Vale recontar a história. Juscelino Kubitschek era governador de Minas, candidato declarado à presidência da República, mesmo que o PSD ainda não tivesse realizado sua convenção. Tinha audiência com Café Filho, presidente, e informou aos jornalistas, no palácio do Catete, que não trataria de política, mas da questão do café, cujo preço desagradava os fazendeiros mineiros. Ao entrar no gabinete presidencial, foi surpreendido com exagerados gestos de euforia. De início, Café levou-o à sua mesa de trabalho, insistindo para que sentasse na cadeira presidencial. Meio constrangido, JK sentou, mas espantou-se pela mudança de tratamento do anfitrião, que disse rispidamente: “Pois essa foi a primeira e a última vez que ocupou esse lugar. Você não será presidente, pois os militares não querem!”
Café mostrou ao governador um manifesto que havia recebido dos generais, alertando para a inconveniência da candidatura de Juscelino e pregando alguém de união nacional, certamente algum deles.
VEGETAL OU ANIMAL? – A audiência estava terminada e o candidato desceu ao andar térreo, onde ficava a sala de imprensa. Os repórteres nada sabiam daquele estranho diálogo e indagaram sobre o problema dos preços do café. Juscelino, de pronto replicou: “De que café você está falando, o vegetal ou o animal?”
Naquela noite, as emissoras de rádio divulgaram o manifesto militar, e todos queriam saber da reação do governador. Foi quando ele produziu uma das frases mais contundentes daquele período: “Sou candidato, não recuo, porque Deus poupou-me o sentimento do medo!”
Oficializado pela convenção do PSD, ganhou e tomou posse, mesmo precedida por grave crise institucional, a deposição de Café Filho pelo ministro da Guerra, general Henrique Lott.
Por que se recorda o episódio? Porque o Lula é candidato, mas contestado pelas mesmas forças reacionárias de sempre. Repetirá o comentário de JK?
26 de fevereiro de 2017
Carlos Chagas
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