Os chanceleres de dois países europeus, Itália e França, reconheceram ao fim deste ano que a agressão militar da OTAN, da que ambos são membros, desatou o caos na Líbia. Mas Paolo Gentiloni e Laurent Fabius não questionaram a agressão militar contra um governo constitucional, apenas admitiram que os resultados não têm sido os pretendidos, já que, na Líbia, hoje, a único realidade hoje é o caos.
Dois governos paralelos disputam-se o poder, um em Trípoli, a capital, encabeçado por Omar al Hassi, apoiado pela Irmandade Muçulmana, e outro, liderado por Abdallah al Thinni, em uma remota localidade do leste do país, próximo à fronteira com Egito, que apóia essa facção.
Os sinais de agravamento da tormenta líbia surgiram com a deposição, por uma moção de censura em julho, do premiê Alí Zeidane, submetido a pressão política por legisladores islamistas e cuja autoridade se esvaiu quando um navio-tanque carregou petróleo em dois portos sob controle de forças rebeldes.
O premiê foi substituído por Abdallah al Thinni, ministro de Defesa em seu gabinete, que renunciaria pouco depois de ser alvo de um atentado junto com sua família, mas ainda permaneceu no cargo até agosto à espera da formação de um gabinete aceitável para todas as forças.
ELEIÇÕES LEGISLATIVAS
Foram convocadas eleições legislativas após o envolvimento na cena política a princípios de ano do ex-general Jalifa Haftar, um alto oficial do Exército de Gadafi feito prisioneiro na guerra contra o Chade e libertado a pedido dos Estados Unidos, país no qual residiu durante duas décadas em qualidade de refugiado.
A plataforma de Haftar foi clara desde um princípio: liquidar a influência das milícias islamistas, às quais qualifica de “escória”, como única saída à crise perene que vive o país do norte africano.
As eleições deram um resultado surpreendente, com a perda de influência dos candidatos da Irmandade Muçulmana que, como era de esperar, não os aceitaram e nomearam um gabinete que conseguiu a aprovação do parlamento, em uma votação ilegal.
O resultado do golpe político não se fez esperar, com o surgimento de dois governos e uma nova erupção de violência, depois das tentativas frustradas do autoproclamado Exército Nacional Libio, comandado por Haftar, de tomar o controle do aeroporto internacional e outros centros estratégicos de Trípoli.
As forças do ex-militar se recompuseram em suas bases de Bengasi, com Haftar disposto a negociar com Thinni uma aliança contra as milícias islamistas, admitida pelo premiê semanas atrás quando declarou que o Exército Nacional Líbio poderia lutar ao lado do atual governo.
SUDÃO E EGITO
Nesse contexto, é preciso inserir as influências regionais do Sudão, unido por estreitos laços políticos e econômicos à Irmandade Muçulmana, e do Egito, que exercem pressões em sentidos opostos.
Em um plano mais discreto, França e Estados Unidos, que se recusam a intervir no conflito, observam os acontecimentos de uma distância prudente, mas existem indícios de que apoiam o gabinete de Thinni.
Ao mesmo tempo, existe a quase certeza de que o Sudão está suprindo armas e equipes às milícias islamistas, através de sua fronteira norte com o sul da Líbia.
Neste final de 2014, a crise líbia está em seu apogeu, com uma ofensiva de Haftar sobre posições da milícia islamista Fajr Líbia em vários pontos do país, enquanto o enviado da ONU Bernardino León procura uma saída negociada.
O louvável esforço do diplomata espanhol, alvo de um frustrado atentado à dinamite em novembro, registra como único avanço algumas declarações das partes em conflito, que podem até entabular negociações, cujo destino é mais que incerto. (transcrito do site Pátria Latina)
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Na ditadura de Muhammad Kadafi, a riqueza petrolífera do país foi usada para construir uma ampla rede de escolas, hospitais e clínicas públicas . Os líbios tinham o rendimento per capita mais alto de África com 14.900 dólares por ano ( Financial Times, 02/04/11) e o mais alto IDH.
Dezenas de milhares de estudantes líbios de famílias de baixos rendimentos receberam bolsas para estudar no seu país e no estrangeiro. As infra-estruturas urbanas foram modernizadas, a agricultura era subsidiada e os pequenos produtores e fabricantes recebiam crédito do governo. Trípoli era uma cidade moderna e ocidentalizada.
O país foi destruído pelos EUA e aliados, em nome do Deus Petróleo. Mas esses detalhes as agência de notícias não mencionam. (C.N.)
30 de dezembro de 2014
Deu na Prensa Latina
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