"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

BOLHAS EM SÉRIE

 

Paulo Guedes
Houve enorme alívio quando Bemanke anunciou, em reunião do Federal Reserve (Fed) na semana passada, que nada muda por enquanto em sua política de estímulo mensal à economia, uma injeção de liquidez de 85 bilhões de dólares por meio da compra de títulos públicos. Os mercados reagiram inebriados à manutenção da droga do dinheiro barato em suas doses habituais.

O século XXI se iniciou com o estouro de uma bolha de investimentos em novas tecnologias.
As perdas foram colossais, mas concentradas em pouco mais de dois milhões de investidores no Vale do Silício.
A queda das bolsas em 2000-2001 e o colapso dos investimentos em telecomunicações, mídia e internet trouxeram a ameaça de fulminante recuo da produção e do emprego por insuficiência de demanda, desembocando em uma Grande Depressão, como em 1929.
A instabilidade dos investimentos privados na virada do milênio fez ressurgir a extraordinária figura de Keynes
 

A instabilidade dos investimentos privados na virada do milênio fez ressurgir a extraordinária figura de Keynes. Já em sua reinterpretação da tragédia dos anos 30, Milton Friedman a atribuiu aos erros do Fed, permitindo a degeneração de uma seqüência de quebras de bancos em um buraco negro que engoliu os meios de pagamento e bloqueou o crédito. Por isso, em 2002 o pragmatismo americano apostou na síntese de Keynes e Friedman.
Bush, o Senhor da Guerra, disparou os gatilho fiscal, e Greenspan, o Senhor dos Mercados, o gatilho monetário com juros exageradamente baixos por tempo demasiadamente longo. O experimento parecia bem-sucedido: a reaceleração da economia americana e a sincronização do crescimento global no período 2003-2007 em ritmo superior a 4% anuais, even to inédito no pós-guerra.

Mas “o avanço do conhecimento se dá de antigos problemas para novos problemas” dizia Karl Popper. E tivemos novos problemas em 2008-2009. O crash das bolsas, a crise imobiliária, o crunch do crédito, a quebra do sistema financeiro e a asfixia de mais de 200 milhões de consumidores americanos pelo endividamento excessivo ocorreram após doses exageradas de dinheiro barato.

Sabemos agora o que teria ocorrido nos anos 30 ante o enfraquecimento dos “animal spirits” o instinto vital dos empreendedores, se o Fed, em vez da paralisia, tivesse ido ao outro extremo, o da hiperatividade. Bolhas em série pela garantia de fornecimento da droga.

25 de setembro de 2013
Paulo Guedes
Fonte: O Globo, 13/09/2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário