"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

A CRIATIVIDADE DO NATAL NO FOLCLORE BRASILEIRO, SOB O VERÃO DOS TRÓPICOS

Resultado de imagem para bumba meu boi
Em Maceió, à beira-mar, o Bumba meu Boi sofisticado
Imunes à parafernália dos símbolos natalinos europeus de neves, Papai Noel, trenós, renas e pinheiros, algumas regiões brasileiras ainda conseguem fazer um Natal adequado a nossa cultura popular, sob o verão dos trópicos. A tradição natalina dos brasileiros manifesta-se, autenticamente, nos cantos e danças inventados pela imaginação criadora do povo para acrescentar novas informações ao legado de nossos antepassados índios, negros, portugueses.
Bois de pano e couro, cangaceiros, reis, rainhas, palhaços, embaixadoras e pastoras saúdam o nascimento do Menino com fé, ingenuidade e a peculiar alegria brasileira. Uma festa bem diferente das realizadas nos grandes centros de consumo.
Há vários folguedos no ciclo natalino, que se inicia em 24 de dezembro e se estende até 6 de janeiro, com a Festa de Reis. Cerimônias, rituais e coletivas, resultantes da trocas culturais entre os indígenas, africanos e portugueses, são encenadas em todo o país, sempre com peculiaridades locais: reisado, guerreiro, bumba-meu-boi, pastoris e folia de reis ou santos reis.
BUMBA-MEU-BOI – O bumba-meu-boi aparece em festas Natalinas nos Estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. Já no Maranhão, Piauí, Pará e em alguns municípios do Rio de Janeiro, ele aparece nas festas juninas e, em outras regiões, no carnaval e em eventos próprios, como no Festival de Parintins, no Amazonas com o nome de boi-bumbá. Nota-se que o folguedo tem diferentes denominações por onde passa: boi-bumbá, boi-de-mamão e boizinho, tornando-se mais ou menos rico em figurantes e episódios.
O boi, no centro da roda, é a atração principal. Um homem escondido sob um arcabouço de taquara, madeira ou arame, recoberto por pano de chita ou veludo, faz a figura mover-se e dançar. A cabeça, esperta em assustar e investir contra as crianças, é de papelão, madeira ou caveira aproveitada de animal. Os figurantes dançam ao ritmo da batucada (pandeiros, sanfonas e violas), instrumentos improvisados conforme o gosto e as condições dos participantes.
SACRIFÍCIO DO BOI – O tema consiste num boi que dois vaqueiros guardam e um deles sacrifica em momento de raiva. Outra variante é a presença da mulher Catarina, que tem desejo de comer a língua do boi, geralmente, roubada de um rico fazendeiro, condenando-o assim a morrer. No meio da confusão são requisitadas as presenças do doutor, para salvar o animal e do padre-capelão, para benzer o moribundo.
Muitos personagens intervêm, sempre dançando. Marinheiros, soldados, cangaceiros, palhaços, cavalo-marinho (capitão), ema, caipora, alma do outro mundo. Bichos complicados e não identificados, como o jaraguá e o guariba, surgem no meio do espetáculo, fruto da criatividade da imaginação popular.
No decorrer da trama acontecem cenas de todos os tipos, revelando as mais variadas influências, sempre satirizando a vida local. Como tudo é festa, o boi acaba ressuscitando depois de inúmeras peripécias. Só as “damas” e os “galantes” não riem e não dão o troco às diabruras dos personagens que declamam, exclusivamente, “loas” ao Menino Jesus.
REISADOS E GUERREIROS – Os reisados, com características teatrais, têm maior expressão no Nordeste, além de Minas Gerais e São Paulo. Suas origens remontam ao vasto ciclo de representações derivadas das “janeiras” e “reis” portugueses, autos comemorativos da natividade.
Seus integrantes saem às ruas cantando e dançando, ao som da sanfona, tambor e pandeiro. Suas roupas são artisticamente preparadas e muito atraentes: saiotes axadrezados, capas de cetim enfeitadas com galões dourados e prateados, guardas-peito guarnecidos de lantejoulas, contas de aljôfar, espelhinhos brilhantes. Na cabeça, chapéus ornamentados com espelhos redondos, flores e fitas coloridas.
FAZENDO VISITAS – Na “abrição da porta”, um dos rituais do folguedo, pedem para entrar nas casas e tecem louvores aos proprietários. Após as visitas, é hora do teatro, exibido ao público em praça ou local apropriado. O enredo é um sincretismo entre os “reis” portugueses e as “congadas” de origem africana. O grupo canta, dança e declama. O espetáculo, em forma de revista, dramatiza estórias em que se misturam amor e guerra, religião e história local.
O número e as características dos personagens variam conforme a região em que é representado, sendo mais comuns o rei, a rainha, os embaixadores, os palhaços, além de figuras idealizadas como o lobisomem, o urso, o corcunda, o zabelê e o bumba-meu-boi.
Em 1920, surgiu em Alagoas a festa dos guerreiros, como criação local e variante do reisado, embora mais ricos em trajes e episódios. Com o tempo, as representações praticamente substituíram o auto do reisado, reunindo influências também dos caboclinhos e pastoris, que introduziram novos personagens como a lira e o índio Peri. O Mestre é a figura principal do folguedo.
PASTORINHAS
Sob influência portuguesa, o auto do pastoril ou pastorinhas é praticado na Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas, mas no Natal aparece em outras regiões do país. As pastoras, geralmente, em número de doze, dividem-se em dois grupos, chamados cordões, um azul e o outro vermelho encarnado, cores que ostentam nas vestes. Sobre a cabeça levam chapéus de palhinha, filó ou diademas e, nas mãos, arcos ou bastões cobertos de flores e fitas coloridas.
As duas primeiras pastoras de cada cordão recebem o nome de mestra (azul) e contramestra (vermelho). Entre os dois cordões dispostos em fila, um ao lado do outro, fica Diana, a mediadora, trajando metade vermelho e metade azul. Todas cantam e dançam.
As “jornadas” têm como tema o nascimento de Jesus Cristo e os desafios entre os dois cordões. Cada grupo procura a melhor forma de exaltar suas pastoras e prestam homenagens às flores, símbolo das cores que ostentam, a rosa e o cravo.

25 de dezembro de 2017
Paulo Peres

Nenhum comentário:

Postar um comentário