“Segura a tropa, não deixa a tropa perder a cabeça”, disse o coronel Reynaldo Simões Rossi depois de ser quase linchado a pontapés, murros e pancadas na cabeça e no corpo inteiro com uma chapa de metal, defendendo-se à mão limpa sem puxar sua arma, sozinho e com o ombro fraturado, no meio de um bando de covardes bandidos mascarados, que “protestavam contra o capitalismo”.
O capitalismo não dá a menor bola pra eles; o capitalismo já me falou que eles podem quebrar os vidros de quantos bancos quiserem, que os bancos não vão quebrar nunca; o lucro do Itaú foi maior do que o da Petrobras, à beira da falência.
O quebra-quebra de bancos e caixas eletrônicas e o fogo ateado em viaturas policiais e ônibus eram provas indiscutíveis da “coragem” deles, com um dos criminosos filmando as cenas de barbárie, registrando-as para o youtube e para a posteridade.
O coronel Rossi tinha sob o seu comando a tropa armada, pronta para salvar-lhe a pele, que corria risco de morte.
Ele optou pela ação revolucionária do pacifismo, a mesma que Gandhi usou para expulsar o Império Britânico e seu poder de fogo da Índia indefesa, sem que se ouvisse o disparo de um único tiro, a não ser o que uns dois ou três anos depois o assassinou, disparado por um compatriota radical, quando jejuava e orava para que se encontrasse uma solução pacífica para as encrencas com o Paquistão, até hoje não totalmente acertadas.
Fosse eu o coronel Rossi, teria sacado o treisoitão e feito uma faxina em regra; teria nada, isso é papo do valentão que não sou, pra desabafar. Apoio a não-violência e o pacifismo numas, nem que tenha que sair no tapa com os que não aceitam a causa.
Não me visto de branco como Gandhi e nem mesmo conheço o que o levou a levar uma vida de revolucionário que pregava a não-violência e a não-agressão, no mundo armado até os dentes em que fez sua formação acadêmica: graduou-se em Londres, então um dos grandes centros de vendas de armas de guerra, como é até hoje.
Pra mim o coronel Rossi poderia se vestir de branco como os oficiais da Marinha, para exercer o comando da sua tropa e ensiná-la que o pacifista é quem é a revolução, o pacifista é quem tem a Força.
Ele poderia ensinar à menina bonitinha de cabelo curtinho, não peguei o nome dela mas o sobrenome é Comparato, que pregar a violência e o vandalismo é um tremendo absurdo, que é o que ela faz na propaganda em que as globetes convidam para a passeata do dia 31.
Vi a propaganda na internet, acho que só passou lá porque tinha uns cinco minutos, longo demais pra caber na grade da Globo.
Pode parecer que os meus dois neurônios estão em guerra, um criticando a menina bonitinha por sua posição, que deve ser livre por mais idiota que seja, como exijo que a minha seja por mais idiota que sempre é; e o outro falando besteiras como morrer em pé de botina e dando tiro e puxar o treisoitão etc etc etc.
Isso foi como parece o que foi: valentia besta da minha parte que se você for conferir não vai achar nada.
Aí vem você e me diz “Ah tá, aparece um Truman que te manda uma bomba A, ou mesmo duas, pelas fuças e o teu pacifismo vira pó”. Vira e eu, torcida do Flamengo, o resto da vizinhança e do mundo viramos também. Então… Évem mais pacifista évem outro évem outro e mais outro e mais outro.
Você me corta um verso eu escrevo outro, quando você menos espera olha aí eu de novo, eu e meu cachorro; nóis é motoboy, nóis prolifera.
Us Brequi Brócolis estão à baixura daquela coisa que foi à Câmara dos Deputados Federais, um dos Três Poderes da República, declarar que “Se me encherem o saco vou concorrer em 2018…” etc etc etc. E aproveitou pra meter o pau na mídia, fingindo não saber que a maior parte disso que ele chama de “mídia” é chapa branca.
Em certos pontos sou obrigado a te pedir licença pra dizer que essa mesma “mídia” me deixa de “saco cheio”. É quando passa mão nas cabecinhas inocentes dos quase homicidas, que promovem quebra-quebra e incendeiam viaturas policiais e ônibus.
Repetition is reputation — a força da repetição da propaganda oficial levou o “país dos mais de 80%” a acreditar que véve no mió dus mundo.
Jornais, rádios, tevês, chamam os quase assassinos de “os meninos”, “os garotos”; a PM prende hoje 90 em flagrante de destruição e a Justiça solta 89 amanhã.
Um coronel Rossi faz verão? Por mais que eu duvide, sou forçado a lembrar que um Gandhi fez; expulsou o Império Britânico sem dar nem levar um tiro. Mas pagou com a vida a ousadia de querer pacificar o seu próprio país.
Os imperialistas do Império Britânico eram civilizados e sabiam guerrear a guerra cavalheiresca de luvas brancas, a última delas a da Criméia, quando apanhou uma sova histórica.
Se o coronel Rossi desejar que a tropa não perca a cabeça, precisa arranjar um jeito de mandar São Paulo pra UTI, que é o último refúgio que resta para sua salvação. (Agora eu sei o que é uma UTI).
Escute o barulho lá embaixo, não saia na janela que sobra pra você, há quebra-quebra agora mesmo na porta vizinha à do teu prédio, liga a tv e veja ao vivo, olha lá, tem ônibus pegando fogo, us Bréquis Brócolis vem aí.
04 de novembro de 2013
Neil Ferreira
in Ricardo Setti - Veja
Por Neil apoio o pacifismo numas Ferreira, publicado no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo
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