"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

UM BRILHO ENGANADOR

Diz um velho ditado que nem tudo que reluz é ouro. Essa incontestável sabedoria é invocada para alertar os mais afoitos para o fato de que a coisa nem sempre é o que parece. Em tempos de crise na economia, com desemprego em alta, inflação, desequilíbrio fiscal e queda do Produto Interno Bruto (PIB), é natural a valorização, especialmente por parte do governo, de qualquer dado positivo.

É o caso da balança comercial brasileira, que, depois de fazer feio nos últimos anos, fechou o primeiro trimestre com saldo que permite a projeção de superavit de pelo menos US$ 35 bilhões em 2016. Em março, o saldo favorável foi de US$ 4,41 bilhões, representando o melhor resultado para o mês desde 1989, ou seja, desde muito antes da crise financeira mundial de 2008/2009.

Sim, é fato positivo, já que reflete algum alívio para as contas externas do país e fôlego para pelo menos uma parte da indústria, que, beneficiada pela desvalorização do real frente ao dólar, recuperou a capacidade de ofertar preço competitivo. Mas nem por isso é prudente deixar de se preocupar com o que realmente tem pesado nesse resultado.

O que de fato vem ocorrendo é que a corrente de comércio do país está em queda, refletindo a profundidade da recessão da economia brasileira, que, depois de recuar 3,8% em 2015, ameaça com queda ainda maior (4%) este ano. Se confirmada essa tendência, o Brasil terá vivido, no fim de 2016, o mais longo período recessivo de sua história republicana.

De janeiro a março, as exportações brasileiras somaram US$ 40,5 bilhões, com queda de 5,8% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Foi queda menor do que a que vinha sendo registrada ao longo de 2015. Ocorre que, no mesmo período, as importações literalmente despencaram 33,4%, somando apenas US$ 32,1 bilhões.

Ou seja, mesmo com a moeda desvalorizada, as exportações continuaram em queda e o saldo positivo só foi possível porque as importações caíram muito mais. Em estudo divulgado ontem, a Organização Mundial do Comércio (OMC) alertou para a queda expressiva das importações brasileiras, fenômeno que vem sendo registrado desde o ano passado e que pode se ampliar este ano. Segundo a OMC, as compras brasileiras no exterior em 2015 caíram 25,2%, somando US$ 179 bilhões, menores do que as de Polônia e Turquia. Com isso, o país caiu da 21ª para a 25ª posição no ranque dos países importadores organizado pela OMC.

A queda da corrente de comércio com o forte recuo das importações emite sinal de alerta que não deve ser desconsiderado. Se, de um lado, o Brasil deve continuar se esforçando para ampliar os mercados para seus produtos, de outro, a abertura dos dados das importações, revelando redução das compras de máquinas e equipamentos, indica perigosa abstenção de investimentos em expansão e, principalmente, em modernização de nossa capacidade produtiva. Requer ação imediata, sob pena de o país perder futuras oportunidades de retomar sua competitividade e seu crescimento.



08 de abril de 2016
Editorial Correio Brazilense

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