O áudio da gravação feita pelo empresário Joesley Batista do diálogo com o presidente Michel Temer no porão do Palácio do Jaburu tem ruídos e interferências, mas pode ser usado como prova em qualquer julgamento na avaliação do professor da Universidade Federal de Alagoas George Sanguinetti e do perito forense e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Nelson Massini.
Os dois já haviam se posicionado sobre essa gravação e mantiveram suas avaliações depois da apresentação do laudo contratado pela defesa de Temer, apresentado nesta segunda-feira pelo perito Ricardo Molina. Ele chegou a dizer que o áudio é uma “prova imprestável” e “inteiramente contaminado por inúmeras descontinuidades, mascaramentos por ruídos, longos trechos ininteligíveis ou de inteligibilidade duvidosa e várias outras incertezas”.
SERVE DE PROVA – “A fita (o áudio) é boa e serve como prova” – disse Sanguinetti ao Globo. “Dá ate para notar o estado emotivo na fala de Joesley, que parece nervoso, e do presidente, mais comedido. Dá para ouvir todos os vocábulos” – acrescentou o professor, que evitou polemizar com o laudo do perito contratado por Temer.
Segundo ele, Molina pode ter usado equipamentos mais avançados que os dele, mas isso não muda a qualidade do áudio como prova. “Mantenho o que já disse, a fita (o áudio) é útil”.
Na semana passada, ele já havia se posicionado tecnicamente sobre a gravação após uma equipe multidisciplinar analisá-la. O parecer, publicado numa rede social dizia: “não há qualquer alteração no conteúdo de áudio do original gravado, sem sinais de montagem ou remanejo na gravação”.
MASSINI CONCORDA – Também para o professor Nelson Massini não há qualquer adulteração da gravação, e ele manteve sua posição mesmo após assistir a entrevista em que Molina aponta inconsistências no áudio. “Gravações desse tipo não são descartáveis. Só são descartadas quando ela são ilícitas. A prova não tem edição. O que tem de audível já dá um profundo mergulho no Código Penal” – disse ao Globo.
Na semana passada, ele já havia se posicionado tecnicamente pela autenticidade da gravação. “Se percebe que isso foi feito com um gravador amador, quer dizer, não existe aí nenhum profissionalismo, provavelmente ele deveria estar num bolso, né, de um, de um blazer ou de um paletó. E esse ruído é constante. Então a gente percebe que ele apesar de ter esse ruído, ele não há interrupção, ele é mantido na mesma posição, mantido o ruído até o final. Então não há, a princípio, nenhuma alteração, nenhum corte que demonstre que tenha sido editado” – disse em entrevista ao Jornal Nacional.
Massini argumentou ainda que não faz sentido do ponto de vista do delator editar partes da fala do presidente, pois ele queria gravar Temer para produzir provas. “Que manipulação ele fez para esconder a palavra do presidente, se ele quer provar algo contra o presidente?” – questiona Massini.
BÉJA COMENTA – O advogado Jorge Béja, de 71 anos, e que tem larga experiência em ações judiciais que exigiam laudos e perícias técnicas, disse ao Globo que a apresentação de Molina não deixou evidente a manipulação do áudio.
“Não me convenceu ter havido fraude, manipulação ou edição. O que há é uma gravação de má qualidade. Mas, o essencial não está negado. A ida de um meliante ao subsolo do Palácio. Ele deveria chamar a polícia para determinar a prisão desse meliante” – disse Béja, que atuou nos casos do naufrágio do Bateau Mouche, da chacina da Candelária e do desabamento do edifício Palace 2 .
Ele ressaltou ainda que a defesa de Temer deveria ter apresentado o parecer de Molina ao Supremo Tribunal Federal antes de divulgá-los e que para ter validade o parecer terá que contar com o comprometimento técnico de Molina em apresentar uma contestação verídica.
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NOTA DA REDAÇÃO DO GLOBO – A entrevista de Sanguinetti publicada na versão impressa de O Globo está muito mais pesada. Ele critica duramente Ricardo Molina por usar, na entrevista, expressões como “provavelmente”, “poderia”, “possivelmente”, “o mais provável”. Na visão do professor Sanguinetti, a perícia tem de se afirmativa, e não especulativa. Eis a questão. (C.N.)
23 de maio de 2017
Jeferson Ribeiro
O Globo
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