A saída do ministro Elizeu Padilha do governo deixou claro – como destacam Simone Iglesias e Junia Gama na edição de sábado de O Globo – que a candidatura do vice Michel Temer ao Palácio do Planalto decolou de forma mais evidente, uma vez que seu nome é lembrado como um candidato a substituir Dilma Rousseff, dentro de uma visão que parte da necessidade de haver uma união nacional para livrar o país da crise em que se encontra. O argumento, entretanto, na minha opinião não é completo, porque para a unidade alegada teriam que ser incluídos vários outros partidos, entre eles o PT, além de outras legendas. A rota de voo de Michel Temer assim já começa a enfrentar uma escala de incertezas a começar pela dúvida existente no próprio PMDB, seu partido, se os demais seis ministros que possui vão ou não acompanhar a iniciativa de Padilha.
Não parece provável porque o grau de incerteza do lance de dados é alto. Em primeiro lugar deve se levar em conta que o grupo dos seis não encontraria guarida certa num eventual governo de Michel Temer. Em segundo lugar surgiram resistências inesperadas ao processo de impeachment a começar pela manifestação contrária de Marina Silva, revelada em entrevista a Pedro Venceslau, no Estado de São Paulo, publicada também na edição do dia 5. Além de Marina Silva, o PSOL colocou-se contrário e o PSB ainda vai avaliar qual seu rumo diante da questão, porém os obstáculos não são somente estes.
O andamento do processo vai depender do que decidir a Comissão Especial, como determina a Constituição, formada por 65 deputados indicados através do critério da proporcionalidade partidária. A Comissão deve se instalar na terça-feira, dia também em que está marcada sessão do Conselho de Ética para discutir o prosseguimento da ação contra o deputado Eduardo Cunha. Dia tumultuado, portanto, nas próximas horas, e é preciso considerar que um fato se vincula ao outro. Ambos não se vinculam, contudo, ao conteúdo do pedido de impeachment formulado por Hélio Bicudo, Janaina Pascoal e Miguel Reale Junior. São coisas diferentes, mas a convergência que os une é que em ambos está presente a figura do presidente da Câmara.
Se isso influir com intensidade no debate, a Comissão Especial poderá negar a sequência do processo de impedimento da presidente da República com base em crime de responsabilidade. Dessa forma o episódio mais sensível da atual pauta política terá sua página virada. A crise, somente ela, prosseguirá de forma inevitável. E até tende a crescer porque vai colocar em pontos opostos a presidente Dilma Rousseff e o vice presidente Michel Temer.
DILMA E TEMER
Neste sábado, em declarações divulgadas pelo globo.com, Dilma Rousseff afirmou confiar na solidariedade do seu vice. Praticou um lance político, no sentido de reduzir o leque de divergências entre ambos. Divergências acentuadas ao longo dos últimos fatos, como o lançamento do programa de governo do PMDB Uma Ponte Para o Futuro. Mas agora esta questão é secundária.
O plano essencial encontra-se na dúvida hamletiana que envolve a atmosfera reinante no PMDB. Ser ou não ser governo? Deixar ou não de forma total a participação que tem na administração pública? Se não deixar a administração pública de forma maciça, tal atitude representará a não obtenção de votos necessários para afastar a presidente do poder.
Mais uma vez verifica-se a presença da nuvens de dúvida na rota de Michel Temer. Seu voo encontrará fortes obstáculos logo à frente de sua decolagem para o Planalto. Não é tarefa fácil superar as dificuldades no caminho de uma eventual chegada à presidência da República.
06 de dezembro de 2015
Pedro do Coutto
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