"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 21 de abril de 2015

CONTRATAÇÃO DA KROLL: APERITIVO DENTRO DOS ESCÂNDALOS DO PT

Chartres, França - Diante dos escândalos bilionários do PT, está passando desapercebido dos brasileiros uma decisão da Câmara dos Deputados que se pode chamar de aperitivo dentro do banquete de escândalos no Brasil. Por decisão do presidente da Casa, Eduardo Cunha, a empresa Kroll foi contratada, sem licitação, por R$ 1 milhão de reais para prestar serviço à CPI da Petrobrás. A missão é vasculhar as contas dos diretores da empresa e seus intermediários envolvidos nos escândalos da corrupção. Essa empresa foi a mesma que atuou na CPI do PC Farias. Não se sabe até hoje qual foi a conclusão do seu trabalho e a contribuição dela às investigações da comissão. Sabe-se, entretanto, que na época surgiu a suspeita de que a empresa teria “molhado” a mão de alguns parlamentares para fechar o contrato.

O argumento do presidente da câmara para fechar o contrato com a Kroll é frágil, insustentável. A empresa vai rastrear as contas dos diretores corruptos da Petrobrás e dos petistas envolvidos no escândalo durante os seis meses de trabalho da CPI. Como é especializada nesse tipo de trabalho, argumenta Eduardo Cunha, não houve necessidade de fazer licitação. Não é verdade, no Brasil existem inúmeras empresas semelhantes que poderiam fazer esse trabalho, mas pelo que se sabe nenhuma delas foi consultada. Além disso, nenhuma empresa de investigação tem acesso a contas bancárias no Brasil e no exterior. Esses sigilos só são quebrados por força judicial em parcerias com outros países, o que vem ocorrendo entre o Ministério Público brasileiro e similares lá fora.

A decisão de Eduardo Cunha pegou o presidente da CPI, Hugo Motta, de calças curtas. Para não passar por paspalhão ou de “marido traído” procurou justificar a contratação da Kroll alegando que ela vai tentar descobrir contas no exterior dos envolvidos no escândalo da Petrobrás que eventualmente não foram reveladas pelos diretores. Caso isso aconteça, o dinheiro será repatriado. Argumento fajuto: não se conhece na história das CPIs da Câmara dos Deputados alguma ação investigatória que tenha levado corruptos a devolver dinheiro. Além disso, não é a função da CPI caçar dinheiro de corrupto lá fora., coisa difícil. A ela cabe concluir o relatório e enviar à Justiça que se encarrega de apurar com mais rigor tudo que foi investigado pelos parlamentares.

Como se pode ver, a Kroll foi empurrada goela a dentro da CPI. Como tudo isso não bastasse, os donos da empresa já estiveram envolvidos em vários escândalos no Brasil por interferência indevida em assuntos internos. A empresa esteve enrolada no caso do banqueiro Daniel Dantas, quando invadiu a privacidade dos seus adversários. Seus diretores responderam processo. Em 2044, no governo Lula, interceptou mensagens digitais do então Ministro da Comunicação Social, Luiz Gushiken e gravou imagens do ex-presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb num encontro reservado dele com representantes da Telecom Itália em Lisboa.

Além disso, não se conhece até hoje qualquer tipo de contribuição que a Krool teria dado a CPI do PC Farias até porque os relatórios – se foram feitos à época – nunca foram divulgados. Ora, se Eduardo Cunha – que foi um dos homens do governo Collor no Rio de Janeiro – contratou a Krool por ingenuidade ou por influência de lobistas ligados à empresa, ainda está em tempo de quebrar o contrato. Afinal de contas, um pais que tem a sorte de ter um juiz como Sergio Moro e sua equipe à frente dessas investigações, não precisa de birô de detetives estrangeiros para descobrir o que esses homens, com coragem e civismo, estão revelando para o Brasil. O mais grave também é levar para dentro de uma CPI, que teria por princípio investigar delitos, uma empresa que já esteve na mira da Justiça por crimes de invasão de privacidade, entre outros.


21 de abril de 2015
Jorge Oliveira

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