“Vossa Excelência é reconhecidamente capaz, qualificado e experiente”, exaltou o líder do PSDB, Paulo Bauer. “É um homem de coragem cívica, que se coloca sempre a serviço do Brasil”, reforçou o presidente do DEM, José Agripino. À primeira vista, os discursos passariam como homenagens a Ruy Barbosa. Mas os senadores tratavam de um personagem controvertido: Alexandre de Moraes, futuro ministro do Supremo Tribunal Federal.
Apesar da polêmica que cercou a escolha, a sabatina foi um passeio. Com ampla maioria, os governistas mantiveram a Comissão de Constituição e Justiça esvaziada. Quando apareciam, tocavam a bola para o lado, deixando o tempo correr com elogios e perguntas inofensivas.
Ninguém esperava muito rigor de uma sabatina chefiada por Edison Lobão, mas o próprio Moraes deve ter se surpreendido com a docilidade dos inquisidores. Investigados na Lava Jato falavam despreocupadamente sobre temas como o excesso de partidos e a lei da vaquejada.
AMIGO TUCANO – O senador Aécio Neves chegou a arriscar um gracejo. Disse que o futuro juiz, defensor de sua campanha em 2014, poderia ter atuado de graça. “Eu até gostaria que ele tivesse oferecido os serviços ao partido. Infelizmente, não o fez naquele momento”, lamentou. Moraes deixou o PSDB há apenas duas semanas.
À vontade, o ex-tucano conseguiu se esquivar das investidas da oposição. Coube ao folclórico Magno Malta, defensor do governo Temer, fazer a pergunta que interessava: “O senhor está sendo indicado para blindar os seus amigos?”. O ex-advogado de Eduardo Cunha respondeu que não, e a conversa parou por aí.
Satisfeito, Malta revelou a última dúvida que o afligia: “Quando um senadorzinho ou um deputado pedir audiência, o senhor vai receber no gabinete ou vai receber de pé naquele salão, no meio de um monte de gente?”. “Uma autoridade recebe outra autoridade no gabinete”, respondeu Moraes. Aprovado com louvor.
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HIPOCRISIA NA SABATINA DE MORAES
HIPOCRISIA NA SABATINA DE MORAES
Frederico VasconcelosFolha
Segundo revela “O Estado de S. Paulo”, Magno Malta perguntou ao ministro licenciado se ele ‘não tem vergonha’ de ter feito lobby para ser aprovado ministro do Supremo Tribunal Federal. “O sr. que está servindo um governo, o sr. não tem vergonha de ter feito um lobby de gabinete em gabinete (no Senado)? É hipocrisia demais”, provocou Malta.
Vale recordar trechos de pronunciamento de Magno Malta em 2005, quando o plenário do Senado rejeitou, numa primeira votação, a indicação de Alexandre de Moraes para compor o Conselho Nacional de Justiça:
“Senhor presidente, lamento que o nome do Sr. Alexandre de Moraes tenha caído. Conheço esse rapaz, que é integro, de bem, está a serviço da Nação e presta um dos maiores serviços ao Estado de São Paulo. (…) Era um dos melhores quadros do País a integrar o Conselho. (…) Inexplicavalmente, o nome dele cai. (…) Tenho o direito, por conhecer esse moço, de revelar minha insatisfação em função de não ter sido aprovado seu nome no plenário do Senado Federal”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – As informação de Bernardo Mello Franco e Frederico Vasconcelos se completam à perfeição, revelando que, em matéria de hipocrisia, Alexandre de Moraes e Magno Malta praticamente se equivalem. Aliás, a bancada da corrupção, que é amplamente majoritária e reúne parlamentares de quase todos os partidos, vibrou com o desempenho de Moraes, que na vida acadêmica não foi aprovado “com louvor” na tese de doutorado, mas na política agora conseguiu a láurea. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – As informação de Bernardo Mello Franco e Frederico Vasconcelos se completam à perfeição, revelando que, em matéria de hipocrisia, Alexandre de Moraes e Magno Malta praticamente se equivalem. Aliás, a bancada da corrupção, que é amplamente majoritária e reúne parlamentares de quase todos os partidos, vibrou com o desempenho de Moraes, que na vida acadêmica não foi aprovado “com louvor” na tese de doutorado, mas na política agora conseguiu a láurea. (C.N.)
23 de fevereiro de 2017
Bernardo Mello Franco
Folha
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