Na sentença em que condenou o ex-presidente Lula, o juiz Sergio Moro destacou duas reportagens de O Globo que ligaram o ex-presidente Lula ao tríplex no Guarujá como provas relevantes na condenação do petista. Em 2010, o Globo revelou que o apartamento no condomínio Solaris pertencia ao ex-presidente. Na época, a informação foi confirmada pela própria assessoria do então presidente: “Procurada, a Presidência confirmou que Lula continua proprietário do imóvel”, diz a reportagem.
Para Moro, a ligação de Lula com o tríplex e a resposta da Presidência são provas “bastante relevantes”, uma vez que Lula não era investigado à época. O casal Lula tinha uma cota desde 2005, quando Marisa Letícia Lula da Silva a adquiriu na Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) para o apartamento 141 do edifício Mar Cantábrico, que estava sendo construído no Guarujá. A Bancoop quebrou, e em 2009 a OAS assumiu a construção de alguns dos seus prédios, incluindo esse do Guarujá.
SEM ANTEVER – “Não havia, por evidente, como a jornalista em 2010 ou 2011 antever que, no final de 2014, ou seja, três anos depois, a questão envolvendo o ex-presidente e o apartamento tríplex seria revestida de polêmica e daria causa a uma investigação criminal”, escreveu Moro.
A matéria foi publicada quando a OAS assumiu dezenas de obras paradas da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), que passava por problemas financeiros. O texto dizia que o casal Lula da Silva estava na fila de cooperados que aguardavam há cinco anos a conclusão da obra.
SEM CONVENCER – Durante o depoimento que prestou para Moro, em maio, Lula foi questionado sobre a reportagem, mas não explicou o motivo da assessoria da Presidência ter informado que o apartamento pertencia a ele.
Na sentença, Moro considerou que, no seu interrogatório, Lula falhou em apresentar esclarecimentos concretos quando confrontado com as contradições entre as suas declarações e o que constava nos documentos — entre eles, as reportagens publicadas pelo Globo em 2010 e 2014. “A única explicação disponível para as inconsistências e a ausência de esclarecimentos concretos é que, infelizmente, o ex-presidente faltou com a verdade dos fatos em seus depoimentos acerca do apartamento 164-A, triplex, no Guarujá”, escreveu o juiz
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CONFIRA O DIÁLOGO DE MORO E LULA
CONFIRA O DIÁLOGO DE MORO E LULA
Na versão apresentada pelo petista durante seu depoimento a Moro, ele só soube do imóvel em 2013. “Eu ouvi falar desse apartamento em 2005 quando comprou (a cota). E fui voltar a ouvir falar do apartamento em 2013, ou seja, há um interregno de discutir este apartamento da minha parte de 2005 a 2013” — afirmou.
Então, o juiz questionou o ex-presidente sobre reportagem: “Consta no processo uma matéria do jornal O Globo, de 10 de fevereiro de 2010, na qual se afirmava naquela época, abro aspas: “A família Lula da Silva deverá ocupar a cobertura tríplex com vista para o mar”. Relativamente a esse prédio em Guarujá. O senhor saberia me explicar como a jornalista em 2010 poderia afirmar que a cobertura tríplex seria do ex-presidente?” — pergunta o juiz.
O petista respondeu: “Eu vou lhe explicar, talvez não explique tudo. Mas o jornal O Globo nesse mesmo período fez 530 matérias negativas contra o Lula e só duas favoráveis. Então só posso entender que alguém do Ministério Público em São Paulo, que eu não vou dizer o nome, fomentava a imprensa, que fomentava ele (a jornalista). E isso foi tempo. Nós fizemos inclusive representação no Conselho Nacional do Ministério Público”.
Moro, então, questiona a divergência nas datas apresentadas por Lula. “Mas a questão que eu coloco, essa questão do tríplex que o senhor afirma aqui, ela só teria surgido em 2013, segundo o senhor. O senhor tem ideia como o jornalista, lá em 2010, do Globo, poderia ter feito uma matéria se referindo a essa cobertura tríplex que o senhor iria ficar? Nesse mesmo local, nesse mesmo prédio?”
Lula voltou a acusar os procuradores: “Porque deve ser uma invenção do Ministério Público”.
Moro insistiu: “Mas em 2010 nem tinha processo”.
E o ex-presidente concluiu: “Sei lá quando, fazer ilação se faz em qualquer momento”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Esta matéria de O Globo não cita que a reportagem de 2010 foi feita pela repórter Tatiana Farah. No site dá para ler o nome dela, mas na edição impressa ficou impossível. Graças à reportagem dela, o juiz Moro conseguiu desmentir Lula e desenrolou o fio da meada desse importante, intrigante e instigante processo. Parabéns à jornalista Tatiana Farah, que publicou a matéria com absoluta exclusividade. Como Marx e Engels diziam, não pode haver democracia sem liberdade de imprensa. Pena que os supostos seguidores do marxismo jamais tenham entendido esse pressuposto apresentado pelos pensadores alemães. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Esta matéria de O Globo não cita que a reportagem de 2010 foi feita pela repórter Tatiana Farah. No site dá para ler o nome dela, mas na edição impressa ficou impossível. Graças à reportagem dela, o juiz Moro conseguiu desmentir Lula e desenrolou o fio da meada desse importante, intrigante e instigante processo. Parabéns à jornalista Tatiana Farah, que publicou a matéria com absoluta exclusividade. Como Marx e Engels diziam, não pode haver democracia sem liberdade de imprensa. Pena que os supostos seguidores do marxismo jamais tenham entendido esse pressuposto apresentado pelos pensadores alemães. (C.N.)
14 de julho de 2017
Dimitrius Dantas e Tiago Dantas
O Globo
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