Na clássica obra "As veias abertas da América Latina", o famoso autor Eduardo Galeano fazia um alusão aos povos do continente e suas estratégias anticapitalistas. O que vemos e assistimos em pleno século XXI é uma região empobrecida, cheia de problemas, com falta de recursos hídricos, epidemias, serviços públicos carentes e governantes altamente incompetentes e corruptos. Há alternativa fora dos EUA para que os países satélites sobrevivam e possam reduzir suas desigualdades sociais?
Os norte americanos deveriam ser os condutores, depois da demorada reaproximação com Cuba, de uma nova América Latina, menos populosa, e mais rica, não apenas de recursos naturais, mas principalmente de ciência, tecnologia, e distribuição de riqueza. Afinal de contas, se os norte americanos passaram pela grave crise de 2008, o Brasil,quase sete anos após, encontra sérias dificuldades, acrescidas da desabrida corrupção, para voltar a ser um player do cenário internacional e continuar entre as maiores economias do planeta.
Basta olharmos para os países vizinhos e vermos como a desamericanização impactou de tal forma que a miséria, unida com a pobreza, e desigualdade social, gerou contraste e fez mais vítimas das epidemais e incompetências dos governos.
Na Argentina a coisa anda de mal a pior, na Venezuela nada a comentar, exceções de Peru e Colômbia e do equilibrado Chile. Em termos demográficos, todos sofrem problemas acelerados de falta de infraestrutura e a constante migração do campo para a cidade, além da desvalorização das moedas. Quais seriam os principais motivos pelos quais a desintegração da América Latina deixou o continente ingovernável, e os reflexos da reunião da Cupula do Panama?
Os Países que penderam para os EUA ainda continuam a caminhar com menos dificuldades. Aqueles arraigados no esquerdismo populista e nas conquistas das inclusões sociais estão literalmente quebrados e fazem arrochos salariais, terceirizações e ajustes fiscais. Ou seja, em Nações subdesenvolvidas, ou emergentes a moeda de troca é o tributo, enquanto no Primeiro Mundo, mais emprego e produção e menos tributação.
Enquanto esse circulo vicioso persistir anos a fio continuaremos vivendo a chaga da multiplicação das misérias e desigualdades sociais, muito mais se não tivermos fortes instituições as quais funcionem e barrem a macrocriminalidade jamais vista em qualquer fase ou etapa da Nova República.
Existe um vazio de representação política, com o inchamento dos partidos e o vazio de suas propostas,além de graves assimetrias entre os comandos e suas direções com a vontade popular. A derrocada das esquerdas sucede devido ao fator isolamento dos norte americanos e planos mirabolantes para festejar o amanhã com demagogia e populismo, o preço é caro e salgado, a instabilidade, desabastecimento, encarecimento dos preços públicos e apatia da sociedade que, premida pelas coisas normais, ve a inflação subir pelo elevador e o salario descer pela escada rolante.
Não há muitas alternativas para a América Latina. Ou ingressa no mercado ou será expelida. O braço norte americano e seus apertos de mão não se desprezam. Com tratos multilaterais alguns poucos países avançaram enquanto, sonolentos, não saímos do lugar com o Mercosul.
A lapidar frase América para os Americanos deve ser duplamente interpretada. A primeira mediante a unificação geral, talvez moeda única, a exemplo da Europa. A outra no sentido de que sem o carro chefe da economia dos EUA não há salvação.
Carlos Henrique Abrão, Doutor em Direito pela USP com Especialização em Paris, Bolsista em Coimbra e Pesquisador na Alemanha, é Desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo
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