Os petistas trataram de espalhar por aí o mito segundo o qual a presidente Dilma Rousseff, caso seja vitoriosa na batalha do impeachment, será estimulada pelo PT a permitir que seu chefão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lidere um “amplo processo de reconciliação nacional”, conforme o noticiário publicado pelo Estado.
As “fontes do Planalto e do PT” ouvidas na reportagem querem fazer o País acreditar que, depois de classificar como “golpistas” os milhões de brasileiros que defendem a destituição constitucional de Dilma, o atual governo será capaz de ser fiador de alguma forma de diálogo num futuro previsível.
Há duas interpretações possíveis para esse embuste. A hipótese benevolente é de que o PT, em gravíssimo estado de negação, não só acredita realmente na possibilidade de que Dilma escape da destituição, como também está certo de que Lula será capaz de reconciliar o País. A segunda hipótese, bem mais realista, é que o PT, sabedor do risco existencial que corre, está lançando mão de medidas desesperadas para criar embaraços para os adversários.
Cientes de que ninguém da oposição tem o menor interesse em negociar o que quer que seja com um governo e com um partido que há anos menosprezam o contraditório e que mergulharam o País no caos sem consultar ninguém, os petistas pretendem confundir a opinião pública. Ao lançarem a ideia de “reconciliação” sob a liderança de Lula, esses espertalhões sabem que se trata de algo que será prontamente recusado. Assim, querem jogar sobre os ombros da oposição o ônus da rejeição ao “diálogo” generosamente oferecido por Dilma e seu finório padrinho.
É um plano tão evidentemente amador que é difícil de acreditar que tenha sido arquitetado por políticos a quem se atribui grande tirocínio, como Lula e sua gente. Pois, hoje, a maioria absoluta dos brasileiros está bastante bem informada sobre como “dialogam” os petistas.
Antes de mais nada, seria um “diálogo” movido a puro fisiologismo. Para cabalar votos contra o impeachment, Lula, em pessoa, está liderando um processo de cooptação individual de parlamentares, prometendo-lhes a ampla satisfação de demandas pessoais. Diante dos cabeludos escândalos de corrupção capitaneados pelo lulopetismo, já se pode intuir que demandas são essas. É esse, pois, o tipo de relação degradante que Lula, Dilma e os petistas pretendem fomentar com o Congresso em seu anunciado projeto de “reconciliação”.
Não há nenhuma surpresa aí. A política sempre foi um obstáculo para o PT, partido que jamais se dispôs a ceder nos grandes debates nacionais e que tem dificuldade de respeitar o resultado das urnas quando perde e de tratar a oposição com respeito quando vence.
No momento em que o PT acena com o “diálogo”, é preciso lembrar que esse foi o partido que se recusou a firmar a Constituição de 1988, sabotou o Plano Real e votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras barbaridades. Também foi o partido que tentou mobilizar o País pelo impeachment de Fernando Henrique Cardoso, invocando argumentos que poderiam ser perfeitamente qualificados como golpistas.
Por fim, mas não menos importante, o PT implodiu todas as pontes de comunicação com a maioria dos brasileiros. Na época em que Lula era endeusado graças à sua imensa popularidade, o PT julgou-se apto a ditar a agenda nacional, com o autoritarismo que é sua marca fundadora. Aparelhou o Estado e arrombou os cofres públicos para comprar o apoio que, nas democracias saudáveis, obtém-se apenas por meio da negociação política.
Não se trata de uma circunstância, mas de um método. O PT dedicou-se, com afinco, a destruir os pilares da democracia no País para governar sem estorvos, e o resultado é hoje a desmoralização quase completa do mundo político. Vendo-se agora tragado pela própria onda de lixo que criou, o PT, pasmem os leitores, apresenta-se como a solução – quer o “diálogo”, pois, nas palavras de um parlamentar petista, “do jeito que está, ninguém ganha”.
Como diz o conhecido provérbio latino, o lobo muda o pelo, mas não a índole.
08 de abril de 2016
Editorial O Estadão
As “fontes do Planalto e do PT” ouvidas na reportagem querem fazer o País acreditar que, depois de classificar como “golpistas” os milhões de brasileiros que defendem a destituição constitucional de Dilma, o atual governo será capaz de ser fiador de alguma forma de diálogo num futuro previsível.
Há duas interpretações possíveis para esse embuste. A hipótese benevolente é de que o PT, em gravíssimo estado de negação, não só acredita realmente na possibilidade de que Dilma escape da destituição, como também está certo de que Lula será capaz de reconciliar o País. A segunda hipótese, bem mais realista, é que o PT, sabedor do risco existencial que corre, está lançando mão de medidas desesperadas para criar embaraços para os adversários.
Cientes de que ninguém da oposição tem o menor interesse em negociar o que quer que seja com um governo e com um partido que há anos menosprezam o contraditório e que mergulharam o País no caos sem consultar ninguém, os petistas pretendem confundir a opinião pública. Ao lançarem a ideia de “reconciliação” sob a liderança de Lula, esses espertalhões sabem que se trata de algo que será prontamente recusado. Assim, querem jogar sobre os ombros da oposição o ônus da rejeição ao “diálogo” generosamente oferecido por Dilma e seu finório padrinho.
É um plano tão evidentemente amador que é difícil de acreditar que tenha sido arquitetado por políticos a quem se atribui grande tirocínio, como Lula e sua gente. Pois, hoje, a maioria absoluta dos brasileiros está bastante bem informada sobre como “dialogam” os petistas.
Antes de mais nada, seria um “diálogo” movido a puro fisiologismo. Para cabalar votos contra o impeachment, Lula, em pessoa, está liderando um processo de cooptação individual de parlamentares, prometendo-lhes a ampla satisfação de demandas pessoais. Diante dos cabeludos escândalos de corrupção capitaneados pelo lulopetismo, já se pode intuir que demandas são essas. É esse, pois, o tipo de relação degradante que Lula, Dilma e os petistas pretendem fomentar com o Congresso em seu anunciado projeto de “reconciliação”.
Não há nenhuma surpresa aí. A política sempre foi um obstáculo para o PT, partido que jamais se dispôs a ceder nos grandes debates nacionais e que tem dificuldade de respeitar o resultado das urnas quando perde e de tratar a oposição com respeito quando vence.
No momento em que o PT acena com o “diálogo”, é preciso lembrar que esse foi o partido que se recusou a firmar a Constituição de 1988, sabotou o Plano Real e votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras barbaridades. Também foi o partido que tentou mobilizar o País pelo impeachment de Fernando Henrique Cardoso, invocando argumentos que poderiam ser perfeitamente qualificados como golpistas.
Por fim, mas não menos importante, o PT implodiu todas as pontes de comunicação com a maioria dos brasileiros. Na época em que Lula era endeusado graças à sua imensa popularidade, o PT julgou-se apto a ditar a agenda nacional, com o autoritarismo que é sua marca fundadora. Aparelhou o Estado e arrombou os cofres públicos para comprar o apoio que, nas democracias saudáveis, obtém-se apenas por meio da negociação política.
Não se trata de uma circunstância, mas de um método. O PT dedicou-se, com afinco, a destruir os pilares da democracia no País para governar sem estorvos, e o resultado é hoje a desmoralização quase completa do mundo político. Vendo-se agora tragado pela própria onda de lixo que criou, o PT, pasmem os leitores, apresenta-se como a solução – quer o “diálogo”, pois, nas palavras de um parlamentar petista, “do jeito que está, ninguém ganha”.
Como diz o conhecido provérbio latino, o lobo muda o pelo, mas não a índole.
08 de abril de 2016
Editorial O Estadão
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