"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 11 de junho de 2017

CIÊNCIA MOSTRA QUE O CÉREBRO DOS CORRUPTOS FUNCIONA DE FORMA DIFERENTE

O cérebro dos corruptos
ntonio Palocci, José Dirceu, Eduardo Cunha e Sérgio Cabral. Presos, os ex-ministros dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o ex-deputado e o ex-governador do Rio de Janeiro são donos de histórias distintas, mas dividem, todos os quatro, uma impressionante atração por corromper. Ao cidadão comum, aquele que paga as contas com dinheiro honesto, é até difícil compreender de onde surge tamanha propensão à negociata.
Nenhuma explicação justifica o comportamento de homens como eles, mas algumas informações lapidadas pela neurociência ajudam a entendê-lo, pelo menos sob a ótica da engenharia cerebral.
EM DISCUSSÃO – Nesta semana que se inicia, especialistas do mundo todo, reunidos no Brain Congress 2017, realizado em Porto Alegre, dedicarão boa parte das discussões aos achados recentes sobre o cérebro do corrupto. O primeiro fato: ele é diferente. Na leitura da ciência, o gosto pela corrupção se desenvolve nas mesmas estruturas neuronais onde se cristaliza a fissura pela droga ou pelo sexo. Ou seja, corromper dá prazer e vicia.
Entender a origem do mecanismo que colocou a corrupção no mesmo escaninho cerebral da dependência química obriga a olhar para trás, no início da evolução humana, quando o homem ainda lutava com feras para sobreviver, e conhecer como isso moldou o cérebro. Para dar conta dos perigos, circuitos associados à busca por comida ou à rapidez na fuga fortaleceram-se. Neles, também eram processadas estratégias que garantissem a sobrevivência de modo mais fácil. Trapacear para ficar com a melhor parte da caça, por exemplo.
RECOMPENSA – Nas mesmas áreas, abriga-se ainda o sistema de recompensa. É onde funciona a máquina que nos faz procurar prazer. Ele pode advir de ações diversas, incluindo do consumo de droga, da compra ou da sensação de ganhar dinheiro. Se for sem muito esforço, então, melhor ainda. Quanto mais o indivíduo se expõe a esses estímulos, mais o cérebro os associa a algo bom. Cria-se um ciclo em que a ação resulta em recompensa e a recompensa pede mais ação.
“A vontade se torna um hábito e o hábito reforça a vontade”, explica o neurologista André Palmini, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital São Lucas, da PUC-RS, e um dos organizadores do evento em Porto Alegre.
Essas são regiões alimentadas pelo instinto e pelas emoções. Não é por outra razão que reúnem o que se conhece como cérebro primitivo. O que diferencia a arquitetura cerebral humana da apresentada pelos animais é que, ao longo da evolução, o homem desenvolveu outra área igualmente importante, destinada a funcionar como um filtro do que é processado usando como base apenas os sentimentos.
JUÍZO CRÍTICO – No córtex frontal, as reações primárias são submetidas a um juízo crítico e moral formado segundo as regras civilizatórias vigentes. Lá são moduladas por variáveis como o que é certo ou errado ou as consequências que podem surgir. Nos corruptos, assim como em quem mata para roubar, esse filtro não funciona. Por isso, eles são movidos pelo impulso, pela procura do próprio prazer e pela inconsequência. “São psicopatas”, afirma o neurologista Vitor Haase, professor da Universidade Federal de Minas Gerais e outro dos palestrantes do encontro na capital gaúcha. “Mostram-se insensíveis aos males que causam.”
Do ponto de vista da neurobiologia, para que o desejo de corromper fosse contido seria necessário que as engrenagens do córtex pré-frontal funcionassem de forma mais atuante. A maneira com que operam tem a ver com a genética, mas também com o ambiente. Isso quer dizer que uma sociedade menos tolerante à corrupção e meios eficazes de punição servem como moduladores importantes no fortalecimento desses filtros.
“Se as pessoas aprendem que corromper não leva a consequências negativas e não é moralmente errado, o córtex não tentará inibir o comportamento”, explica Antoine Bechara, professor de Psicologia da University of Southern Califórnia, nos Estados Unidos, palestrante do congresso gaúcho. Historicamente, no entanto, os dois conceitos nunca fizeram parte da moralidade brasileira. Agora, pela primeira vez, começam a integrá-la. Isso dá esperança de que Paloccis, Dirceus, Cunhas e Sérgios sejam cada vez mais raros por aqui.

11 de junho de 2017
Deu na IstoÉ

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