Depois das duas decisões da Câmara suspendendo os processos contra o presidente Michel Temer, ele até pensou que havia escapado incólume e estaria desimpedido para tocar sua campanha pela reeleição, mas estava enganado. Nos bastidores, Temer continuou sendo investigado em diversos inquéritos nos quais está envolvido direta ou indiretamente. O afastamento de quatro dos 12 vice-presidentes da Caixa Econômica Federal, nesta terça-feira, foi apenas a ponta de um gigantesco iceberg que envolve a corrupção no banco estatal e inevitavelmente vai se chocar contra o sonho da candidatura de Temer.
Desta vez, tudo começou com a Operação Greenfield, que investiga desvios em fundos de pensão de bancos e de estatais. A Polícia Federal e o Ministério Público descobriram irregularidades no Fundo de Investimentos do FGTS, vinculado à Caixa, e deflagraram uma segunda operação, batizada de Sépsis, que agora veio a desaguar no Palácio do Planalto.
AFASTAMENTO – Em dezembro, procuradores responsáveis pelas investigações já haviam enviado uma recomendação à Presidência da República e à Caixa, solicitando que todos os 12 vice-presidentes do banco fossem demitidos.
No último dia 8, a Casa Civil e a presidência da Caixa informaram que rejeitariam a recomendação do Ministério Público Federal. Dois dias depois, porém, o diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Sérgio Neves de Souza, encaminhou à presidente do Conselho de Administração da Caixa, Ana Paula Vescovi, uma recomendação para que fosse feito o afastamento dos vice-presidentes da Caixa Econômica Federal devido a suspeitas de envolvimento deles em irregularidades investigadas pela força tarefa.
Os procuradores, que já esperavam a resposta negativa de Temer, então tiraram uma carta da manga e encaminharam ao presidente da República um ofício comunicando que ele poderá ser responsabilizado, na esfera cível, por ilícitos cometidos pelos atuais vice-presidentes da Caixa. Temer teve de recuar e mandou afastar quatro vice-presidentes, cujas investigações estão em estágio mais avançado.
MEIRELLES VIBRA – Com sua candidatura atacada implacavelmente pelo Planalto nas últimas semanas, o ministro Henrique Meirelles deu força total à investida do Ministério Público contra Temer. Nesta quarta-feira, fez questão de desmentir o Planalto, ao anunciar que o afastamento dos quatro vice-presidentes não é temporário, e sim definitivo.
O ministro da Fazenda afirmou também que os outros vice-presidentes da Caixa Econômica Federal que ainda não foram afastados passarão por uma avaliação do Conselho de Administração da Caixa, que é presidido por Ana Paula Vescovi, atual secretária do Tesouro Nacional e subordinada a Meirelles, que desde o início do governo ganhou carta-branca para comandar toda a equipe econômica.
CACHORRO GRANDE – O embate entre Meirelles e Temer é do tipo briga de cachorro grande. Os dois sabem que só existe espaço para apenas um candidato governista. Estão convictos de que, se os dois disputarem a eleição, vão dividir os votos que supostamente poderiam conduzir um deles ao segundo turno.
Diante desta realidade, Temer tenta desestabilizar de todas as formas a campanha de Meirelles e agora passou a assediar os pastores evangélicos, aos quais promete distribuir mais concessões municipais de emissoras de TV em UHF.
Num festival de cinismo e hipocrisia, Meirelles não passa recibo, continua se entendendo com as lideranças evangélicas e tenta armar uma coligação que possa ampliar seu espaço na TV. Os dirigentes dos partidos que não terão candidatura própria estão exultantes com a disputa entre Meirelles e Temer, porque a cada dia aumenta o valor do apoio político que as legendas nanicas podem dar. É um leilão ao estilo “Proposta Indecente”, o romance de Jack Engelhard que virou sucesso em Hollywood, com Robert Redford e Demi Moore.
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P.S. – É claro que há outros participantes nesse leilão, especialmente Geraldo Alckmin, do PSDB, mas o tucano não tem cacife e vai ser engolido na hora da pergunta fatal: “Quem dá mais?”. O assunto é apaixonante, logo voltaremos a ele. (C.N.)
P.S. – É claro que há outros participantes nesse leilão, especialmente Geraldo Alckmin, do PSDB, mas o tucano não tem cacife e vai ser engolido na hora da pergunta fatal: “Quem dá mais?”. O assunto é apaixonante, logo voltaremos a ele. (C.N.)
18 de janeiro de 2018
Carlos Newton
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