do qual viveram “um ciclo constante de violência: Saddam, a ocupação norte-americana, a 1ª Guerra do Golfo, a 2ª Guerra do Golfo, depois a guerra da ocupação, depois a resistência – isso levou a uma mudança na psicologia dos iraquianos.”
Explicou que os iraquianos cometeram o erro de tentar resolver um problema, criando outro pior, como ter contado com os EUA para derrubar Saddam Hussein, o que gerou o problema da ocupação norte-americana.
Um dos principais temas da abordagem de al-Sadr é promover o Iraque como estado-nação independente, capaz de tomar decisões que visem aos seus próprios interesses. Dada a hostilidade crescente contra a ocupação por EUA e Grã-Bretanha, que os ocupantes sejam responsabilizados por muitos dos atuais tormentos do Iraque.
Até que isso seja feito, nem ele nem ninguém de seu movimento se reunirão com funcionários norte-americanos ou britânicos. Mas al-Sadr também é hostil à intervenção pelo Irã, nos negócios iraquianos.
Diz ele: “Recusamos todos os tipos de intervenção de forças externas, sejam contra ou a favor de interesses do Iraque. O destino dos iraquianos deve ser decidido exclusivamente pelos iraquianos.”
CORRUPÇÃO
Por que tantos membros do governo do Iraque são tão ineficazes e corruptos? Para al-Sadr, “porque competem entre eles para pôr as mãos na maior fatia do bolo, em vez de competirem para mais bem servir ao povo.”
Perguntado sobre por que o Governo Regional do Curdistão foi mais bem-sucedido em termos de segurança e de desenvolvimento econômico que o resto do Iraque, al-Sadr entende que houve menos roubo e corrupção entre os curdos; e talvez “porque eles amam a própria etnicidade e a região onde vivem.” Se o governo tentasse marginalizá-los, talvez exigissem a própria independência: “Massoud Barzani [presidente do Governo Regional do Curdistão] disse-me que se Maliki nos pressionar demais, exigiremos a independência.”
Ao final, Muqtada al-Sadr perguntou-me se não tinha medo de entrevistá-lo; e se a entrevista levasse o governo britânico a considerar-me terrorista? Perguntou se o governo britânico ainda supunha que tivesse ‘libertado’ o povo iraquiano. E comentou que talvez devesse processar o governo, pelas mortes causadas pela ocupação britânica.
01 de dezembro de 2013
Patrick Cockburn
The Independent, UK
(artigo enviado por Sergio Caldieri)
Nenhum comentário:
Postar um comentário