Como alguém supostamente capacitado para investigar, inquirir e perquirir em busca da verdade pode acreditar na primeira versão que se lhe apresenta?
As pessoas comuns tendem a acreditar na primeira versão, razão por que adágios se consagram ao longo do tempo: a primeira impressão é a que fica; onde há fumaça, há fogo; todo boato tem um fundo de verdade.
O ser humano é inclinado à maledicência. Se o boato for de uma notícia boa, o interlocutor somente acreditará depois de pesquisar em mais de uma fonte, até constatar que, “infelizmente”, a pessoa mencionada é realmente espetacular. Todavia, se a referência for negativa, imediatamente ela se espalha como rastilho de pólvora.
Ensina a crença popular que notícia ruim é que vende jornal. Não à toa, quase todos os veículos de comunicação priorizam a desgraça humana para preenchimento de suas páginas diárias, decerto porque a miséria alheia serve de consolo para os demais.
Imagine-se passando as maiores dificuldades, reclamando da vida e de tudo, quando, de repente, desaba um avião lotado de passageiros – homens, mulheres e crianças. A comoção é geral. Todos os que não estavam no voo darão graças a Deus por estar vivos.
No Brasil, por não ser um país que valoriza a vocação como a realização de uma atividade com sentido, predomina a cultura do emprego. O trabalho é um fardo onde se ganha aquele pouco para gastar na folia, por isso a maioria das pessoas se sente infeliz com o que faz e se joga desesperada em busca de prazeres sem limites, seja na droga, no álcool ou no sexo. Para manter-se no emprego, mesmo que maldito, valem as mais abjetas indignidades.
Por isso a fofoca é tão acreditada nos ambientes de trabalho, especialmente se tiver como objetivo derrubar alguém que está no caminho de algum carreirista incompetente, porém astuto e enganador.
Fiquei sabendo que três profissionais se encontraram por acaso em um restaurante e foram vistos por outros dois colegas que por lá também passaram, e esse encontro fortuito chegou aos ouvidos do chefe como uma conspiração para derrubá-lo. Sem checar o informe maledicente, cuidou de afastar os supostos conspiradores de suas posições.
Os incompetentes sempre apontam seus dedos sujos para os que não passam pela vida em brancas nuvens. Quem não aceita ser pisado e não dá ouvidos aos cochichos do compadrio colide com aqueles que vivem à espreita, esgueirando-se pelos cantos escuros da mediocridade.
14 de julho de 2017
Miguel Lucena é jornalista e delegado da Polícia Civil do Distrito Federal.
As pessoas comuns tendem a acreditar na primeira versão, razão por que adágios se consagram ao longo do tempo: a primeira impressão é a que fica; onde há fumaça, há fogo; todo boato tem um fundo de verdade.
O ser humano é inclinado à maledicência. Se o boato for de uma notícia boa, o interlocutor somente acreditará depois de pesquisar em mais de uma fonte, até constatar que, “infelizmente”, a pessoa mencionada é realmente espetacular. Todavia, se a referência for negativa, imediatamente ela se espalha como rastilho de pólvora.
Ensina a crença popular que notícia ruim é que vende jornal. Não à toa, quase todos os veículos de comunicação priorizam a desgraça humana para preenchimento de suas páginas diárias, decerto porque a miséria alheia serve de consolo para os demais.
Imagine-se passando as maiores dificuldades, reclamando da vida e de tudo, quando, de repente, desaba um avião lotado de passageiros – homens, mulheres e crianças. A comoção é geral. Todos os que não estavam no voo darão graças a Deus por estar vivos.
No Brasil, por não ser um país que valoriza a vocação como a realização de uma atividade com sentido, predomina a cultura do emprego. O trabalho é um fardo onde se ganha aquele pouco para gastar na folia, por isso a maioria das pessoas se sente infeliz com o que faz e se joga desesperada em busca de prazeres sem limites, seja na droga, no álcool ou no sexo. Para manter-se no emprego, mesmo que maldito, valem as mais abjetas indignidades.
Por isso a fofoca é tão acreditada nos ambientes de trabalho, especialmente se tiver como objetivo derrubar alguém que está no caminho de algum carreirista incompetente, porém astuto e enganador.
Fiquei sabendo que três profissionais se encontraram por acaso em um restaurante e foram vistos por outros dois colegas que por lá também passaram, e esse encontro fortuito chegou aos ouvidos do chefe como uma conspiração para derrubá-lo. Sem checar o informe maledicente, cuidou de afastar os supostos conspiradores de suas posições.
Os incompetentes sempre apontam seus dedos sujos para os que não passam pela vida em brancas nuvens. Quem não aceita ser pisado e não dá ouvidos aos cochichos do compadrio colide com aqueles que vivem à espreita, esgueirando-se pelos cantos escuros da mediocridade.
14 de julho de 2017
Miguel Lucena é jornalista e delegado da Polícia Civil do Distrito Federal.
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