Toda a feroz campanha contra o ministro Joaquim Barbosa terá como causa a vingança contra a ousadia de condenar réus do sacrossanto partido que ocupa o poder federal? Ou, como causa associada, a possibilidade de que o ministro saia candidato à Presidência da República, cometendo o crime de lesa-majestada?
Talvez a causa seja outra (até porque Barbosa, arrogante, de trato áspero, muitas vezes grosseiro, dificilmente ganharia uma eleição): o ator Milton Gonçalves, respeitado militante dos movimentos negros desde os tempos em que isso não era moda, vê a face do racismo na guerra a Joaquim Barbosa. “Se fosse louro de olhos azuis, o discurso seria outro”. Completa: “Ele tem méritos. Não entrou por cotas, fala cinco línguas, é um personagem importante em nosso país”.
O advogado Humberto Adami, do Instituto de Advocacia Racial, entrou na luta por Barbosa, criando a campanha “O Brasil abraça o ministro Joaquim e o STF” nas redes sociais e criticando a “campanha desonesta, vil e evidentemente racista contra um brasileiro que tem cumprido fielmente suas obrigações constitucionais”.
Lembra que a campanha racista é movida contra Barbosa, que é negro, e poupa os demais ministros que votaram a seu lado pela condenação. Mas os outros que condenaram os réus são brancos e não sofrem ataques.
Racismo também é coisa nossa. Esmeraldo Tarquínio, prefeito eleito de Santos, foi hostilizado por militares por ser de esquerda e cassado por ser negro.
Da ditadura à democracia, muita coisa mudou. Mas há fatos tristes que se repetem.
Tons de pele 2
A questão da cor da pele é travada também em torno do Casal da Copa. A FIFA tinha há mais de seis meses contratado Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert ─ artistas de sucesso, com amplo apelo popular. Foram propostos então Camila Pitanga e Lázaro Ramos; como já tinha contratado Fernanda Lima e Hilbert, a FIFA não aceitou a indicação. Os cartolas passaram a ser acusados de racismo.
Bobagem: como pergunta o jornalista Mário Mendes, mulato, “Camila Pitanga e Lázaro Ramos são mais brasileiros do que Fernando Lima e Rodrigo Hilbert porque são negros?”
Por que, então, a guerra? Talvez porque a bela Camila Pitanga, também artista popular e de sucesso, tenha a imagem ligada à da Caixa Econômica Federal, cujos anúncios estrela. Alguém na Copa com imagem vinculada à do Governo, em ano eleitoral, seria ótimo para a campanha presidencial.
Quem sabe não falou
Até agora, na discussão sobre o estado de saúde de José Genoino, nenhum meio de comunicação ouviu o médico que o tratou no Hospital Sírio-Libanês, que o encaminhou para a delicada cirurgia de aorta, e que é, como responsável por seu acompanhamento, quem melhor conhece a situação do paciente: o Dr. Roberto Kalil.
Quem discutirá o parecer de profissional tão abalizado?
O pó voador
Este colunista está tentando entender: o deputado estadual mineiro Gustavo Perrela, do Solidariedade, é dono de um helicóptero. O piloto do helicóptero é seu funcionário; o copiloto do helicóptero é seu funcionário; o transporte da carga foi autorizado por ele.
E ele não sabia de nada. Muito menos, até, que a carga fosse de cocaína. Seu pai, o senador Zezé Perrela, do PDT, chefe do clã, também não sabia.
E, veja o caro leitor, tratava-se de um helicóptero de estimação, tanto que o nobre parlamentar faz questão de que a Assembleia Legislativa mineira reembolse suas despesas com combustível (neste ano, foram R$ 14.078,31).
O dinheiro voador
Talvez a família Perrela use dinheiro público no helicóptero por estar momentaneamente sem caixa. Diz Leandro Mazzini que Zezé Perrela comprou uma casa por R$ 10 milhões em Brasília, numa região das mais nobres da Capital, o Lago Sul. E tem tido muitas despesas com grandes festas em que recebe pessoas importantes, e a quem assegura boa companhia.
Na campanha vale tudo
Zezé Perrela é do PDT, partido ligado à presidente Dilma. Gustavo Perrela é SSD, que apoia Aécio. Aécio já foi fotografado com os Perrela (e com mais uns mil políticos mineiros).
Acusá-lo nesse caso é, ao menos por enquanto, leviano.
Boa notícia (boa notícia?)
Dentro de dois meses, entra em vigor no Brasil uma lei de combate à corrupção, a 12.846, semelhante à que vigora nos Estados Unidos. A partir de sua vigência, as empresas serão responsabilizadas por relacionamento indevido entre seus colaboradores e órgãos estatais.
Não importa quem pague a propina, a empresa terá também a responsabilidade objetiva no caso.
A lei deve funcionar como a que pune o trabalho escravo: a empresa será responsável por irregularidades de coligadas, controladas, consorciadas e parceiros comerciais, o que a obriga a fiscalizar o comportamento de seus fornecedores.
As multas chegam eventualmente a 20% do faturamento bruto e pode haver proibição de receber incentivos ou financiamentos públicos. Conforme o caso, a empresa pode ser fechada.
Boa notícia ─ se funcionar.
De boas leis o arquivo está cheio. Se funcionar, se for aplicada sem levar em conta o peso político do infrator, pode mudar o país.
01 de dezembro de 2013
Coluna do Carlos Brickmann
Talvez a causa seja outra (até porque Barbosa, arrogante, de trato áspero, muitas vezes grosseiro, dificilmente ganharia uma eleição): o ator Milton Gonçalves, respeitado militante dos movimentos negros desde os tempos em que isso não era moda, vê a face do racismo na guerra a Joaquim Barbosa. “Se fosse louro de olhos azuis, o discurso seria outro”. Completa: “Ele tem méritos. Não entrou por cotas, fala cinco línguas, é um personagem importante em nosso país”.
O advogado Humberto Adami, do Instituto de Advocacia Racial, entrou na luta por Barbosa, criando a campanha “O Brasil abraça o ministro Joaquim e o STF” nas redes sociais e criticando a “campanha desonesta, vil e evidentemente racista contra um brasileiro que tem cumprido fielmente suas obrigações constitucionais”.
Lembra que a campanha racista é movida contra Barbosa, que é negro, e poupa os demais ministros que votaram a seu lado pela condenação. Mas os outros que condenaram os réus são brancos e não sofrem ataques.
Racismo também é coisa nossa. Esmeraldo Tarquínio, prefeito eleito de Santos, foi hostilizado por militares por ser de esquerda e cassado por ser negro.
Da ditadura à democracia, muita coisa mudou. Mas há fatos tristes que se repetem.
Tons de pele 2
A questão da cor da pele é travada também em torno do Casal da Copa. A FIFA tinha há mais de seis meses contratado Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert ─ artistas de sucesso, com amplo apelo popular. Foram propostos então Camila Pitanga e Lázaro Ramos; como já tinha contratado Fernanda Lima e Hilbert, a FIFA não aceitou a indicação. Os cartolas passaram a ser acusados de racismo.
Bobagem: como pergunta o jornalista Mário Mendes, mulato, “Camila Pitanga e Lázaro Ramos são mais brasileiros do que Fernando Lima e Rodrigo Hilbert porque são negros?”
Por que, então, a guerra? Talvez porque a bela Camila Pitanga, também artista popular e de sucesso, tenha a imagem ligada à da Caixa Econômica Federal, cujos anúncios estrela. Alguém na Copa com imagem vinculada à do Governo, em ano eleitoral, seria ótimo para a campanha presidencial.
Quem sabe não falou
Até agora, na discussão sobre o estado de saúde de José Genoino, nenhum meio de comunicação ouviu o médico que o tratou no Hospital Sírio-Libanês, que o encaminhou para a delicada cirurgia de aorta, e que é, como responsável por seu acompanhamento, quem melhor conhece a situação do paciente: o Dr. Roberto Kalil.
Quem discutirá o parecer de profissional tão abalizado?
O pó voador
Este colunista está tentando entender: o deputado estadual mineiro Gustavo Perrela, do Solidariedade, é dono de um helicóptero. O piloto do helicóptero é seu funcionário; o copiloto do helicóptero é seu funcionário; o transporte da carga foi autorizado por ele.
E ele não sabia de nada. Muito menos, até, que a carga fosse de cocaína. Seu pai, o senador Zezé Perrela, do PDT, chefe do clã, também não sabia.
E, veja o caro leitor, tratava-se de um helicóptero de estimação, tanto que o nobre parlamentar faz questão de que a Assembleia Legislativa mineira reembolse suas despesas com combustível (neste ano, foram R$ 14.078,31).
O dinheiro voador
Talvez a família Perrela use dinheiro público no helicóptero por estar momentaneamente sem caixa. Diz Leandro Mazzini que Zezé Perrela comprou uma casa por R$ 10 milhões em Brasília, numa região das mais nobres da Capital, o Lago Sul. E tem tido muitas despesas com grandes festas em que recebe pessoas importantes, e a quem assegura boa companhia.
Na campanha vale tudo
Zezé Perrela é do PDT, partido ligado à presidente Dilma. Gustavo Perrela é SSD, que apoia Aécio. Aécio já foi fotografado com os Perrela (e com mais uns mil políticos mineiros).
Acusá-lo nesse caso é, ao menos por enquanto, leviano.
Boa notícia (boa notícia?)
Dentro de dois meses, entra em vigor no Brasil uma lei de combate à corrupção, a 12.846, semelhante à que vigora nos Estados Unidos. A partir de sua vigência, as empresas serão responsabilizadas por relacionamento indevido entre seus colaboradores e órgãos estatais.
Não importa quem pague a propina, a empresa terá também a responsabilidade objetiva no caso.
A lei deve funcionar como a que pune o trabalho escravo: a empresa será responsável por irregularidades de coligadas, controladas, consorciadas e parceiros comerciais, o que a obriga a fiscalizar o comportamento de seus fornecedores.
As multas chegam eventualmente a 20% do faturamento bruto e pode haver proibição de receber incentivos ou financiamentos públicos. Conforme o caso, a empresa pode ser fechada.
Boa notícia ─ se funcionar.
De boas leis o arquivo está cheio. Se funcionar, se for aplicada sem levar em conta o peso político do infrator, pode mudar o país.
01 de dezembro de 2013
Coluna do Carlos Brickmann
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