"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 16 de outubro de 2016

SEM RETOMAR O DESENVOLVIMENTO, NÃO HAVERÁ SAÍDA PARA O GOVERNO E PARA O PAÍS

Charge do Nani (nanihumor.com)

Se não existe almoço grátis, como dizem os economistas, não existe débito sem crédito na linguagem dos contabilistas. As duas afirmações são verdadeiras. Mas qual o reflexo da redução dos preços da Petrobrás quanto à gasolina e ao óleo diesel no cálculo da inflação pelo IBGE? Tem que ser algum.

Reportagem de Bruno Rosa, Daiane Costa, Juliana Garçon e Martha Beck, no Globo, e de Lucas Vettorazzo, Folha de São Paulo, edições deste sábado, focalizaram o tema e destacaram pontos para uma análise em consequência. Em um dos enfoques, o de Vettorazzo, a causa estaria no fato do temor da Petrobrás em perder mercado para as importadoras, cujos preços para as distribuidoras e os postos favoreceriam sua atuação no mercado.

Daí a necessidade de a estatal, que refina 2 milhões de barris por dia, incluindo toda a linha de produção, equiparar os preços para enfrentar a concorrência.

QUESTÃO COMPLEXA – Perfeito o raciocínio. Mas a questão, bastante complexa, não termina aí. Na realidade, começa neste ponto. O preço da gasolina cobrado das distribuidoras cai 3,2%. O preço do diesel recua 2,7%. Para os consumidores, todos nós, a redução média pode chegar a 1,4%. Mas isso depende dos postos.

Em quaisquer das condições, as diferenças, claro, ficam com as distribuidoras, abrangendo os postos, Como não existe crédito sem débito, a Petrobrás, no fundo, está subsidiando o setor da distribuição. Por qual motivo? Vamos deixar o ângulo econômico produtivo e focar no aspecto inflacionário aparente.

A operação elaborada vai produzir um reflexo no índice calculado pelo IBGE. Claro. Porque o IBGE, assim como a FGV, partem dos efeitos no consumo final, não dos efeitos na produção. Com o estratagema, o custo de vida vai baixar, com ele a inflação oficial. Abrirá dessa forma campo para a redução da taxa Selic, que rege os juros anuais para rolagem da dívida federal, hoje na escala aproximada de 3 trilhões de reais.

TAXA SELIC – Esses juros estão, como se sabe, no patamar de 14,25%. Produzem, portanto, uma despesa da ordem de 420 bilhões de reais a cada doze meses. É a maior despesa do Poder Executivo, também a maior do país, sem influência na produção econômica e sem produzir fator social algum. E sem maior consequência na arrecadação fiscal.

Falei em 14,25%, produzindo desembolso de 420 bilhões. Um corte de 0,5% equivale a uma diminuição anual concreta de 2,1 bilhões, apenas. Não muda muita coisa. Não há, assim, novidades no front.

Entretanto, o subsídio indireto da Petrobrás à comercialização vai influir para diminuir o índice inflacionário, os reajustes salariais, os aluguéis, entre outros setores.

REFLEXOS POSITIVOS – Politicamente, o governo Michel Temer espera alcançar reflexos positivos. Sem dúvida, eles poderão vir dos preços. Porém, somente se os custos dos transportes encontrarem os endereços dos supermercados.

Vamos ver e torcer para que a iniciativa da Petrobrás não se perca apenas na área da distribuição de combustíveis. E sim funcione como uma forte alavanca para o início de um processo efetivo de redistribuição de renda, sem o qual a retomada do desenvolvimento fracassará.

E sem a retomada do desenvolvimento, para fomentar o consumo e a arrecadação, não haverá saída, nem para o governo nem para o país.


16 de outubro de 2016
Pedro do Coutto

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