Escândalo na Petrobras adquire grandes proporções às vésperas do segundo turno; efeito eleitoral do episódio ainda é incerto
Depois de Delúbio Soares, Silvio Pereira e outros tantos nomes do mensalão, já nem parece o caso de qualificar como estarrecedoras as revelações do doleiro Alberto Youssef e de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, sobre os desvios de recursos na empresa.
Em depoimentos à Justiça Federal, estimulados pelo instituto da delação premiada, os dois personagens descreveram com naturalidade o esquema de propinas nos contratos firmados com a estatal.
Na Diretoria de Abastecimento, controlada por Costa, PT e PP dividiam a messe da corrupção. Ao primeiro partido estavam reservados 2% do valor dos contratos arranjados, enquanto 1% ia para a segunda sigla e intermediários.
Reencontram-se, na participação do PP, nomes conhecidos do público. Obtiveram notoriedade durante o mensalão o deputado José Janene, morto em 2010, e seu assessor João Cláudio Genu. No PT, o nome de Delúbio Soares é substituído pelo do novo tesoureiro da agremiação, João Vaccari Neto.
Segundo os relatos, mais garfadas alimentavam o caixa petista. Em outras diretorias, que não foram objeto da partilha de cargos com a base aliada, o PT garantia a integralidade da propina.
Quanto ao PMDB, contentava-se com o 1% da Diretoria Internacional, para a qual indicara Nestor Cerveró, um dos principais arquitetos da operação Pasadena.
Nenhuma empresa deixava de pagar a propina, conta Paulo Roberto Costa. Referia-se a um conjunto de empreiteiras do qual faziam parte --segundo confirma Alberto Youssef-- Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e outras de menor notoriedade.
Diferentemente do episódio que envolve o metrô de São Paulo e o PSDB, não surge neste inquérito uma delação por parte das próprias empresas corruptoras --declarações de um ex-diretor da Siemens foram decisivas para desencadear o escândalo tucano. Ao contrário, todas as citadas negam participação no esquema.
Apesar dessas objeções, e mesmo que nada, por enquanto, esteja comprovado e ainda menos julgado, o caso Petrobras muito provavelmente terá efeitos sobre o cenário eleitoral. Com que intensidade, porém, não se sabe.
As revelações reforçam as críticas do PSDB ao aparelhamento do Estado pelos governos do PT, mas não é especialmente confortável para os tucanos o papel de defensores inflexíveis da ética pública.
Talvez o melhor que possam fazer os candidatos, nesta altura, seja propor reformas mais amplas do ponto de vista do controle sobre os negócios do Estado e do próprio sistema político, de modo a minimizar o que há de estrutural nos mecanismos de corrupção.
Não é fácil; em meio à facilidade das acusações, um interessado silêncio predomina nesse aspecto.
Depois de Delúbio Soares, Silvio Pereira e outros tantos nomes do mensalão, já nem parece o caso de qualificar como estarrecedoras as revelações do doleiro Alberto Youssef e de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, sobre os desvios de recursos na empresa.
Em depoimentos à Justiça Federal, estimulados pelo instituto da delação premiada, os dois personagens descreveram com naturalidade o esquema de propinas nos contratos firmados com a estatal.
Na Diretoria de Abastecimento, controlada por Costa, PT e PP dividiam a messe da corrupção. Ao primeiro partido estavam reservados 2% do valor dos contratos arranjados, enquanto 1% ia para a segunda sigla e intermediários.
Reencontram-se, na participação do PP, nomes conhecidos do público. Obtiveram notoriedade durante o mensalão o deputado José Janene, morto em 2010, e seu assessor João Cláudio Genu. No PT, o nome de Delúbio Soares é substituído pelo do novo tesoureiro da agremiação, João Vaccari Neto.
Segundo os relatos, mais garfadas alimentavam o caixa petista. Em outras diretorias, que não foram objeto da partilha de cargos com a base aliada, o PT garantia a integralidade da propina.
Quanto ao PMDB, contentava-se com o 1% da Diretoria Internacional, para a qual indicara Nestor Cerveró, um dos principais arquitetos da operação Pasadena.
Nenhuma empresa deixava de pagar a propina, conta Paulo Roberto Costa. Referia-se a um conjunto de empreiteiras do qual faziam parte --segundo confirma Alberto Youssef-- Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez e outras de menor notoriedade.
Diferentemente do episódio que envolve o metrô de São Paulo e o PSDB, não surge neste inquérito uma delação por parte das próprias empresas corruptoras --declarações de um ex-diretor da Siemens foram decisivas para desencadear o escândalo tucano. Ao contrário, todas as citadas negam participação no esquema.
Apesar dessas objeções, e mesmo que nada, por enquanto, esteja comprovado e ainda menos julgado, o caso Petrobras muito provavelmente terá efeitos sobre o cenário eleitoral. Com que intensidade, porém, não se sabe.
As revelações reforçam as críticas do PSDB ao aparelhamento do Estado pelos governos do PT, mas não é especialmente confortável para os tucanos o papel de defensores inflexíveis da ética pública.
Talvez o melhor que possam fazer os candidatos, nesta altura, seja propor reformas mais amplas do ponto de vista do controle sobre os negócios do Estado e do próprio sistema político, de modo a minimizar o que há de estrutural nos mecanismos de corrupção.
Não é fácil; em meio à facilidade das acusações, um interessado silêncio predomina nesse aspecto.
11 de outubro de 2014
Editorial Folha de SP
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