Thank you, man! Valeu, cara! Em nome de bilhões de seres humanos de todas as partes do globo, venho expressar o agradecimento por tudo o que você fez para deixar seu país maior e menos prepotente para o mundo; e o mundo melhor e menos perigoso para todos.
Desculpe o tom de intimidade mas protocolos e formalidades definitivamente não combinam com seu jeitão despojado. O título de indivíduo mais poderoso do planeta não lhe cai bem. Você na presidência simbolizava a glorificação da simplicidade.
Um negro no poder? Não, você representava a diversidade de cores. O que se ressalta em você não é a cor da pele mas o sorriso no rosto. Um sorriso aberto e franco que condiz com seu estilo desprendido. Uma postura que nos permitia dormir tranquilos, sem antever ameaças de insanidades belicistas. Sua única obstinação era a de aproximar inimigos, resolver desavenças na base do diálogo, evitando conflitos e derramamento de sangue. Você não discriminava ninguém: iranianos, coreanos, cubanos, mexicanos. Todos manos.
O branquelo que vai, a partir de agora, ocupar sua cadeira pensa um pouco diferente. Ele não gosta muito de conversa. O negócio dele é erguer muros, ressaltar diferenças, propagar ódio. Nem por isso, você foi indelicado ao recebê-lo no salão oval da Casa Branca. Manteve o tempo todo o semblante sereno, sem perder a pose.
Imagino como será difícil para você ter de lhe passar a senha de acesso ao botão vermelho que aciona artefatos de exterminação em massa. O empresário magnata, agora também o senhor das armas, vai poder brincar de dizimar inimigos. Primeiro, o Estado Islâmico. Em seguida, a Coreia do Norte. E depois? O Irã? Cuba? Venezuela? Até onde vai a escalada macabra?
O soar das ‘trumpetas’ do apocalipse nuclear consagrará a supremacia da civilização cristã anglicana sobre os destroços do planeta. O deus loiro de topetes esvoaçantes vai perpetrar a grande cruzada para subjugar os ímpios selvagens do Islã, os negros arruaceiros da África subsaariana e os latinos traficantes, invasores pelo flanco meridional. O mundo, ou o que sobrar dele, vai ficar um lugar bem mais perigoso para se viver, não acha?
Fazer o quê? Efeitos dessa tal de democracia em que o voto de alguns milhares de brancos broncos do Texas e do Alabama determina o destino de 7 bilhões de indivíduos de todas as raças e credos. Essa eleição expôs a verdadeira face da sociedade americana, obscurantista, racista, xenófoba. Saudosa da época em que podia, sem culpa, exterminar índios, pretende redimir os tradicionais valores da cultura ianque, ameaçados pela globalização e pela invasão de produtos chineses. Para tanto, elege um “outsider” da política. Não! Um “Insider”, difusor da hegemonia branca ocidental retrógrada, exploradora dos fracos e devastadora do meio-ambiente... Você sim, humanista, pluralista, pacifista, ecologista, antiarmamentista foi um autêntico “outsider”. Uma ovelha negra em meio a uma alcatéia de lobos brancos.
Não sei dos caipiras do interior americano mas o resto do mundo certamente preferia um cara descolado como você. Líderes com seu perfil estão se tornando joias raras onde princípios como fraternidade, diálogo, tolerância estão tão escassos quanto os votos de Hillary nos confins do Oklahoma.
Seu adversário disse que vai fazer a América Grande de novo. Como assim? Se foi no seu governo que o país se recuperou da decadência e alcançou uma primorosa situação econômica e tecnológica...
Sem falar no campo diplomático onde seus esforços de paz e de aproximação entre os povos melhoraram como nunca a imagem do seu país. Entendemos sua dificuldade em lidar com cascas grossas como Kim Jong-un, Netanyahu, Bashar al-Assad. Gente do mal que só promove guerras e mortes. E, claro, o (Ras) Putin eurasiano. Parece que seu sucessor vai se dar bem com o ex-oficial da KGB. São aliados naturais, navegam no mesmo mar de mediocridade. O tirano russo vai ganhar de bandeja a Síria, a Ucrânia e sabe-se lá o que mais. Em troca, não se meterá com o resto da Europa e menos ainda com os grotões miseráveis da América Latina e da África que, para ambos, não passa de lixo.
That´s it! Talvez os Estados Unidos que elegeram Trump tenham mesmo se tornado pequenos demais para você. A gente se vê na próxima campanha daqui a quatro anos... se o mundo aguentar até lá.
Não vamos nos esquecer de você, brother! Já estamos com saudades. Vê se não some. Você sim é que é o cara!
Um beijo na Michelle
Sérgio Sayeg
19 de novembro de 2016
recebido por email
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