"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

E O BRAXIT, HEIN?

A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, evento comparado à queda do Muro de Berlim em importância histórica, surpreendeu o mundo, o continente e os próprios britânicos. Um dia após o referendo de quinta-feira passada, centenas de milhares de súditos da rainha reivindicam a realização de uma segunda votação; mas tanto o demissionário David Cameron quanto a cúpula europeia descartam qualquer possibilidade de revisão. Em um paradoxo da era da hiperinformação, uma multidão de internautas procurou no oráculo Google o que significa a União Europeia. Tentava entender - muito tarde - o projeto que ajudou a reconstruir um continente devastado pela Segunda Guerra Mundial e evitou conflitos bélicos por 50 anos. Nenhum desses argumentos favoráveis foi capaz de demover o eleitor britânico dos temores que fundamentam o Brexit: a imigração e o desemprego, efeitos da globalização.

Por aqui nestes trópicos, o divórcio entre Londres e Bruxelas suscitou um debate livre - batizado de Braxit - sobre uma eventual defecção brasileira do Mercosul. Em entrevista ao Correio e a outros jornais, o presidente Michel Temer sinalizou que o bloco econômico está em avaliação. Não é segredo que o Mercosul apresenta profundas lacunas, pela simples razão de que afeta pouco ou quase nada os cidadãos. Exceto a dispensa de passaporte na imigração dos países e algumas outras facilidades, são muitos sutis os efeitos do bloco econômico no cotidiano dos países integrantes. Mais grave é a ineficiência comercial do bloco, formado por economias heterogêneas e com dificuldade em estabelecer acordos benéficos a todos os integrantes.

Desde que foi criado, o Mercosul acumula perdas competitivas em relação a outras iniciativas comerciais, como o tratado de comércio Transpacífico. Com a mudança de ares na política externa brasileira, há um indicativo de que o governo pretende investir em negociações bilaterais, sem necessariamente anular o Mercosul. Trata-se de equação complexa - e exatamente por esse motivo precisa ser resolvida o quanto antes.

O fenômeno Brexit e as críticas ao Mercosul revelam uma variável importante do nosso tempo: o contraste entre o interesse nacional e a globalização. Os britânicos mostraram que estão mais preocupados com o que acontece em seu território, sem levar em conta os benefícios que o Reino Unido obtinha no continente europeu. Como os governos do Mercosul estão longe de alcançar os feitos obtidos na Europa, tem-se a sensação de que o bloco virtualmente não existe. Essa percepção popular não está de todo equivocada.



29 de junho de 2016
Carlos Alexandre, Correio Brazilense

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