Uma espantosa reportagem de Camila Mattoso e Gustavo Uribe, publicada nesta semana pela Folha de S.Paulo, revelou que o advogado Gustavo do Vale Rocha, subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, está em campanha para a vaga de ministro da Justiça. “O assessor jurídico já indicou abertamente ao presidente Michel Temer a disposição de assumir a pasta e passou a buscar apoio na última sexta-feira, após a negativa do ex-ministro do STF Carlos Velloso em assumir o cargo. Procurado, Rocha disse que não se manifestaria”, afirmaram os repórteres, acrescentando:
“O apoio mais forte é o de Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Embora não manifeste publicamente, Janot tem dito a interlocutores que aprovaria a escolha”.
PADILHA EM AÇÃO – Na tradução simultânea, isso significa que Rocha está obedecendo ordens de seu chefe imediato, o ministro Eliseu Padilha, que é citado na Lava Jato como operador do caixa dois do PMDB e está respondendo a um gravíssimo processo por crime ambiental e a uma ação de improbidade administrativa, na qual até reivindica foro privilegiado no Supremo, para escapar da primeira instância.
Além disso, o procurador Janot acaba de pedir ao Supremo a abertura de mais um processo contra Padilha por crime ambiental e a Comissão de Ética da Presidência está investigando o chefe da Casa Civil por falta de decoro, no caso da recente palestra a funcionários graduados da Caixa Econômica, na qual teve oportunidade de revelar como o governo Temer tem negociado acordos políticos em troca de cargos no Ministério.
SEM CONDIÇÕES MORAIS – Com uma folha corrida desse nível, Padilha não tem condições morais para fazer indicações de ministros, era só o que faltava. No entanto, ele é o responsável direto pela “autocandidatura” de seu assessor Gustavo Rocha, divulgada com intensidade pela própria Assessoria de Imprensa do Planalto, que supostamente já passou a ser subordinada ao neoministro Moreira Franco, mas na prática só obedece a Padilha.
A excelente matéria de Camila Mattoso e Gustavo Uribe, que serviu de pauta a toda a grande mídia, relembra o currículo do assessor/candidato a ministro, que se assemelha ao de Padilha e também parece um atestado de antecedentes. Na verdade, Rocha chegou ao cargo atual porque trabalhava há anos para a cúpula do PMDB e defendeu Eduardo Cunha na Justiça. Por isso, sua nomeação teve apoio entusiástico de todos os caciques do PMDB, que simbolizam uma verdadeira formação de quadrilha.
SEM NOTÓRIO SABER – Além disso, experiência de Gustavo Rocha como advogado é bisonha e ele costuma atuar em causas verdadeiramente desclassificantes, como a defesa de uma ação montada para beneficiar fabricantes de cigarros acusados de sonegação, conforme denunciou nesta quarta-feira nosso amigo Ancelmo Gois, que comanda a mais lida coluna do jornalismo brasileiro.
Na Casa Civil, Gustavo Rocha foi o autor da defesa errática que manteve na presidência da Empresa Brasileira de Comunicação o petista Ricardo Melo. Na ocasião, para preservar Rocha, a Assessoria de Imprensa do Planalto distribuiu informes atribuindo a trapalhada ao então ministro Fábio Medina Osório, da Advocacia-Geral da União, que não tinha nada a ver com a questão e até tentara ajudar a inexperiente Subchefia Jurídica da casa Civil.
SERVIÇAIS DE PADILHA – No Planalto, todo mundo sabe que Gustavo Rocha e o assessor de imprensa Márcio de Freitas Gomes trabalham para Padilha e não para Temer, mas às vezes há serviços que atendem aos dois senhores. Foi o que aconteceu em dezembro, quando Rocha mandou a Curitiba seu sócio no escritório de advocacia, Renato Oliveira Ramos, para conversar com Eduardo Cunha e evitar que ele fizesse delação premiada. Sem dúvida, a viagem do causídico era do interesse de Padilha e de Temer, coisa rara nos últimos tempos.
Na verdade, a “candidatura” de Gustavo Rocha ao Ministério é uma piada sem graça, uma afronta do ex-amigo Padilha ao presidente Temer, que não tem como demiti-lo, por se tratar de uma nova versão de hitchcockiano homem que sabia demais.
SEM CONDIÇÕES – O atual ocupante da Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil não tem a menor condição de ser ministro da Justiça, embora outros desclassificados também já tenham ocupado o importantíssimo cargo.
Um deles foi Jarbas Passarinho, signatário da portaria criando a “Nação Ianomami”, que deu a uma tribo nômade de 3,5 mil índios uma área contínua de 9,4 milhões de hectares, equivalente a mais de duas vezes o tamanho do Estado do Rio de Janeiro. Outro conhecido ministro da Justiça foi Renan Calheiros, nomeado pelo trêfego presidente Fernando Henrique Cardoso, aquele que mandou esquecerem o que havia escrito, tipo Alexandre Moraes.
O fato é que qualquer ato de Gustavo Rocha sempre dá errado. Em novembro, por exemplo, ele apareceu nas gravações do então ministro Marcelo Calero (Cultura) defendendo o obra em Salvador que causou a demissão de Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo). Na gravação, Rocha diz que a Advocacia-Geral da União iria resolver o problema, mas acontece que na época já existia parecer definitivo da própria AGU embargando a obra de Geddel.
CENSURA À IMPRENSA – Recentemente, Gustavo Rocha aceitou fazer outra bobagem, ao atender a Temer e assinar petição em nome da primeira-dama Marcela, requerendo que fossem censuradas as notícias sobre chantagem de um hacker. A ação movida pelo assessor de Padilha rendeu críticas pesadas ao casal Temer e causou revides da Folha e de O Globo, transformando o caso num escândalo nacional e fazendo a própria Comissão de Ética da Presidência abrir investigação sobre a conduta do subchefe de Assuntos Jurídicos no caso.
É por ordem direta de Padilha que a Assessoria de Imprensa do Planalto vaza informes de que o procurador-geral Rodrigo Janot é adepto da nomeação de Gustavo Rocha para o Ministério da Justiça, mas a informação não é verdadeira. Na verdade, Janot está em cima do muro, porque pretende ser reconduzido ao cargo de procurador-geral pela terceira vez e lhe disseram que Temer pretenderia nomear Gustavo Rocha, o que é um delírio total, vejam a que ponto chegou a rede de intrigas em que se transformou o Palácio do Planalto.
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PS – Quanto à suposta doença de Padilha, que teria sido hospitalizado por dois dias esta semana, também é outro mistério. A doença alegada (hiperplasia prostática benigna) não exige internação. Isso só ocorre quando o paciente não consegue urinar, tem de ser submetido à retirada da urina por meio mecânico (uma seringa enorme, usada em veterinária) ou então é submetido a uma cirurgia reparadora que exige vários dias no hospital, o cidadão fica deitado de bruços, na posição em que Napoleão perdeu a guerra na Batalha de Waterloo. Aliás, na verdade o mal do imperador francês eram simplórias hemorróidas, agravadas por ter de montar a cavalo, mas isso já é outro assunto, porque a Tribuna da Internet também é cultura. (C.N.)
PS – Quanto à suposta doença de Padilha, que teria sido hospitalizado por dois dias esta semana, também é outro mistério. A doença alegada (hiperplasia prostática benigna) não exige internação. Isso só ocorre quando o paciente não consegue urinar, tem de ser submetido à retirada da urina por meio mecânico (uma seringa enorme, usada em veterinária) ou então é submetido a uma cirurgia reparadora que exige vários dias no hospital, o cidadão fica deitado de bruços, na posição em que Napoleão perdeu a guerra na Batalha de Waterloo. Aliás, na verdade o mal do imperador francês eram simplórias hemorróidas, agravadas por ter de montar a cavalo, mas isso já é outro assunto, porque a Tribuna da Internet também é cultura. (C.N.)
23 de fevereiro de 2017
Carlos Newton
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