O Brasil não pode mais continuar fazendo de conta que a forte desaceleração de sua economia é algo sem importância. Nem mesmo o velho truque de debitar o mau resultado da atual política econômica brasileira a fatores externos - argumento que já não se sustenta - pode servir de biombo para a urgência de uma mudança de rumos e métodos.
Não há como esconder que, este ano, o Produto Interno Bruto (PIB) terá desempenho inferior ao de anos recentes, quando se cunhou a expressão "pibinho" para identificar o baixo crescimento de 2,7% verificado em 2011, de apenas 1% em 2012, e de 2,3% em 2013. Para este ano, nem os mais otimistas esperam mais de 0,5% e não faltam analistas que apostam em crescimento zero.
Isso é muito mais do que uma série estatística ou uma mania de economista que não trabalha para o governo. É o cardiograma de um doente que caminha acelerado para perigoso estado de precarização. Essa situação chama a atenção do mercado e de organismos internacionais que, até recentemente, viram o Brasil surgir como um dos países emergentes de maior dinamismo. Instituições do mercado financeiro, como as agências internacionais de verificação de risco (rating), chegaram a elevar a classificação do país como destino confiável de capitais e seguro para a concessão de créditos.
Desencantadas, essas agências sinalizam com rebaixamento das notas dadas ao Brasil. Já o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não param de alertar para o fato de que a perda de fôlego do país vem ganhando dimensão preocupante, pior que a média de nossos vizinhos e das demais economias emergentes.
Na quinta-feira, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, ao comentar o último relatório sobre a economia mundial, foi clara ao colocar o Brasil entre os países que, ao caminhar mais lentamente que os demais no rumo da recuperação econômica depois da crise de 2008/2009, estão ficando para trás.
Ela não sugere nada desconhecido dos que sabem que o país precisa de nova condução da política econômica: investimentos em infraestrutura para animar a retomada do crescimento e a manutenção de programas sociais, como o Bolsa Família, para evitar o aumento da pobreza enquanto o crescimento permanecer tão baixo.
Christine, como qualquer economista atualizado, sabe que a manutenção por mais tempo de crescimento tão medíocre como o dos últimos quatro anos (em 2010, o PIB tinha crescido 7,5%) vai comprometer importantes conquistas sociais e, principalmente, colocar em risco o emprego e a renda da população. Menos de 24 horas depois, o IBGE divulgou a quarta queda mensal seguida do emprego na indústria brasileira.
O que a chefe do FMI não disse é que, se a retomada do crescimento depende dos investimentos em infraestrutura e na ampliação dos negócios, nada vai sair do lugar enquanto persistir a falta de confiança na política econômica e a perda da credibilidade do governo, que tem abusado do improviso na política de incentivos e da criatividade na administração fiscal.
11 de outubro de 2014
Editorial Correio Braziliense
Não há como esconder que, este ano, o Produto Interno Bruto (PIB) terá desempenho inferior ao de anos recentes, quando se cunhou a expressão "pibinho" para identificar o baixo crescimento de 2,7% verificado em 2011, de apenas 1% em 2012, e de 2,3% em 2013. Para este ano, nem os mais otimistas esperam mais de 0,5% e não faltam analistas que apostam em crescimento zero.
Isso é muito mais do que uma série estatística ou uma mania de economista que não trabalha para o governo. É o cardiograma de um doente que caminha acelerado para perigoso estado de precarização. Essa situação chama a atenção do mercado e de organismos internacionais que, até recentemente, viram o Brasil surgir como um dos países emergentes de maior dinamismo. Instituições do mercado financeiro, como as agências internacionais de verificação de risco (rating), chegaram a elevar a classificação do país como destino confiável de capitais e seguro para a concessão de créditos.
Desencantadas, essas agências sinalizam com rebaixamento das notas dadas ao Brasil. Já o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não param de alertar para o fato de que a perda de fôlego do país vem ganhando dimensão preocupante, pior que a média de nossos vizinhos e das demais economias emergentes.
Na quinta-feira, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, ao comentar o último relatório sobre a economia mundial, foi clara ao colocar o Brasil entre os países que, ao caminhar mais lentamente que os demais no rumo da recuperação econômica depois da crise de 2008/2009, estão ficando para trás.
Ela não sugere nada desconhecido dos que sabem que o país precisa de nova condução da política econômica: investimentos em infraestrutura para animar a retomada do crescimento e a manutenção de programas sociais, como o Bolsa Família, para evitar o aumento da pobreza enquanto o crescimento permanecer tão baixo.
Christine, como qualquer economista atualizado, sabe que a manutenção por mais tempo de crescimento tão medíocre como o dos últimos quatro anos (em 2010, o PIB tinha crescido 7,5%) vai comprometer importantes conquistas sociais e, principalmente, colocar em risco o emprego e a renda da população. Menos de 24 horas depois, o IBGE divulgou a quarta queda mensal seguida do emprego na indústria brasileira.
O que a chefe do FMI não disse é que, se a retomada do crescimento depende dos investimentos em infraestrutura e na ampliação dos negócios, nada vai sair do lugar enquanto persistir a falta de confiança na política econômica e a perda da credibilidade do governo, que tem abusado do improviso na política de incentivos e da criatividade na administração fiscal.
11 de outubro de 2014
Editorial Correio Braziliense
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