Diz um velho ditado que nem tudo que reluz é ouro. Essa incontestável sabedoria é invocada para alertar os mais afoitos para o fato de que a coisa nem sempre é o que parece. Em tempos de crise na economia, com desemprego em alta, inflação, desequilíbrio fiscal e queda do Produto Interno Bruto (PIB), é natural a valorização, especialmente por parte do governo, de qualquer dado positivo.
É o caso da balança comercial brasileira, que, depois de fazer feio nos últimos anos, fechou o primeiro trimestre com saldo que permite a projeção de superavit de pelo menos US$ 35 bilhões em 2016. Em março, o saldo favorável foi de US$ 4,41 bilhões, representando o melhor resultado para o mês desde 1989, ou seja, desde muito antes da crise financeira mundial de 2008/2009.
Sim, é fato positivo, já que reflete algum alívio para as contas externas do país e fôlego para pelo menos uma parte da indústria, que, beneficiada pela desvalorização do real frente ao dólar, recuperou a capacidade de ofertar preço competitivo. Mas nem por isso é prudente deixar de se preocupar com o que realmente tem pesado nesse resultado.
O que de fato vem ocorrendo é que a corrente de comércio do país está em queda, refletindo a profundidade da recessão da economia brasileira, que, depois de recuar 3,8% em 2015, ameaça com queda ainda maior (4%) este ano. Se confirmada essa tendência, o Brasil terá vivido, no fim de 2016, o mais longo período recessivo de sua história republicana.
De janeiro a março, as exportações brasileiras somaram US$ 40,5 bilhões, com queda de 5,8% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Foi queda menor do que a que vinha sendo registrada ao longo de 2015. Ocorre que, no mesmo período, as importações literalmente despencaram 33,4%, somando apenas US$ 32,1 bilhões.
Ou seja, mesmo com a moeda desvalorizada, as exportações continuaram em queda e o saldo positivo só foi possível porque as importações caíram muito mais. Em estudo divulgado ontem, a Organização Mundial do Comércio (OMC) alertou para a queda expressiva das importações brasileiras, fenômeno que vem sendo registrado desde o ano passado e que pode se ampliar este ano. Segundo a OMC, as compras brasileiras no exterior em 2015 caíram 25,2%, somando US$ 179 bilhões, menores do que as de Polônia e Turquia. Com isso, o país caiu da 21ª para a 25ª posição no ranque dos países importadores organizado pela OMC.
A queda da corrente de comércio com o forte recuo das importações emite sinal de alerta que não deve ser desconsiderado. Se, de um lado, o Brasil deve continuar se esforçando para ampliar os mercados para seus produtos, de outro, a abertura dos dados das importações, revelando redução das compras de máquinas e equipamentos, indica perigosa abstenção de investimentos em expansão e, principalmente, em modernização de nossa capacidade produtiva. Requer ação imediata, sob pena de o país perder futuras oportunidades de retomar sua competitividade e seu crescimento.
08 de abril de 2016
Editorial Correio Brazilense
É o caso da balança comercial brasileira, que, depois de fazer feio nos últimos anos, fechou o primeiro trimestre com saldo que permite a projeção de superavit de pelo menos US$ 35 bilhões em 2016. Em março, o saldo favorável foi de US$ 4,41 bilhões, representando o melhor resultado para o mês desde 1989, ou seja, desde muito antes da crise financeira mundial de 2008/2009.
Sim, é fato positivo, já que reflete algum alívio para as contas externas do país e fôlego para pelo menos uma parte da indústria, que, beneficiada pela desvalorização do real frente ao dólar, recuperou a capacidade de ofertar preço competitivo. Mas nem por isso é prudente deixar de se preocupar com o que realmente tem pesado nesse resultado.
O que de fato vem ocorrendo é que a corrente de comércio do país está em queda, refletindo a profundidade da recessão da economia brasileira, que, depois de recuar 3,8% em 2015, ameaça com queda ainda maior (4%) este ano. Se confirmada essa tendência, o Brasil terá vivido, no fim de 2016, o mais longo período recessivo de sua história republicana.
De janeiro a março, as exportações brasileiras somaram US$ 40,5 bilhões, com queda de 5,8% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Foi queda menor do que a que vinha sendo registrada ao longo de 2015. Ocorre que, no mesmo período, as importações literalmente despencaram 33,4%, somando apenas US$ 32,1 bilhões.
Ou seja, mesmo com a moeda desvalorizada, as exportações continuaram em queda e o saldo positivo só foi possível porque as importações caíram muito mais. Em estudo divulgado ontem, a Organização Mundial do Comércio (OMC) alertou para a queda expressiva das importações brasileiras, fenômeno que vem sendo registrado desde o ano passado e que pode se ampliar este ano. Segundo a OMC, as compras brasileiras no exterior em 2015 caíram 25,2%, somando US$ 179 bilhões, menores do que as de Polônia e Turquia. Com isso, o país caiu da 21ª para a 25ª posição no ranque dos países importadores organizado pela OMC.
A queda da corrente de comércio com o forte recuo das importações emite sinal de alerta que não deve ser desconsiderado. Se, de um lado, o Brasil deve continuar se esforçando para ampliar os mercados para seus produtos, de outro, a abertura dos dados das importações, revelando redução das compras de máquinas e equipamentos, indica perigosa abstenção de investimentos em expansão e, principalmente, em modernização de nossa capacidade produtiva. Requer ação imediata, sob pena de o país perder futuras oportunidades de retomar sua competitividade e seu crescimento.
08 de abril de 2016
Editorial Correio Brazilense
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