Lá no comecinho ainda dava para defender o regime de Hugo Chávez. Ele, afinal, chegara ao poder através do voto, em 98, e logo tratou de colocar em prática uma agenda populista, mas que acertava em várias coisas, como a adoção de políticas de redução da pobreza. Chávez sempre torcia as instituições democráticas para favorecer seus interesses, mas tomava o cuidado de não se afastar da letra da lei — só do espírito. Nisso, não estava muito longe do padrão observado na América Latina.
O caudilho promovia verdadeiras campanhas de difamação contra aqueles que identificava como inimigos, mas, durante boa parte de seus sucessivos mandatos, não ousou suprimir a liberdade de imprensa no país.
AUTORITARISMO – Os venezuelanos tiveram algumas oportunidades de apear Chávez do poder, mas preferiram seguir com ele. Essa história, porém, só vai até certo ponto. Aos poucos, mudanças cada vez menos sutis foram transformando a paisagem que ainda podíamos identificar como democrática, mesmo que de maneira imperfeita, num regime escancaradamente autoritário.
Hoje, nem o mais benevolente dos observadores conseguiria classificar a Venezuela, agora sob o comando de Nicolás Maduro, como algo diverso de uma ditadura. Não há respeito ao voto popular (a Assembleia Nacional eleita em 2015, de oposição, foi na prática destituída), não há liberdade de imprensa e se contam aos milhares os presos políticos. O governo reprime com violência manifestações contra Maduro.
PT APOIA – Diante desse quadro, é assustador que algumas alas do PT ainda ensaiem apoio ao regime chavista. Se essa linha predominar, o partido precisará adicionar ao naufrágio ético e ao fracasso administrativo o descaso para com a democracia em sua lista de pecados.
É triste para uma legenda que um dia pretendeu ser a vanguarda mundial dos movimentos de esquerda comprometidos com a democracia e bons de governo.
02 de agosto de 2017
Hélio Schwartsman
Folha
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