Estranhas, muito estranhas as publicações que alertam para o alastramento das fobias sociais (medo de falar em público, por exemplo), o aumento da timidez afetiva, social, no trabalho, e a pouco divulgada, mas quase epidêmica, timidez relacional entre pais e filhos.
Ora, em um mundo altamente conectado, recheado de redes sociais e de relacionamentos virtuais de toda ordem, como explicar que, na hora dos encontros presenciais, cara a cara, ocorra aquele branco, aquela “sem-gracesa”, aquela falta de assunto, o rosto vermelho, o suor escorrendo em bicas?
Timidez é um atraso de vida incalculável. Quantos talentos emudecem pelo temor do julgamento alheio? Quantos profissionais qualificados são preteridos na fase de entrevista ou dinâmica de grupo? Quantos TCCs são adiados e provas orais encaradas como tortura chinesa? O quanto dói ter o que dizer, ou expressar, e ser escravizado na cela solitária que a timidez impõe!
Isso é algo inenarrável para o tímido, condenado a viver com seus pensamentos, sentimentos e desejos presos em seu coração, mente e alma.
Pois bem, meus tímidos de todas as partes desse país, vocês são um diamante enterrado no paralelepípedo da existência humana. Libertem-se em si mesmos! Afinal, o tímido é, antes de tudo, um autocensurador. Rigoroso, não levanta a mão na aula ou palestra, pois, antes, pergunta-se: “e se eu perguntar algo besta?” ou “e se o pessoal me zoar?”.
É muita pretensão e muita exigência de ter que só falar coisas inteligentes ou ter de acertar o tempo todo. Será que, no fundo, o que tímido tem é excesso de estima própria? Afinal, o alto grau de exigência própria, o temor irreal de não ser bem-sucedido, seja na paquera, na disputa por uma vaga, na contribuição de ideias num debate público, no trabalho ou na classe, o faz se calar?
PESSOAS DE CONTEÚDO
Os tímidos, até pela postura de observadores do ambiente, pelo fato de muito ouvirem, costumam ser pessoas muito interessantes e de conteúdo. Pena não se libertarem de fantasmas ilusórios e serem tão tementes a crítica e julgamento alheio. É como se estivessem à frente em uma fala ao público e, simultaneamente, sentados na primeira fila, como um atento e exigente espectador e julgador inclemente de si mesmo.
Por que não começar a se arriscar? Quem sabe indo à frente na aula e dizendo: “Gente, sou vergonhoso e inibido, pode ser que fique vermelho, sue ou gagueje, mas estou aqui para falar que…”.
Talvez você, tímido, perceba uma grande empatia no ar, uma solidariedade, afinal, 90% das pessoas têm algum grau de timidez. O mesmo vale para o bullying. Se nós nos “autozoassémos”, a graça dos zoadores se perderia.
O remédio para a timidez é enfrentá-la. É assumir que todos somos imperfeitos: erramos e acertamos, mas o bonito é tentar. Que você leve um fora, que seja gozado, não importa. Rir de si mesmo é uma virtude inigualável.
A vida é feita de experiências, e estas, de tentativas. Palavras existem para ser usadas. Abrir a mente, o coração, e ajudar o outro para conseguir o mesmo significa conjugar, compreender, comunicar e estabelecer laços entre semelhantes. Só o ser humano é capaz de estabelecer relações de empatia. Mas, se o silêncio, o afastamento e a fuga forem o comportamento prevalecente, então vigorará um egoísmo injustificável.
Procure ajuda, saia do pedestal, venha viver e partilhar toda a riqueza afundada no labirinto de sua mente, na profunda fé de seu coração. Timidez tem mais que cura, tem a possibilidade de o libertar de seu maior inimigo: você mesmo!
30 de março de 2015
Eduardo Aquino
O Tempo
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