"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 12 de outubro de 2014

REVELADA ESTRUTURA DA CORRUPÇÃO NO PAÍS: HONESTIDADE, QUALQUER DIA, PASSA A SER UM DEFEITO

         


A extensa e sensacional reportagem de Cleide Carvalho e Germano Oliveira, edição de sexta-feira de O Globo, totalmente com base nos depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef à Justiça Federal, revelou para a sociedade brasileira a estrutura verdadeira da alta corrupção instalada na Petrobrás que, efetivamente, estarrece a opinião pública.

Ocupando as páginas 3, 6 e 7, o texto magnífico  assemelha-se ao roteiro de um filme no melhor estilo documentário. Destaca-se pela exatidão dos fatos numa sequência impressionante. Na página 7, Carlos Roberto Costa sustenta que as diretorias da Petrobrás nos governos Collor, Sarney, Fernando Henrique e Lula sempre foram ocupadas por indicações políticas.
Excetuou a presidente Dilma Rousseff. Eu – destacou – fui indicado pelo deputado José Janene, em 2008, que morreu dois anos depois em 2010. Janene representava o PP.
Depois, Paulo Roberto da Costa foi incluído na relação dos indicados pelo PT e PMDB, até deixar o cargo em 2012.

ESQUEMA REVELADO

O funcionamento do esquema já está revelado, mas cabe a pergunta em que escala começou a funcionar e como se ampliou através do tempo proporcionando a realização de um depósito de 23 milhões de dólares em contas que o ex diretor mantinha em bancos suíços.

Costa e Youssef não podem estar mentindo, não apenas pelo fato de perderem direito à figura da delação premiada, mas sobretudo porque não podem ser autores de uma obra de ficção  abrangendo diretamente tantas empresas e tantos personagens.
Ninguém poderia inventar uma história desse estilo. Inclusive eles terão que provar as revelações que fizeram, às quais, é claro, podem acrescentar outras, apresentando pormenores capazes de cimentá-las ainda mais.

ATÉ OS LOCAIS

Nos depoimentos  citaram até os locais em que recebiam e entregavam as vultosas quantias das contratações e propinas que intermediavam. Intermediavam sem esquecer as parcelas voltadas para os partidos políticos responsáveis, não só por sua indicação, mas também, em consequência, pela manutenção nos postos – chave.

Esta condição era fundamental à permanência num esquema múltiplo envolvendo a empresa estatal, grandes empreiteiras de obras, faturamentos, lobistas, políticos e, certamente, assessores que tinham a tarefa de servir de ponte nas estradas da corrupção.

Esta foi se ampliando no país, com a fixação de sobre processos, que parece ter se institucionalizado ao ponto de personagens desse enredo financeiro passarem à condição de figuras celebradas.
Em contrapartida, a isso constitui fenômeno gravíssimo, a honestidade parecendo transformar-se em defeito. Os desonestos passam ao primeiro plano. Os honestos vistos com desconfiança e em diversas situações tendo sua presença rejeitada em várias escalas da administração pública.

Seja federal, estadual ou municipal. Claro. Porque ninguém vai se iludir que o esquema que atingiu o nível teto na Petrobrás não se repita em uma série de escalas em outros campos de atuação.
A reportagem de Cleide Carvalho e Germano Oliveira, a partir de hoje, um dia depois de publicada, passa a ser uma peça importante para quem escrever a moderna história do país amanhã.

12 de outubro de 2014
Pedro do Coutto

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