O desembarque de Lula do projeto político de Sérgio tornou-se uma operação a ser degustada. O encatamento de Lula pelo governador do Rio trincou. Mas o apreço que ainda nutre pelo personagem leva-o a caprichar na coreografia. Pelo alto, Lula estende uma mão para Cabral. Por baixo, puxa-lhe o tapete com a outra mão.
Cabral quer fazer do seu vice, Luiz Fernando ‘Pezão’ de Souza (PMDB), o próximo governador do Rio. Lula convenceu-se de que a impopularidade de Cabral faz de Pezão um candidato favorito a transformar um de seus opositores em sucessor de Cabral. Acha que pode ter chegado a hora do senador Lindbergh Farias (PT).
Há duas semanas, Lula mandou o PT do Rio adiar para depois do Carnaval a desocupação do governo de Cabral. Na quinta-feira, ao discursar na abertura do abertura do Congresso do PT, Lula levou a mão ao tapete. Disse aos militantes do PT que o escutavam: “Nossos adversários começam a ficar preocupados”.
Noutros tempos, disse Lula, o PT elegera simultaneamente os governadores do Acre, Matro Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. “Agora, companheiros, eles olham pra nós e dizem: ‘puta merda, esses caras têm a possibilidade de ganhar São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e ainda manter o Rio Grande do Sul.”
Assim, em público, foi a primeira vez que Lula incluiu o Rio no rol dos desafios de 2014 que o PT planeja enfrentar com um nome próprio na cabeça da chapa. Nessa perspectiva, ou o PMDB desiste de Pezão para apoiar Lindbergh ou o fio da aliança estadual com o PT sera desligado da tomada.
Também a cúpula do PMDB federal passou a olhar de esguelha para Cabral. Os correligionários do governador avaliam que ele talvez devesse redescobrir o Rio. Reeleito em 2010 com os votos de dois terços do eleitorado, Cabral virou um governador odiado em três anos. Mas a ficha não lhe caiu.
Cabral informou ao partido que, além de empurrar Pezão, pretende disputar uma cadeira no Senado e cavar uma vaga para o filho na Câmara dos Deputados. “Um governo, mesmo impopular, pode muito”, disse um escorpião do PMDB. “Mas se Cabral quiser resolver o problema dele, o do filho e do Pezão, pode acabar não solucionando o problema de ninguém.”
Para o PMDB federal, Cabral renderia homenagens à lógica se considerasse a hipótese de exercer seu mandato até o final, desistindo da candidatura ao Senado. De resto, ajudaria se passasse um zíper nos lábios.
15 de dezembro de 2013
Josias de Souza - UOL
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