Queria ter a sabedoria dos cristãos e dos muçulmanos, por acreditarem que suas almas podem ir para algum tipo de paraíso, onde haveria a vida eterna, e no caso dos islamitas, seria uma festa constante e móvel, como a Paris vivenciada nos tempos de Ernest Hemingway.
Queria ter a sabedoria dos espiritualistas, que estão convictos de que existe vida após a vida, como Sócrates sonhava 400 anos antes do nascimento de Cristo. Eles crêem que podem se comunicar com os que já se foram e acreditam que os espíritos até interferem na nossa vida.
Queria ter a sabedoria dos budistas, que entendem a vida de um modo mais aceitável, dizendo que ”nada é, tudo apenas está” e é transitório, nada é permanente. Afirmam que, apesar da inexorabilidade deste princípio, devemos ser otimistas, porque depende de nós mesmos agir a nosso favor na corrente do Universo.
Queria ter a sabedoria dos judeus, que creem em ressurreição num mundo vindouro ou até mesmo em reencarnação diante da figura de um Deus criador, onipotente, onisciente e onipresente, que influencia todo o universo.
Queria ter a sabedoria dos hinduístas, que confiam na chamada Lei do Karma e também acreditam na reencarnação, proclamando que a salvação do ser humano é a liberdade alcançada pela alma depois de um penoso ciclo de sucessivos nascimentos e mortes.
Queria ter também a sabedoria dos ateus, que acreditam apenas na ciência, desprezam todo tipo de religião e de experiência espiritual, estão certos de que a vida é uma só, não há novas encarnações e as almas são simples invenções dos ficcionistas.
ATEÍSMO
Há alguns anos, assisti a um impressionante documentário britânico, baseado nas teorias de Stephen Hawking, o maior físico da atualidade, que fez uma ampla exposição de conceitos para enfim concluir pela inexistência de Deus.
Mais recentemente, assisti a um extenso documentário sobre os grandes difusores do ateísmo moderno, que defendem a respeitável tese de que as religiões servem para fazer com que os homens não se desesperem com a inevitabilidade da morte e possam viver de maneira honesta, solidária e produtiva. Mas os ateus acham que podem se comportar assim, sem necessidade de acreditar em Deus.
Achei os dois trabalhos muito interessantes. Realmente, não há provas materiais da existência de Deus. O que me pareceu errado, porém, é o ateísmo estar sendo transformado numa espécie de religião, com pregadores a percorrer o mundo ganhando substanciais cachês e vendendo milhares de livros, como o biólogo britânico Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, que já criou até uma fundação para cultuar o ateísmo.
O mais interessante, porém, foi estudar o ateísmo e constatar que seu maior difusor na Era Contemporânea, o filósofo britânico Antony Flew, no final da vida reviu essa posição e deu uma entrevista célebre, que foi publicada em forma de livro, sob o título “Um ateu garante: Deus existe”.
DÚVIDAS SOCRÁTICAS
Tenho vários amigos ateus e respeito de forma absoluta a opinião deles, mas não consigo viver sem alguma forma de apoio espiritual. É uma fraqueza, admito, mas sou assim mesmo, aceito qualquer religião.
Entre os princípios basilares das maiores religiões, acho a teoria budista a mais adequada. É inteiramente verdadeira a tese de que “nada é, tudo apenas está, tudo é transitório, nada é permanente”, porque pode ser aplicada a qualquer coisa na vida.
Desconfio que essa tese religiosa tenha inspirado Lavoisier na teoria que revolucionou a Química com o “nada se cria, tudo se transforma”, e também tenha sido usada pelo intelectual Eduardo Portela ao declarar que não “era” ministro, apenas “estava” ministro.
Confesso também que fico muito impressionado com o fato de certas pessoas fazerem previsões acertadas ou nos revelarem coisas íntimas de nosso conhecimento que jamais poderiam saber. Fico até desconfiado de que exista mesmo alguma coisa entre o céu e terra, com dizia Shakespeare, que parecia budista e socrático ao desenvolver aquela genial tese hamletiana do “ser ou não ser”, também desenvolvida depois por Molière em “El Cid”.
Concluindo: Se Deus não existe, é óbvio que deveria existir. Em nome de Deus, todas as religiões visam ao bem, embora ao longo da História muitas vezes tenham sido usadas para o mal. Mesmo assim, é preferível seguir alguma delas, porque isso nos dá forças para ir em frente neste mundo que a Bíblia classifica de “um vale de lágrimas”. Viemos aqui para sofrer, mas podemos nos divertir de vez em quando. Pense sobre isso.
30 de dezembro de 2014
Carlos Newton
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