Presa e torturada em 1970, a atriz Bete Mendes encontrou o coronel Brilhante Ustra numa viagem ao Uruguai em 1985. Ela era deputada federal, e ele atuava na embaixada em Montevidéu.
Na volta, ela denunciou Ustra ao presidente Sarney.
Aos 64, a atriz diz não temer retrocessos, mas pede atenção aos movimentos contra a democracia.
Em depoimento publicado na Folha de S.Paulo, a atriz afirma que superou o trauma com tratamento psicológico e se reafirma socialista.
Leia os principais trechos:
***
Fui presa duas vezes. Na primeira, não fui torturada fisicamente. Na segunda, foi total. Fui torturada [em 1970] e denunciei [o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra]. Isso me marcou profundamente. Não desejo isso para ninguém – nem por meus inimigos. A tortura física é a pior perversidade da raça humana; a psicológica, idem.
Não dá para ter raiva (de quem me torturou). A gente é tão humilhado, seviciado, vilipendiado que o que se quer é sobreviver e bem. Estou muito feliz, sobrevivi e bem. E não quero mais falar desse assunto.
Superei isso com tratamento psicológico e com trabalho. Agradeço à família, à classe artística, aos amigos que foram meu alicerce.
COMO ATRIZ
Carlos Zara me convidou para fazer a novela “O Meu Pé de Laranja Lima”, e isso me salvou. Continuei o trabalho artístico, fui fundadora do PT, deputada federal duas vezes e secretária da Cultura de São Paulo.
Comecei a fazer teatro e cantar com seis anos de idade. Com oito já participava de manifestações de alunos. Era do grêmio do colégio, depois fui para o diretório da faculdade. Em bibliotecas públicas ou pegando livros emprestados lia tudo: Rousseau, Marx, Mao, Lênin, Gorki, Aristóteles. Depois, adotei o codinome de Rosa em homenagem a Rosa Luxemburgo.
Na adolescência escrevi textos de peças de teatro. Quando fui presa, eles levaram esses textos. Achavam que eles eram prova de crime, que depunham contra mim. Nunca mais os recuperei. Era coisa tão pouca, boba, pessoal.
NA VAR-PALMARES
Quando fecharam as portas à democracia, me senti usurpada, revoltada, aprisionada. Achei que a única saída era entrar numa organização revolucionária contra a ditadura militar. Entrei na VAR-Palmares. Fizemos aquela opção. Foi certa, errada? É difícil julgar hoje.
A minha visão era a revolução socialista: tirar poder dos militares, dos opressores, do capitalismo selvagem. Deixar a gente governar para o bem de todos, com todos participando.
Eu tinha 18, 19 anos e achava que podia fazer tudo. Não tinha consciência do risco imenso que estava correndo. Era atriz de uma novela que explodia no Brasil, “Beto Rockfeller”, estudava ciências sociais na Universidade de São Paulo e participava de uma organização clandestina revolucionária. Aí deu zebra.
O medo era a pior coisa que a gente sentia na época. Historicamente tem que se reconhecer que nós entramos numa ditadura muito mais pesada do que foi dito no passado. Isso vai sendo desdito atualmente pela Comissão da Verdade.
RETROCESSO
Hoje não tenho medo de retrocesso, mas é preciso prestar atenção em manifestações como de movimentos nazistas em vários países e no Brasil.
Por exemplo? O coronel Brilhante Ustra faz parte desse movimento. Ele tem um site. Há jovens fazendo movimento nazista.
É um receio. É preciso ser cauteloso em relação a movimentos que podem ser prejudiciais ao avanço democrático. Mas impedir jamais, porque a gente legitima a manifestação de todos, de opiniões diversas. É preciso cuidar da democracia para que esses movimentos não cresçam.
Sou política como qualquer cidadão. Sou cidadã, atriz, socialista. O socialismo se constrói todo dia. Não temos o modelo socialista do passado, mas a gente constrói um novo. Quero continuar trabalhando como atriz e viajar mais. Poder viver essa democracia até morrer. Sonho político? Que o trabalho escravo acabe no Brasil.
Problema de audição? Tenho. É que eu fui torturada. (fica com os olhos marejados).
(entrevista enviada por Sergio Caldieri, transcrita de “Pragmatismo Político”)
30 de março de 2015
Deu na Folha
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Nenhuma organização política que operou na clandestinidade no período da contra-revolução de 1964 tinha como objetivo a manutenção da democracia.
Vários depoimentos de ex-integrantes de tais organizações já deixaram isso bem claro.
Mas é comum nos indigitados dias que correm, que os 'louros da democracia' adornem a fronte dos 'heróis' que desencadearam, posteriormente a deposição de Jango, movimentos radicais de esquerda, ideologicamente orientados, principalmente por Cuba, para subverter a democracia, instaurando um regime autoritário de feição comuno-socialista, que resultou na dura resposta cívico militar.
Não se pode recontar a História. No Brasil, a Democracia tem sido trôpega e breve, se observarmos os períodos em que o país verdadeiramente esteve num regime democrático.
A intervalos, conseguimos respirar ares democráticos, a que logo se seguem momentos de obscurantismo, uma sina que assola os países latino-americanos, sempre ameaçadoramente antidemocrática, pautada por caudilhos de toda ordem.
Nos republicanos dias que correm, a sombra do "socialismo do xéculo XXI", um eufemismo que esconde a arapuca do autoritarismo, tenta-se demolir gramscianamente os fundamentos da democracia e da civilização cristã, através da desordem econômico-social, da infiltração ideológica nas escolas, cinicamente praticando verdadeira lavagem cerebral em jovens, ao enaltecer figuras criminosas como che Guevara, amestrando com bolsas de todo tipo o eleitor de segmentos sociais empobrecidos, articulando com o aparelhamento do Estado, a permanência e a realização do projeto de poder petista, sob a orientação do foro de São Paulo.
Quando leio depoimentos de ex-participantes em movimentos radicais que afrontaram o poder militar com guerrilhas urbanas e algumas, como a de Araguaia, por exemplo, e vejo os "heróis" de então destruindo com a corrupção o país, que supostamente pretendiam salvar da "burguesia", instituindo a luta de classes como a grande verdade histórica, penso com os meus botões se realmente estão sendo sinceros, ou se estão apenas fazendo depoimentos para salvar memórias de inúmeros crimes praticados, com tanta violência quanto a dos que acusam de ditadores e golpistas.
Por que o medo da manifestação que denota o cansaço do desgoverno e do caos social que se implantou no país?
Por que sempre que o povo assoma às ruas para mostrar o seu descontentamento, sua manifestação se cobre de pânico, e sempre se busca a comparação com a "marcha da família" dos idos de 1964?
Por que o medo do povo, quando pede um basta a corrupção que assola assombrada e descaradamente o Brasil?
Hoje, quando o país acorda do pesadelo lulopetista, um dos piores inimigos que já passaram politicamente pelo Brasil, consigo divisar um horizonte em que não deve tardar a aurora de dias melhores.
Que o crepúsculo seja breve... E que as ruas não tardem a exigir justiça e transparência. Que as ruas não tardem a passar a limpo um país que está absolutamente desgovernado.
m.americo
Deu na Folha
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Nenhuma organização política que operou na clandestinidade no período da contra-revolução de 1964 tinha como objetivo a manutenção da democracia.
Vários depoimentos de ex-integrantes de tais organizações já deixaram isso bem claro.
Mas é comum nos indigitados dias que correm, que os 'louros da democracia' adornem a fronte dos 'heróis' que desencadearam, posteriormente a deposição de Jango, movimentos radicais de esquerda, ideologicamente orientados, principalmente por Cuba, para subverter a democracia, instaurando um regime autoritário de feição comuno-socialista, que resultou na dura resposta cívico militar.
Não se pode recontar a História. No Brasil, a Democracia tem sido trôpega e breve, se observarmos os períodos em que o país verdadeiramente esteve num regime democrático.
A intervalos, conseguimos respirar ares democráticos, a que logo se seguem momentos de obscurantismo, uma sina que assola os países latino-americanos, sempre ameaçadoramente antidemocrática, pautada por caudilhos de toda ordem.
Nos republicanos dias que correm, a sombra do "socialismo do xéculo XXI", um eufemismo que esconde a arapuca do autoritarismo, tenta-se demolir gramscianamente os fundamentos da democracia e da civilização cristã, através da desordem econômico-social, da infiltração ideológica nas escolas, cinicamente praticando verdadeira lavagem cerebral em jovens, ao enaltecer figuras criminosas como che Guevara, amestrando com bolsas de todo tipo o eleitor de segmentos sociais empobrecidos, articulando com o aparelhamento do Estado, a permanência e a realização do projeto de poder petista, sob a orientação do foro de São Paulo.
Quando leio depoimentos de ex-participantes em movimentos radicais que afrontaram o poder militar com guerrilhas urbanas e algumas, como a de Araguaia, por exemplo, e vejo os "heróis" de então destruindo com a corrupção o país, que supostamente pretendiam salvar da "burguesia", instituindo a luta de classes como a grande verdade histórica, penso com os meus botões se realmente estão sendo sinceros, ou se estão apenas fazendo depoimentos para salvar memórias de inúmeros crimes praticados, com tanta violência quanto a dos que acusam de ditadores e golpistas.
Por que o medo da manifestação que denota o cansaço do desgoverno e do caos social que se implantou no país?
Por que sempre que o povo assoma às ruas para mostrar o seu descontentamento, sua manifestação se cobre de pânico, e sempre se busca a comparação com a "marcha da família" dos idos de 1964?
Por que o medo do povo, quando pede um basta a corrupção que assola assombrada e descaradamente o Brasil?
Hoje, quando o país acorda do pesadelo lulopetista, um dos piores inimigos que já passaram politicamente pelo Brasil, consigo divisar um horizonte em que não deve tardar a aurora de dias melhores.
Que o crepúsculo seja breve... E que as ruas não tardem a exigir justiça e transparência. Que as ruas não tardem a passar a limpo um país que está absolutamente desgovernado.
m.americo
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