Num ano em que o mercado de trabalho perdeu fôlego no Brasil, o Nordeste foi a região mais castigada. Entre janeiro e setembro deste ano, a geração de vagas com carteira assinada caiu 45% na região mais pobre do país. No total do Brasil, a queda foi de 17%, segundo relatório regional da consultoria LCA. A seca prolongada, que começou há mais de um ano e é mais severa em meio século, é apontada por especialistas como a principal causa para a piora do emprego no Nordeste.
A estiagem tem causado dificuldades, em especial, para a indústria alimentícia e de bebidas na região, que vive uma restrição de insumos agropecuários. Com peso importante no contingente de ocupados, a produção de alimentos e bebidas no Nordeste cai há três trimestres seguidos, desde o fim de 2012. E, no bimestre de julho e agosto deste ano, o recuo na indústria alimentícia foi de 5% em relação ao mesmo período do ano passado, mostra o relatório da LCA.
Este ano, a região teve um saldo líquido (contratações menos demissões) de 61.628 postos de trabalho formais, abaixo dos 111 mil do mesmo período do ano passado, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
E não é só o emprego formal que está pior. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME), feita pelo IBGE, que acompanha também o mercado informal, constatou um acréscimo de 3,1 pontos percentuais na taxa de desemprego da Região Metropolitana de Salvador em apenas um ano, para 9,3% em setembro passado. É a maior entre as seis regiões pesquisadas e bem acima da média nacional, de 5,4%. A renda recua 2,7% frente a setembro de 2013, para R$ 1.471.
O aumento da desocupação na capital baiana está ligado a uma maior procura por trabalho. Só em setembro, foram mais 70 mil pessoas, sobretudo, entre jovens de 18 e 24 anos e pessoas com mais de 50 anos. Juntos eles respondem por 83% do aumento na procura por emprego. A geração de vagas ficou em quatro mil novos postos. Desde maio deste ano, a força de trabalho já ultrapassa dois milhões, marca histórica para a região. Para o professor da Universidade Federal da Bahia Gervásio Ferreira, a seca pode estar empurrando a população de recantos mais pobres do interior em busca de uma oportunidade na capital.
- Se a atividade econômica não está boa no interior, a probabilidade de migração de uma mão de obra pouco qualificada que não consegue se inserir é alta - afirma Ferreira.
Ele cita ainda a redução do emprego doméstico que, segundo ele, ocorre em parte devido à valorização dos direitos dos empregados domésticos no início deste ano e, também, graças ao aumento da escolaridade desses trabalhadores, que os move rumo a outras vagas.
A migração de trabalhadores de outros estados que sofrem mais com a seca, como Alagoas e Sergipe, pode estar incrementando a força de trabalho na capital baiana, principal mercado de trabalho da região. Segundo o Caged, no ano, Alagoas tem um saldo negativo de 21.576 no estoque de vagas formais. A maior contribuição vem da indústria de transformação.
- A indústria alimentícia desses estados sofreu muito com a seca e o mercado de trabalho baiano está se tornando mais formal e atraindo a atenção das pessoas. Além disso, há a expectativa de vagas de temporários para o fim do ano - afirma Roberto Maximiano, da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia.
Em Fortaleza, no Ceará, o mercado de trabalho está entre os mais informais do Nordeste. Segundo o economista Ediran Teixeira, do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) do Ceará, apesar de uma melhora em setembro, no ano, as indústrias de calçados, refrigerantes e cerveja e têxtil, além do comércio, são as que mais fecham vagas:
- O mercado de trabalho começa a dar sinais de cansaço. Temos uma economia crescendo menos e as acomodações do mercado de trabalho começam a aparecer - afirma.
Em Recife, Pernambuco, a taxa de desemprego está em 5,8%, em setembro, de acordo com o IBGE. Comércio e Serviços prestados a empresas, ligados à terceirização, cortaram vagas.
‘Saí numa boiada de 90’
Desempregada há três meses, Andréa Patrícia Correia Lima, 36 anos, trabalha no comércio ambulante, no Centro de Recife. Ela afirma que a sede da empresa de varejo onde trabalhava resolveu fazer um corte de 40% no pessoal.
- Estou vendendo biquínis, confecções e faço doces para festas e aniversários. Há meses em que, em duas semanas, faturo até o dobro do que faturava na loja. Mas trabalhar na rua tem seu preço, porque percebo que minhas ex-colegas me olham hoje com muito preconceito. Na verdade, estou vendo muita gente perdendo o emprego aqui pelo Centro de Recife - afirma Andréa.
Flávio Ferreira da Silva Filho, 21 anos, acaba de ser mandado embora do seu primeiro emprego, onde ficara por um ano e três meses. Atuava em uma grande empresa prestadora de serviços.
- Saí no meio de uma boiada de 90 - conta.
A economista da Universidade Federal de Pernambuco Tatiane Menezes afirma que os investimentos no Porto de Suape alavancaram indústrias que se instalaram no entorno em busca de incentivos fiscais e são responsáveis para que o desemprego nessa região metropolitana se mantenha num patamar baixo.
- Isso também se refletiu numa migração de pessoas mais qualificadas de outros estados para Pernambuco que estão ocupando grande parte das vagas- afirma.
04 de novembro de 2013
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