O presidente Temer acha que o país não pode ficar dez anos na atual situação. Mas sua ansiedade deve se traduzir em reformas
“A Operação Lava-Jato deve prosseguir enquanto houver irregularidades”, reconhece Michel Temer. “Mas o país não pode ficar dez anos nesta situação”, sugere o presidente interino. Ora, as degeneradas práticas políticas investigadas pela Lava-Jato parecem existir há mais de dez anos, e durariam outros dez não fosse o despertar de instituições republicanas como a Polícia Federal, o Ministério Público, o Tribunal de Contas da União e o Poder Judiciário. Mas o presidente, que parece ansioso em abreviar nossa penosa situação, pode fazer muito a esse respeito. Afinal, foram exatamente a omissão e a cumplicidade do Executivo e do Legislativo quanto a essas práticas degeneradas que nos atolaram nesse lamaçal.
Um dia após a aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, Temer deveria encaminhar ao Congresso uma mensagem com o seguinte teor: “A classe política está sob suspeita. Houve acusações de compra de votos na aprovação da emenda constitucional favorável à reeleição, financiamentos irregulares de campanhas eleitorais, compra de sustentação parlamentar, obstrução de Justiça e desvio de recursos públicos envolvendo nossas principais lideranças políticas. É incontornável a conclusão de que há algo de profundamente errado com nossa forma de lidar com a coisa pública. Devemos ao povo brasileiro uma reforma política.” A negligência e até mesmo a hipocrisia ante a corrupção sistêmica tornam insaciável a opinião pública e intermináveis as investigações da Lava-Jato.
Piratas privados e políticos corruptos aperfeiçoaram a engrenagem de administração centralizada herdada do regime militar. A corrupção na política e a armadilha do baixo crescimento na economia são as duas faces de um governo central hipertrofiado e disfuncional. Um pacto federativo permitiria a reforma administrativa do Estado para enxugamento radical do número de ministérios e a descentralização de recursos para estados e municípios. A descentralização das políticas públicas coloca um eixo republicano na busca de sustentação parlamentar e na gestão dos recursos públicos. Menos dinheiro para a roubalheira na engrenagem estatal de administração centralizada e mais dinheiro para saúde, segurança, saneamento e educação onde o povo está. Nos estados e nos municípios, não em Brasília.
29 de junho de 2016
Paulo Guedes, O Globo
“A Operação Lava-Jato deve prosseguir enquanto houver irregularidades”, reconhece Michel Temer. “Mas o país não pode ficar dez anos nesta situação”, sugere o presidente interino. Ora, as degeneradas práticas políticas investigadas pela Lava-Jato parecem existir há mais de dez anos, e durariam outros dez não fosse o despertar de instituições republicanas como a Polícia Federal, o Ministério Público, o Tribunal de Contas da União e o Poder Judiciário. Mas o presidente, que parece ansioso em abreviar nossa penosa situação, pode fazer muito a esse respeito. Afinal, foram exatamente a omissão e a cumplicidade do Executivo e do Legislativo quanto a essas práticas degeneradas que nos atolaram nesse lamaçal.
Um dia após a aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, Temer deveria encaminhar ao Congresso uma mensagem com o seguinte teor: “A classe política está sob suspeita. Houve acusações de compra de votos na aprovação da emenda constitucional favorável à reeleição, financiamentos irregulares de campanhas eleitorais, compra de sustentação parlamentar, obstrução de Justiça e desvio de recursos públicos envolvendo nossas principais lideranças políticas. É incontornável a conclusão de que há algo de profundamente errado com nossa forma de lidar com a coisa pública. Devemos ao povo brasileiro uma reforma política.” A negligência e até mesmo a hipocrisia ante a corrupção sistêmica tornam insaciável a opinião pública e intermináveis as investigações da Lava-Jato.
Piratas privados e políticos corruptos aperfeiçoaram a engrenagem de administração centralizada herdada do regime militar. A corrupção na política e a armadilha do baixo crescimento na economia são as duas faces de um governo central hipertrofiado e disfuncional. Um pacto federativo permitiria a reforma administrativa do Estado para enxugamento radical do número de ministérios e a descentralização de recursos para estados e municípios. A descentralização das políticas públicas coloca um eixo republicano na busca de sustentação parlamentar e na gestão dos recursos públicos. Menos dinheiro para a roubalheira na engrenagem estatal de administração centralizada e mais dinheiro para saúde, segurança, saneamento e educação onde o povo está. Nos estados e nos municípios, não em Brasília.
29 de junho de 2016
Paulo Guedes, O Globo
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