As manifestações contra o governo Dilma Rousseff de 12 de abril foram menores do que as de 15 de março. Mas os problemas de quem protestou desta vez talvez sejam bem maiores do que há um mês. E vão piorar daqui em diante.
Na avenida Paulista, encontramos, “de cara”, vários retratos do atual cenário de desaceleração da renda, precarização do trabalho e aumento do desemprego.
São as mais recentes “heranças malditas” do governo Dilma. Elas estavam escamoteadas e distantes da população até a reeleição por políticas insustentáveis, que agora cobram seu preço com desemprego e empobrecimento via recessão.
Os últimos dados de renda e emprego do IBGE mostram que os brasileiros vão perdendo ganhos de salário e se tornando desempregados em velocidade crescente. As empresas também substituem funcionários mais caros por mais baratos em ritmo e volume maiores. E uma coisa leva à outra.
CALCULANDO A TAXA
A taxa de desemprego depende, basicamente, de duas variáveis: número de vagas disponíveis e total de pessoas procurando trabalho, algo que pode variar rapidamente.
Se a renda de uma família diminui por causa da inflação, por exemplo, é possível que um dos filhos que só estudava precise voltar a trabalhar. Isso contará no cálculo do desemprego, já que mais gente estará atrás de trabalho, fazendo subir a taxa.
No momento, há uma confluência negativa de dois fatores: mais gente procurando empregos e milhares de empresas fechando vagas. É isso que explica o salto de 5,3% para 5,9% na taxa de desemprego entre janeiro e fevereiro. E os 7,3% no trimestre encerrado em fevereiro.
EXEMPLOS NA RUA
O exemplo de Rafael Kudo, 35, que vendia lanches e bebidas na Paulista no protesto: de empregador, virou empregado, aumentando a taxa de desemprego. Ex-dono de uma confecção que quebrou, teve de procurar com a mulher trabalho terceirizado em uma empresa concorrente do mesmo ramo. Nos finais de semana, trabalha como ambulante. Sua renda familiar (variável) despencou de algo entre R$ 8.000 e R$ 10.000/mês para R$ 4.000.
Dono de um auto elétrico, Humberto Santos, 57, também reclama da queda na renda com o movimento menor de clientes. Só não demite porque têm os três filhos como funcionários.
Já o estudante de história Ederson Maurício, 29, perdeu o emprego de R$ 1.800 líquidos/mês de monitor de qualidade em uma montadora. Agora faz bicos. No protesto, vendia cerveja com a namorada, Aline, agente de turismo que ganha R$ 2.000/mês.
ATÉ APOSENTADOS
Mesmo quem já parou de trabalhar está perdendo. Caso das aposentadas Maria Santos, 66, e Rosa Lia, 73, que cortaram lazer, alimentos e vestuário. Como outros 10 milhões de aposentados que recebem mais de um salário mínimo por mês, elas tiveram seus benefícios reajustados em 6,23% neste ano, abaixo da inflação oficial dos últimos 12 meses, de 8,13%.
A bronca contra a corrupção, revelada antes da reeleição de Dilma, tem sido o grande mote das últimas manifestações. Mas a reprovação à presidente só despencou de 20% da população em outubro para 60% agora depois que as vidas de Rafael, Humberto, Ederson, Maria e Rosa começaram a piorar.
12 de abril de 2015
Fernando Canzian
Folha
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