Para quem, em passado recente, protagonizou espetáculo pífio e vergonhoso ao dançar em uma das calçadas de Paris com guardanapo amarrado à cabeça, ao lado de comparsas, esta quinta-feira (17) começou mal, bem diferente da farra que teve lugar na capital francesa. Ex-governador do Rio de Janeiro e fanfarrão conhecido, Sérgio Cabral Filho (PMDB) foi preso nas primeiras horas do dia pela Polícia Federal, no rastro da Operação Calicute, um desdobramento da Operação Lava-Jato.
Cabral foi preso preventivamente sob a acusação de cobrança de propina em contratos firmados pelo governo fluminense com empreiteiras. Além do ex-governador, outras oito pessoas foram presas pela PF em caráter preventivo (sem prazo determinado): Wilson Carlos Cordeiro da Silva Carvalho, ex-secretário de governo do RJ; Hudson Braga, ex-secretário estadual de obras; Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, sócio de Cabral na empresa SCF Comunicação; Luiz Carlos Bezerra; Wagner Garcia; José Orlando Rabelo; Luiz Paulo Reis. Foram presos temporariamente (prazo de cinco dias, renovável pelo mesmo período) Paulo Fernando Magalhães Pinto, administrador de empresas e ex-assessor de Sérgio Cabral, e Alex Sardinha da Veiga.
O ex-governador foi alvo de dois mandados de prisão preventiva, sendo um expedido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, e outro pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável na primeira instância do Judiciário pelos processos resultantes da Lava-Jato.
A Operação Calicute, que tem como base a colaboração premiada do empresário Fernando Cavendish, ex-dono da construtora Delta, conduziu de forma coercitiva a esposa de Cabral, Adriana Ancelmo. A outra operação, desdobramento da Lava-Jato, teve como ponto de partida a colaboração premiada de executivos da construtora Andrade Gutierrez e da Carioca Engenharia.
Cabral e os outros acusados são acusados de receber propinas em concessões de obras públicas, como a reforma do Estádio Mário Filho, o Maracanã, e a construção do Arco Metropolitano.
A investigação começou a partir das delações de Clóvis Primo e Rogério Numa, executivos da Andrade Gutierrez, feitas no âmbito do inquérito do caso envolvendo a Eletronuclear. Primo e Numa dois revelaram aos investigadores que executivos das empreiteiras reuniram-se no Palácio Guanabara, sede do Executivo fluminense, para tratar da propina e que houve cobrança nos contratos de grandes obras. Só a Carioca Engenharia comprovou o pagamento de mais de R$ 176 milhões em propina ao grupo comandado por Cabral.
Segundo os investigadores, o ex-governador do RJ cobrou propina de 5% do valor total do contrato para permitir que a construtora Andrade Gutierrez se associasse à Odebrecht e à Delta, no consórcio que disputaria a reforma do Maracanã, em 2009. Na ocasião, Cabral Filho negou os fatos.
O prejuízo estimado é superior a R$ 220 milhões. Os envolvidos no esquema são acusados de organização criminosa, corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.
A operação foi batizada de “Calicute” por duas razões: o nome do principal alvo da ação policial e o momento enfrentado pelo mesmo. Calicute é uma região da Índia, onde Pedro Alváres Cabral, descobridor do Brasil, enfrentou uma das maiores tormentas de sua carreira como explorador dos mares.
17 de novembro de 2016
ucho.infoi
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