Recentemente, dois colegas de movimento, Fernando Holiday e Rubens Nunes, anunciaram suas respectivas pré-candidaturas às eleições municipais de 2016. Holiday se prepara para disputar uma cadeira de vereador em São Paulo; Nunes, a Prefeitura de Vinhedo, cidade do interior de São Paulo.
Já era esperado que as viúvas do PT espumassem, em discursos retrógrados e odiosos, sua revolta contra a mudança e contra a ascensão política de uma nova geração. O problema é que, sem perceber, muitas pessoas que compartilham das ideias do movimento adotam perspectiva similar.
Antes de anunciarmos que inúmeros coordenadores do MBL vão se candidatar país afora, muitos apoiadores do movimento perguntavam se pretendíamos "entrar para a política". Ora, o MBL, desde que surgiu, só atuou dentro da política. Manifestações de rua, protestos nas galerias do Congresso Nacional, pressão corpo a corpo nos gabinetes e nas bases eleitorais de deputados e senadores, campanhas e denúncias nas redes sociais... Tudo isso é política.
Você que se manifesta pelo impeachment de Dilma Rousseff também "entrou para a política", ainda que não tenha se dado conta disso. Disputar eleições é apenas mais uma frente de batalha dos eternos embates políticos.
Lembro-me que, na manifestação do dia 13 de março, um homem se aproximou de mim e do Fernando e disse que confiava em nós, que esperava que não nos corrompêssemos. "Obrigado, espero que o senhor também não se corrompa!", respondi. Ele estranhou: "Ué, por que eu iria me corromper?" Repeti a pergunta. Ele sorriu. Entendeu que, para qualquer pessoa honesta, aquela advertência não fazia o menor sentido.
Não acredito no velho ditado que diz que "a ocasião faz o ladrão". Não acredito que as pessoas sejam cem por cento moldadas pelo meio em que vivem e que não possam fazer nada sobre isso. Acredito em valores, em virtudes. Se partirmos da premissa de que a política institucional é uma espécie de mão de Midas às avessas, que corrompe tudo o que toca, é mais inteligente não votar, não se manifestar, ficar em casa. Afinal, de que adiantaria sustentar um troca-troca permanente de ladrões?
É compreensível que, em meio ao mar de lama no qual a política brasileira foi jogada, haja certo preconceito contra todos aqueles que demonstrem disposição de disputar cargos eletivos. Mas assumir que a política e o lamaçal são a mesma coisa é um erro grave, que só é do interesse de quem está afundado no pântano e quer nivelar por baixo todos aqueles que representam uma ameaça ao seu criminoso modo de fazer política.
A política não é uma ferramenta perfeita que, magicamente, resolverá todos os nossos problemas. Mas é o que temos. Não existe panaceia. A história nos mostrou que sempre que salvadores da pátria se apresentaram para criar um mundo melhor, ignorando a política, houve ditadura. E ditaduras, sejam elas de esquerda, de direita ou diagonais, não me interessam.
Adotar um discurso conformista e derrotista não adianta nada. Nivelando toda a classe política por baixo, sem exceções, tornamo-nos eternos reféns de canalhas que vivem de saquear a coisa pública. Se não mudarmos as pessoas, não mudamos as instituições.
29 de junho de 2016
Kim Kataguiri, Folha de SP
Já era esperado que as viúvas do PT espumassem, em discursos retrógrados e odiosos, sua revolta contra a mudança e contra a ascensão política de uma nova geração. O problema é que, sem perceber, muitas pessoas que compartilham das ideias do movimento adotam perspectiva similar.
Antes de anunciarmos que inúmeros coordenadores do MBL vão se candidatar país afora, muitos apoiadores do movimento perguntavam se pretendíamos "entrar para a política". Ora, o MBL, desde que surgiu, só atuou dentro da política. Manifestações de rua, protestos nas galerias do Congresso Nacional, pressão corpo a corpo nos gabinetes e nas bases eleitorais de deputados e senadores, campanhas e denúncias nas redes sociais... Tudo isso é política.
Você que se manifesta pelo impeachment de Dilma Rousseff também "entrou para a política", ainda que não tenha se dado conta disso. Disputar eleições é apenas mais uma frente de batalha dos eternos embates políticos.
Lembro-me que, na manifestação do dia 13 de março, um homem se aproximou de mim e do Fernando e disse que confiava em nós, que esperava que não nos corrompêssemos. "Obrigado, espero que o senhor também não se corrompa!", respondi. Ele estranhou: "Ué, por que eu iria me corromper?" Repeti a pergunta. Ele sorriu. Entendeu que, para qualquer pessoa honesta, aquela advertência não fazia o menor sentido.
Não acredito no velho ditado que diz que "a ocasião faz o ladrão". Não acredito que as pessoas sejam cem por cento moldadas pelo meio em que vivem e que não possam fazer nada sobre isso. Acredito em valores, em virtudes. Se partirmos da premissa de que a política institucional é uma espécie de mão de Midas às avessas, que corrompe tudo o que toca, é mais inteligente não votar, não se manifestar, ficar em casa. Afinal, de que adiantaria sustentar um troca-troca permanente de ladrões?
É compreensível que, em meio ao mar de lama no qual a política brasileira foi jogada, haja certo preconceito contra todos aqueles que demonstrem disposição de disputar cargos eletivos. Mas assumir que a política e o lamaçal são a mesma coisa é um erro grave, que só é do interesse de quem está afundado no pântano e quer nivelar por baixo todos aqueles que representam uma ameaça ao seu criminoso modo de fazer política.
A política não é uma ferramenta perfeita que, magicamente, resolverá todos os nossos problemas. Mas é o que temos. Não existe panaceia. A história nos mostrou que sempre que salvadores da pátria se apresentaram para criar um mundo melhor, ignorando a política, houve ditadura. E ditaduras, sejam elas de esquerda, de direita ou diagonais, não me interessam.
Adotar um discurso conformista e derrotista não adianta nada. Nivelando toda a classe política por baixo, sem exceções, tornamo-nos eternos reféns de canalhas que vivem de saquear a coisa pública. Se não mudarmos as pessoas, não mudamos as instituições.
29 de junho de 2016
Kim Kataguiri, Folha de SP
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